Nora Danielson fotografada por Élio Nogueira e com styling de Sandra Benbaruk para o The Nonsense Issue da Vogue Portugal, publicado em julho de 2001
Estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal pode tornar o regresso ao escritório muito mais agradável.
Toda a gente já sentiu, em algum momento, a necessidade urgente de se desligar das redes sociais, das notificações e dos WhatsApps. Tanto assim é que a empresa que fabrica os telemóveis Nokia lançou no mercado um telemóvel “tonto” - por oposição aos smartphones - com o qual podemos telefonar, receber chamadas, enviar SMS e pouco mais, mas que causou grande impacto. O desejo de reduzir a nossa vida digital e de regressar a tempos mais simples é ainda mais evidente quando regressamos de férias e, se formos um daqueles sortudos que puderam - sabiamente - desligar-se durante algumas semanas, podemos sentir-nos ainda mais assoberbados do que o habitual pela sobrecarga de informação e pelos múltiplos estímulos digitais. “Os nossos estilos de vida são marcados pela pressão de sermos altamente produtivos sem parar durante todo o ano. Por isso, não é de estranhar que, quando voltamos à rotina, nos sintamos sobrecarregados para retomar o ritmo acelerado, lidar com a carga de trabalho acumulada e lidar com a culpa de termos desconectado durante as férias”, diz Silvia Adriasola, coach especialista em liderança e empoderamento feminino. “Estabelecer limites é essencial para prevenir o burnout, evitar a frustração de querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, atenuar a ansiedade e o stress perante o excesso de responsabilidades e manter os hábitos saudáveis que adquirimos nas férias, essenciais para a nossa estabilidade emocional, saúde física e mental e até para melhorar a nossa produtividade a longo prazo”, diz a especialista.
Um em cada três espanhóis diz que a sua empresa não tem políticas de desconexão digital quando sai do trabalho e nas férias, enquanto 38% confessam não ter tais políticas e 16% dizem que têm uma política de desconexão no trabalho, mas que não é cumprida, como indicado no último Employee Benefits Trends Report da Cobee. Mas há mais, porque, de acordo com o Study of HR Challenges and Trends 2024 da Pluxee, quase 80% dos trabalhadores [espanhóis] deixariam de considerar uma mudança de emprego se o direito à desconexão digital fosse respeitado na sua empresa.
Para Adriasola, é essencial que as empresas tomem medidas para motivar os funcionários no regresso das férias. “O regresso ao trabalho após um período de descanso pode ser difícil para algumas pessoas. Com uma abordagem correta, é possível evitar que a sua motivação diminua. Algumas sugestões podem ser: dar ênfase ao trabalho flexível, oferecendo, por exemplo, opções de trabalho híbrido ou remoto, sempre que possível. O horário de trabalho flexível pode também ser um grande incentivo para um regresso gradual; promover um início calmo e encorajar a comunicação, incentivando as equipas a partilharem as suas experiências durante as férias para facilitar a transição, reforçando assim o sentido de comunidade e o espírito de colaboração; otimizar a compreensão, perguntando às pessoas como se sentem no trabalho, o que demonstrará que valorizamos o seu bem-estar; dar significado ao trabalho diário para criar um sentido de propósito e um compromisso duradouro, incentivando a comunicação, estabelecendo metas e objetivos alcançáveis e realistas e reconhecendo um trabalho bem feito”, recomenda.
Mas a desconexão digital não depende apenas das empresas, os colaboradores também têm que fazer a sua parte porque, apesar de estarmos cada vez mais conscientes da importância de desconectar, muitas pessoas ainda atendem chamadas, e-mails ou WhatsApp fora do horário de trabalho. “Para facilitar a transição de regresso das férias e manter o controlo, podemos aplicar algumas estratégias. É importante incorporar alguns benefícios adquiridos durante o tempo de descanso, como implementar uma pequena rotina de exercício ou desfrutar do pequeno-almoço levantando-se um pouco mais cedo. Também é importante estabelecer ordem e clareza; a sensação de controlo que a ordem nos dá traz-nos bem-estar, aumenta as nossas capacidades e optimiza a utilização do tempo. Devemos abordar as tarefas de forma agrupada, o que nos permitirá manter a concentração e otimizar a atenção. Para além disso, é preferível começar pela tarefa mais difícil. A técnica 1-3-5 diz-nos que a produtividade não é um jogo de volume de tarefas, mas um jogo de tarefas corretas. Por fim, reflita, avalie e optimize; certifique-se de que dedica algum tempo todas as semanas a rever a forma como se sente em relação ao seu volume de trabalho e optimize as suas estratégias, se achar necessário.
Existe uma diferença de género na desconexão digital?
“De acordo com o último relatório InfoJobs sobre desconexão digital, o perfil que menos se desconecta é o masculino, com idade entre 45 e 65 anos, com um cargo de responsabilidade e mais de cinco anos na empresa. No que respeita às mulheres, estas sentem-se mais obrigadas a responder (51%), enquanto a falta de desconexão nos homens se deve mais às exigências do próprio trabalho (39%)”, salienta Adriasola. “Algumas diferenças que acentuam a diferença de desconexão digital entre mulheres e homens referem-se ao facto de as mulheres tenderem a estar mais ligadas digitalmente devido aos papéis de cuidadoras e outras responsabilidades, o que pode dificultar a nossa desconexão durante as férias (Universidade de Uppsala, na Suécia); além disso, sentimos frequentemente uma maior pressão social para estarmos disponíveis, o que pode ter um impacto na nossa capacidade de nos desconectarmos do trabalho (Harvard Business Review). E há mais, porque temos tendência para nos sentirmos culpadas por não estarmos disponíveis para o trabalho, mesmo durante as férias, em comparação com os homens, que têm frequentemente menos pressão sobre a sua disponibilidade (Gallup). Por último, as mulheres lidam com o stress do trabalho de forma diferente, procurando apoio social, o que nos torna mais susceptíveis a interrupções digitais durante os nossos dias de folga (Labor Studies Institute)”.
Traduzido do original, disponível aqui.
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