As palavras, as frases, a imensidão branca do silêncio num presente de imagética estilhaçante. O livro foi sempre o filão humano no tempo, e hoje, por entre o narcisismo infinito das redes sociais, há uma primavera de leituras a florescer da terra mais inesperada.
As palavras, as frases, a imensidão branca do silêncio num presente de imagética estilhaçante. O livro foi sempre o filão humano no tempo, e hoje, por entre o narcisismo infinito das redes sociais, há uma primavera de leituras a florescer da terra mais inesperada.
Corridas à biblioteca, à livraria, prateleiras e prateleiras de capas, abrir, fechar, folhear; o folhear ininterrupto, supersónico, de páginas e páginas, como se a circulação do próprio sangue dependesse da brisa química do papel impresso. O ódio e a maldição das leituras obrigatórias na escola, a envolvência de todo o corpo à primeira paixão em página, as descobertas, as surpresas, a obsessão e a cura. Um livro é um pedaço do corpo para sempre, tão vivo e real como a fotografia antes do digital. Ou da música antes do digital. Ou da vida antes do digital. A mecânica dos tempos pode ter-nos atirado para um mercado de peças em pedaços e, com ele, o correspondente consumo da informação, mas a humanidade encontrará sempre a salvação no caos. Ou é demasiado bonito acreditar que sim, pelo menos.
Ainda que ninguém nos livre de testemunhar a total ausência sensorial nos transportes, onde o tempo é corroído por polegares em constante intermitência nos ecrãs, ou por telefonemas de conteúdo egoísta, o caminho para a plenitude parece levar-nos de volta a um passado que tem ganho espaço neste futuro. Twitter e Instagram – os altares-mores da existência individual em 2018 – estão na fila da frente do virar de página.
A lógica e o bom senso alinharam-se estrategicamente para criar um novo fenómeno que, aos poucos, se vai engolindo a si próprio e vencendo em tamanho, em culto, em alcance, e que abre caminho à verdadeira democratização dos leitores como beneficiários das duas faces da moeda: a existência online e a possibilidade de repartir um livro com o seu objeto de adoração, dito celebridade.
Os celebrity book clubs, ou clubes literários de celebridades, são uma das tendências da atualidade. Mas não estamos a falar unicamente do romance vitalício de Emma Watson com livros ou do selo de aprovação de Oprah Winfrey e do seu Oprah’s Book Club como propulsor de qualquer pedaço de escrita ao estatuto estratosférico. Há, numa linha espaciotemporal paralela, outros caminhos de recomendação a surgir com o mesmo entusiasmo. E os nomes de sempre – música, grande e pequeno ecrã incluídos – ganham cada vez mais poder sobre aquilo em que nos andamos a debruçar na leitura.
@betweentwobooks
É a incursão galáctica de Florence Welch (Florence+The Machine) pelo Twitter, Instagram e Facebook em busca de companhia literá-ria. Recomendações, debates, novos lançamentos, o kit book club que Hollywood nos desenhou na memória existe, está aqui, com a opção sofá e chá incluída. Entre os 13 mil seguidores no Twitter e os 89,5 mil no Instagram há nomes conhecidos e um feed atualizado semanalmente. Em leitura: The Empathy Exams, de Leslie Jamison.
@belletrist
É o alter ego de recomendação literária de Emma Roberts num Instagram dedicado inteiramente aos livros e partilhado com Karah Preiss. Roberts é uma consumidora compulsiva de livros e aproveita os quase 12 milhões de seguidores para dar a conhecer tudo o que faz quando o assunto é ler. A página tem paralelamente uma morada autónoma na Internet em Belletrist.com onde é possível subscrever a newsletter, comprar obras com descontos e ficar a saber a seleção de livrarias a visitar da atriz. Em leitura: The Ghost Notebooks, de Ben Dolnick.
@devendrabanhart
Se o assunto for entradas meritórias, Devendra Banhart chega à lista sem grandes dificuldades. O músico e artista norte-americano tem, entre a genialidade lírica e a definição de coolness, um feed de Instagram constante sobre o que lhe preenche as preferências de leitura. As recomendações sucedem-se por entre as fotografias de episódios quotidianos com amigos, posts de criações próprias e recordações de trabalho. Palavras e imagens preenchem The Book of Formation, de Ross Simonini, A Measure of Silence, de Beacham e o mais recente Repentant Monk, edição de Julia White.
@reesesbookclubxhellosunshine
Walk The Line, Big Little Lies, Mud ou Inherent Vice são algumas das razões para a considerar uma autoridade em escolhas de carreira. Mas Reese Whiterspoon é, também, uma bookaholic com todos os prós inerentes à causa e decidiu partilhá-lo com a Internet, mais concretamente com a base de seguidores no Facebook e Instagram, com o último a dar origem ao seu próprio hashtag #rwbookclub, mais tarde transformado em página @reesesbookclubxhellosunshine. Em leitura: Erotic Stories For Punjabi Widows, de Balli Kaur Jaswal.
@sarahjessicaparker
Há poucos estatutos de leitura online como aquele que Carrie Bradshaw, perdão, Sarah Jessica Parker, conseguiu assegurar. A atriz mantém um hábito de leitura regular desde criança que, com o tempo, se tornou uma paixão séria e o resultado é um feed de Instagram digno de true bookaholic, com recomendações constantes, e uma posição de presidente honorária do @bookclubcentral onde existe uma rubrica dedicada inteiramente às suas preferências. Bookclubcentral.org/sjp-picks é o sítio a procurar se o assunto for livros. Em leitura: Anatomy of a Miracle, de Jonathan Miles.
@sophiabush
Ativismo e literatura de mãos dadas numa viagem infinita de recomendações e bom gosto. Sophia Bush não se move na mesma linha de números das anteriores, mas a mensagem chega com a mesma força. A atriz e ativista tem ganho destaque no Instagram com um número crescente de seguidores entre mensagens de poder no feminino e reivindicação e foi a jurada especial de março da página @bookofthemonth. Em leitura: The Last Equation of Isaac Severy, de Nova Jacobs.
Artigo adaptado da edição de abril 2018 da Vogue Portugal.
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