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PFW outono/inverno 2024 | Em Paris, explora-se arte e artifício

07 Mar 2024
By Pedro Vasconcelos

Acima, Christian Dior FW24

Na capital francesa o fashion month chega ao fim. Entre estreias antecipadas e coleções surpreendentes, a semana mais importante da indústria não dececionou.

Se há algo que a Semana de Moda de Paris entende é que a indústria é simultaneamente uma arte que se aperfeiçoa e um circo que se assiste. Nesta estação tivemos de tudo, desde o chão palpitante de Courrèges ao nevoeiro dramático da Mugler, com tempo para a (ironicamente viral) proibição de telemóveis em The Row. Mas nada angaria tanta atenção mediática como uma coleção de estreia. Em Paris, houve duas que se destacaram, com resultados quase diametralmente opostos.

Mugler FW24
Launchmetrics Spotlight

Na Alexander McQueen, Seán McGirr produziu a sua primeira coleção. O designer irlandês é o primeiro “outsider” a liderar a marca. Após a trágica morte do seu fundador, Sarah Burton, o seu braço direito, assumiu controlo durante mais de uma década. Após a sua desgostante saída, começa uma nova era na McQueen. Com experiência prévia na JW Anderson, McGirr enfrentava uma tarefa difícil. Afinal, o carinho que a maioria nutre por Alexander McQueen é intenso. Foi exatamente por esta razão que o irlandês decidiu canalizar a energia das primeiras coleções do designer britânico. As referências a coleções como The Birds manifestaram-se frequentemente, mais notavelmente no look de abertura: um vestido que envolvia o corpo da modelo num mar de seda preta. Minivestidos adornados com cristais esmagados equilibram o arrojado com o comercial. Sapatos feitos para imitar cascos seguem a tradição de calçado peculiar da marca. Mas, ainda que a inspiração fosse concreta, a edge idiossincrática da marca esteve ausente, substituída por uma extravagância colorida que revela os antecedentes profissionais de McGirr. Malhas gigantes encapsulam o corpo, replicando gigantes rodas de um carro, têm uma aura de Jonathan Anderson. Vozes nas redes sociais estavam prontas para sacrificar McGirr, magoadas com a mudança numa marca tão adorada. Ainda assim, é mais que normal que o designer estabeleça os códigos da sua versão de McQueen. Coleções de estreia são sempre difíceis de interpretar, especialmente tendo em conta que o designer confessou ter uns meros três meses para preparar a coleção. Com sorte, quando outubro chegar, a sua visão estará um pouco mais apurada. 

Alexander McQueen FW24
Vogue Runway

Na Chloé, também tivemos direito a uma primeira coleção, desta vez com uma reação completamente diferente, tanto da audiência como por parte de críticos. Após a saída dançante de Gabriella Hearst, Chemena Kamali assumiu a direção criativa da maison, com planos de retornar a marca às suas origens — uma intenção demonstrada pela mudança do logotipo para a sua versão original. A designer alemã começou a sua carreira na Chloé, sob a direção de Phoebe Philo. Inspirada pela direção de Karl Lagerfeld da marca, Kamali criou uma coleção que colocou o boho de volta no chic. Os clássicos da marca estavam todos presentes: de vestidos compridos repletos de folhos e renda até a casacos de cabedal boxy em tons neutros. A estreia de Kamali foi recebida de braços abertos. Até mesmo as suas decisões mais kitsch, como cintos dourados que escreviam “Chloé” nas cinturas das modelos, foram elogiadas online. Mas a coleção de outono/inverno 2024 da maison é mais que divertida, é inteligente. Prevendo o ciclo das tendências na Moda, Kamali antecipou-se ao retorno do boho chic de uma forma refrescante.

Chloé FW24
Launchmetrics Spotlight

Tanto Chanel como Saint Laurent, inspiraram as suas coleções nos fundadores das suas maisons. Para a primeira, Virginie Viard transportou os seus convidados para Deauville, a pequena vila costeira onde a então milliner, Gabrielle “Coco” Chanel, passou de produzir chapéus a começar uma revolução na indústria da Moda. Replicando o passadiço na praia de Deauville, Viard criou uma coleção inspirada pelos primeiros dias da Chanel, com direito a todos os clássicos — de conjuntos de tweed a calças elegantes. Mas o destaque da coleção foi a seleção elegante de chapéus. Também Anthony Vaccarello se inspirou em Yves Saint Laurent para a sua coleção de outono/inverno 2024. Em 1966, o fundador da marca apresentou a sua primeira blusa transparente, revelando o peito da modelo que a vestia na passerelle. Este ato, revolucionário para a época, foi replicado em 48 looks que encapsulam este espírito. Ainda que inspirado no monsieur Saint Laurent, Vaccarello admite que as suas transparências não ambicionam ser revolucionárias, mas sim representantes do instinto de desaparecer. Compondo mais de dois terços da coleção, as transparências foram complementadas com elegantes casacos — afinal, não deixa de ser uma coleção para a estação fria. Por sua vez, Maria Grazia Chiuri baseou a coleção outono/inverno da Christian Dior na irmã do fundador, a Miss Dior, com looks que soletraram a fonte da sua inspiração em vestidos, casacos e saias. 

Chanel Backstage | Saint Laurent by Anthony Vaccarello FW24 | Christian Dior FW24
Acielle | Launchmetrics Spotlight | Launchmetrics Spotlight

Os cenários desta estação foram particularmente interessantes. Afinal, se há algo que os franceses compreendem é que Moda também é entretenimento. Na Hermès, a maison trouxe a chuva que inundava a capital francesa para dentro do seu desfile. Modelos desfilavam calmamente à volta de uma instalação que replicava chuva torrencial. No entanto, a marca recusa-se a apoiar-se em truques, apresentando uma coleção que renova a mulher Hermès. Com um foco óbvio em cabedal, o diretor criativo Nadège Vanhee, apresentou uma coleção tão elegante como sexy, com looks que abraçaram o corpo de forma provocadora. As peças clássicas da Hermès tiveram direito a uma makeover urbana, com casacos de cabedal moto. A dedicação ao seu savoir-faire foi óbvia, com a apresentação de acessórios que, como sempre, foram excecionais.  Na Louis Vuitton, Nicolas Ghesquière celebrou uma década na liderança criativa da marca. A coleção foi sentida como uma celebração, com referências aos momentos mais decisivos do seu tempo ao elmo da maison. De saias volumosas a casacos interessantes, Ghesquière relembrou a sua audiência da razão do seu contínuo sucesso. E assim, mais uma vez, acaba o mês mais entusiasmante (e exaustante) do ano, isto é, até ao próximo fashion month. Já começámos a contagem decrescente. 

Hermès FW24 | Louis Vuitton FW24
Acielle | Launchmetrics Spotlight

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