O estúdio revolucionou filmes de animação, tanto através da sua tecnologia, como pelas suas histórias. Sãos 36 anos a dar animação às nossas vidas.
O estúdio revolucionou filmes de animação, tanto através da sua tecnologia, como pelas suas histórias. Sãos 36 anos a dar animação às nossas vidas.
Toy Story, 1995. © via IMDb
Toy Story, 1995. © via IMDb
Desde o lançamento do revolucionário Toy Story, em 1995, a Pixar Animation Studios tornou-se o standard em termos de animação ocidental. Ao longo de 36 anos produziu mais de duas dezenas de filmes, cada um com mais sucesso que o anterior. O estúdio conta com 23 Oscáres, 10 Globos de Ouro, 11 Grammys, assim como incontáveis nomeações, e é responsável pela criação do cânone de animação feita em computador. Os seus méritos estendem-se muito além da cinematografia, responsáveis pela criação da tecnologia que possibilita a animação que concretizam.
A história da Pixar inicia-se em 1979, muito antes do estúdio ser estabelecido, antes até de ter o nome pelo qual todos o conhecemos. George Lucas, famoso pela saga Star Wars contrata uma equipa de informáticos no sentido de desenvolver tecnologia para revolucionar a animação feita por computador na indústria cinematográfica. Mas só passados quatro anos, em 1983, é lançado o que é tecnicamente a primeira curta-metragem desta equipa. Ainda que esta só tenha dois minutos e seja, pelos standards de hoje, extremamente primitiva, foi pioneira em Hollywood. Foi a primeira instância de animação de personagens feita através de computação gráfica.
Pixar só se tornou Pixar via de Steve Jobs. Lucas vende os primórdios do estúdio de animação ao magnata tecnológico em 1986, momento a partir do qual é batizado com o nome pelo qual é conhecido globalmente. Jobs ocuparia a posição de diretor executivo do estúdio até 2006, e foi sobre a sua alçada que os estúdios criaram algumas das suas personagens mais basilares, começando pela sua mascote. O icónico candeeiro que se vê no inicio de todos os filmes criados pelo estúdio é o protagonista de uma curta-metragem intitulada Luxo Jr, a primeira a ser lançada com o aval de Jobs. Foi também o primeiro filme CGI nomeado a um Óscar.
Não se pode falar do verdadeiro impacto que Pixar teve na cultura de animação atual até se mencionar a Disney. As duas empresas iniciaram a sua relação colaborativa em 1991, com apenas um filme feito em animação computacional encomendado. Ao final de quatro anos chegou um dos maiores sucessos dos dois estúdios, Toy Story, o primeiro filme da Pixar de longa-metragem. O filme teve um extraordinário sucesso, tanto criticamente, como comercialmente. Com a maior bilheteira do ano de 1995, Toy Story foi nomeado para quatro Óscares, entre os quais Melhor Argumento Original, a primeira vez que um filme de animação foi considerado pelo seu guião.
Após o sucesso devastador de Toy Story, a Pixar e a Disney concordaram em criar mais cinco longa-metragens ao longo de uma década. Nascido deste acordo vieram sucessos inacreditáveis para ambos os estúdios, como Finding Nemo, The Incredibles e Monsters, Inc. A criação de personagens e narrativas tão reconhecidas globalmente iniciou a famosa disputa entre os dois titãs de Hollywood. Acusações, processos judiciais, acordos litigiosos, as negociações tumultuosas prolongaram-se durante anos, sempre com muito pouco sucesso. As hostilidades debatiam-se sobre um pouco de tudo, desde direitos do uso de personagens a custos de produção, os argumentos para trás e para a frente pareciam intermináveis. Os conflitos só seriam resolvidos pela eventual compra da Pixar por parte da Disney.
A decisão veio por parte do executivo Robert Iger, presidente da Walt Disney Company, que, ao observar um desfile na Disneyland de Hong Kong, teve uma revelação: todas as personagens no desfile criadas nos últimos dez anos eram criações do estúdio da Pixar. Isto significava que, caso os procedimentos litigiosos acabassem numa separação total entre as duas empresas, Disney perderia uma parte considerável do seu património. A compra assegurou uma verdadeira fusão, a Pixar não foi engolida pela máquina colossal que é a Disney, ficou relativamente independente dentro da esfera da empresa. Após a junção o sucesso continuou a ser o standard de filmes Disney Pixar, com títulos como Up, Cars, Wall-E e Inside Out a marcar a próxima década do estúdio.
O triunfo do estúdio de animação não parece estar a desacelerar, aliás a inovação tecnológica nos canais de distribuição dos filmes parece estar apenas a globalizar cada vez mais a sua popularidade. A plataforma Disney+ foi essencial para a difusão dos filmes em tempos de crise pandémica. Sucessos como Luca e Soul não foram lançados nos cinemas de todo, exclusivos à plataforma de streaming. Esta tendência em muito diverge do fenómeno straight to DVD, uma medida tomada por estúdios quando a sua fé no sucesso de um projeto era diminuta. Aliás Soul, lançado em no Natal de 2020 ganhou o Óscar para Melhor Filme de Animação na 93ª edição do certame e Luca está nomeado para a mesma categoria na edição deste ano.
O papel inovador que a Pixar teve na indústria cinematográfica em muito se deve ao seu papel no avanço tecnológico da mesma. Muito antes da sua primeira longa-metragem ver a luz do dia, a Pixar passou anos a criar tecnologia que criasse computação gráfica credível para audiências. O software, intitulado de RenderMan, coleciona os diversos efeitos, movimentos e simulação num só fotograma, criando as imensamente detalhadas cenas dos filmes. Detalhes como o reflexo nos olhos das personagens são a norma que o estúdio criou, tudo através deste programa, uma tecnologia que se tornou um segredo da indústria, utilizado em inúmeros filmes, desde Star Wars até Lord of the Rings.
Os trunfos na manga do icónico estúdio de animação não se restringem às suas capacidades tecnológicas. Durante a década de 90, o estúdio desenvolveu o seu célebre processo de desenvolvimento criativo, conhecido por Pixar Braintrust. Neste, realizadores, escritores e artistas reúnem-se para apresentar ideias e projetos para aprovação de todos. É uma estratégia que é demarcada pela honestidade, isto é, pela bruta honestidade crítica de todos os envolvidos. Conhecido pela sua impetuosidade, o método é uma quebra do molde seguido pela maioria dos estúdios de Hollywood, que se rege por escolhas e decisões de empresários que controlam as produções financeiramente, ao invés a Pixar toma decisões baseado nas opiniões dos cineastas de diferentes projetos. A Brainstrust permite ainda que talento jovem, usualmente mudo na indústria, tenha a oportunidade de florescer e crescer enquanto profissionais. Apesar da sua abordagem, o estúdio durante muitos anos sofreu o mesmo mal que o resto de Hollywood, de homogeneidade racial. No entanto esta tendência parece estar a mudar, filmes como Soul, Coco ou Turning Red, focam-se em culturas de minorias marginalizadas. Através das narrativas destes aprofunda-se a noção que visibilidade e representação social em personagens em nada dissuade a empatia que as audiências sentem.
Coco, 2017
Coco, 2017
Mas o que mais marca a Pixar não é a sua inovadora tecnologia, nem tão pouco a abordagem estratégica, mas sim a forma como apela emocionalmente a audiências que muito ultrapassam a que seria expectável. As narrativas do estúdio de animação não são superficiais como era a norma para os “filmes de criança” (um termo usado muito vagamente). As histórias que Pixar conta são extremamente complexas, analisando emoções e situações solenes. A morte costuma estar no centro das suas ficções, tanto literal, em filmes como Finding Nemo, como metaforicamente em Inside Out. A Pixar estuda intimamente a beleza na melancolia humana, em narrativas simples o suficiente para que uma criança possa entender, mas simultaneamente aprimoradas para pessoas que compreendem a metáfora da mudança intrinsecamente. Ao revelar a profundidade inerente das emoções humanas, os filmes da Pixar empatizam todos aqueles que os encontram. O impacto do estúdio de animação é mais precisamente encontrado na educação emocional que deu, e continua a dar, a todos aqueles que têm a sorte de crescer com os seus filmes.
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