Riley Keough no desfile da maison Chanel
Após um mês de preparação, chegámos ao epicentro da Moda: Paris.
Com tanto alívio como tristeza, anunciamos o fim do fashion month. Após um mês marcado por altos tão eufóricos e baixos tão surpreendentes, temos finalmente a oportunidade de respirar. O clímax foi sentido de forma intensa. Entre o retorno de lendas às incertezas que continuam a pairar na indústria, mal temos tempo de entender o que se está a passar antes que a próxima notícia seja exposta. Paris é terreno fértil para todo o género de rumores possíveis. Dos designers que entram e saem das maisons com a rapidez de uma microtendência, às fofocas do comportamento das personagens mais conhecidas da Moda: tudo se sabe e nada se entende. Mas, em vez de nos focarmos neste eterno moinho de rumores, falamos no que sabemos: Moda.
Começamos por um dos pontos mais altos da semana: Saint Laurent. Não que seja surpreendente— Anthony Vaccarello tem feito um trabalho excecional como diretor criativo da marca. Há estações que o designer faz alusões a alguns dos momentos mais revolucionários do fundador da maison: das transparências, aos casacos safari. Mas, nesta estação, Vaccarello foi direto à fonte da sua inspiração: o próprio Yves Saint Laurent. Catalisado por uma entrevista em que o icónico designer se pronuncia como a imagem da mulher YSL, Vaccarello baseou a primeira metade da coleção primavera/verão 2025 neste momento. Os fatos foram de comer e chorar por mais. Com ombros fortes e silhuetas poderosas, os blazers da Saint Laurent não são sensuais, são imponentes. Este era o propósito de Vaccarello, não apelar à sexualidade de uma mulher, mas ao seu poder. Um dos momentos altos da coleção — e certamente um dos mais virais da Semana de Moda— foi o retorno de Bella Hadid à passerelle após quase dois anos de ausência.
Saint Laurent by Anthony Vaccarello SS25
Mas se é de retornos que queremos falar, não há como deixar de mencionar um dos momentos mais antecipados, não só da semana, como do mês: o renascimento de Alessandro Michele. Após a sua partida da Gucci há quase dois anos, o rei do maximalismo retornou ao calendário oficial. E, de facto, já estávamos com saudades. Entre as propostas minimalistas tingidas de recession core que têm definido a indústria em estações recentes, foi eufórico ver o maximalismo de Michele. Mas, ao contrário de expetativas maliciosas, o designer não se limitou a impor o seu estilo idiossincrático na Valentino. Em vez, Michele reverteu ao extenso legado do Sr. Valentino. Ao analisar os seus designs dos anos 60 e 70, o novo diretor criativo encontrou uma linguagem comum. Sim, foi maximalista, mas não foi só Michele, foi Valentino: dramáticos vestidos transparentes encheram-se de folhos e bordados delicados enfeitaram camisas relaxadas. A elegância da marca italiana foi omnipresente ao longo de 85 looks.
Valentino SS25
Mas, neste jogo de cadeiras da Moda, o que acontece quando a música pára e ninguém se senta? Bem existem aquelas marcas que, de momento, se encontram num limbo. Antes que o próximo diretor criativo seja anunciado e após a saída do último, estas são responsabilidade das equipas de design das suas respetivas maisons. Claro que isso não significa que a qualidade criativa se reduz. Olhe-se a título de exemplo a Chanel que produz a sua segunda coleção interina após Alta-Costura. Ainda que sem diretor criativo, esta estação marcou o retorno da marca à sua “casa”: o Grand Palais. Após quatro anos de reconstrução, parcialmente financiada pela Chanel, a maison volta a apresentar a sua coleção onde pertence. O que primavera/verão 2025 provou foi que, mesmo sem um maestro para liderar a orquestra, o legado da marca é suficiente para a sustentar criativamente. Nesta estação, os códigos da marca foram reconsiderados em formas joviais, Os clássicos sets de tweed tiveram makeovers em pastéis doces e silhuetas irreverentes.
Chanel SS25
Também Dries Van Noten se encontra nesta situação peculiar. Não podíamos deixar de mencionar a marca que após a saída do seu fundador na estação passada, apresentou uma coleção impecável que, ao apelar à narrativa de Van Noten, a expande. Confessamos até que ficámos emocionados quando a equipa de design inteira veio à passerelle no final do desfile. A relação de família foi palpável nos seus olhares.
Dries Van Noten SS25
Mas, se o jogo das cadeiras é cansativo de acompanhar, existem pelo menos aquelas maisons fidedignas que sabemos com as quais podemos sempre contar. Louis Vuitton é certamente a que mais se destaca. Após a celebração do seu 10º aniversário na marca na estação passada, Nicolas Ghesquière volta a criar uma coleção tão complexa como única. A partir de um ponto de partida invulgar, o renascimento, o designer desenvolveu casacos baseados no período histórico: mangas fluidas e peplums que voavam à medida que as modelos andavam na passerelle. Claro, esta não era apenas um passadiço normal— é de Louis Vuitton que falamos. A passerelle, que até ao começo do desfile parecia ser apenas um tapete com um padrão da bagagem da marca, magicamente subiu à medida que as luzes se acenderam. O que revelou foi uma plataforma composta a partir de milhares de malas de viagem da Louis Vuitton. Este chão sagrado foi abençoado com os costumes truques de Ghesquière: biker shorts contrapuseram-se às blusas renascentistas, blazers reminiscentes dos anos 80 foram incrustados de cristais. As carteiras que acompanhavam cada look foram igualmente deliciosas. De carteiras em formato de leque a reinvenções de clássicos como uma soft trunk completamente cristalizada, as ofertas de acessórios são suficientes para entender porque é que a maison é a líder na indústria de luxo.
Louis Vuitton SS25
Não é possível falar de Louis Vuitton sem falar de Christian Dior, as duas são as joias na coroa da LVMH. Para esta estação, Maria Grazia Chiuri partiu de um ponto comum à sua abordagem: a admiração feminina. Desta vez, a designer combinou a estética grega com a simbologia das Olimpíadas que continua presente na capital francesa. Estes dois pontos de inspiração concretizam-se perfeitamente na performance que abriu o desfile, onde a arqueira e artista Sagg Napoli disparou as suas setas no meio da passerelle. As suas propostas misturaram uma imagem de Diana com a forma como as mulheres se vestem nos dias que correm. Camisas brancas foram distorcidas para que se pendurem apenas num ombro, e elementos desportivos, como motor jackets, receberam uma makeover que só a Dior poderia concretizar.
Christian Dior SS25
E finalmente, antes de terminarmos a nossa cobertura do fashion month, não podíamos deixar de mencionar alguns dos desfiles que, ainda que não pertencentes às titânicas maisons previamente mencionadas, não deixam de ser entusiasmantes. Primeiro, Lacoste que, sob a liderança de Pelagia Kolotouro tem concretizado movimentos concretos dentro do espaço de Moda de luxo. Inspirada pelo fundador da marca, a designer criou uma coleção tão flirty como elegante. Ao combinar os elementos desportivos da marca e, de alguma forma, lhe dar um twist dos anos 60, Kolotouro encontrou uma fórmula de sucesso.
Lacoste SS25
Também Peter Do, o designer vietnamita-americano que tomou as rédeas da Helmut Lang apresentou uma coleção particularmente iluminada. Inspirado pela sua identidade, Do decidiu olhar não para as silhuetas clássicas, mas para métodos artesanais de produção de roupa. Com um claro ênfase em técnicas de tinturas, o designer criou peças extraordinárias que, ainda que dentro do seu estilo, refletiram um catalisador interessante.
Peter Do SS25
Calamo-nos finalmente com Schiaparelli, que apresentou a sua coleção de pronto a vestir no princípio da semana. Não conseguimos não mencionar a marca que está tão próxima do coração de todos os verdadeiros amantes de Moda. Ao contrário das suas coleções de Alta-Costura, que angariam sempre uma admiração geral, as coleções de pronto-a-vestir recebem menos atenção do que sentimos que é aceitável. Esta estação Daniel Roseberry preocupou-se em entender esta distância e tornou a experiência de pronto-a-vestir o mais próximo de couture possível. A mistura foi concretizada a partir de silhuetas “normais”— uma t-shirt branca, um polo creme— que foram transformadas através de detalhes minuciosos como corpetes complexos. Todas as peculiaridades à Schiaparelli estiveram presentes: os acessórios cravejados de símbolos surrealistas dourados, partes do corpo replicadas da forma mais camp possível e, como não podia deixar de ser, sinais de um savoir faire impossível de replicar.
Schiaparelli SS25
Pronto, agora é que é, já nos calámos. Descanse-se, tem se até Janeiro até se ler mais dos nossos discursos obsessivos.
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