O ateliê da Ceagagê fica num bairro catita no Poço dos Negros. Lá dentro, o mundo da joalheira é como um Pavilhão Chinês de coisas bonitas.
O ateliê da Ceagagê fica num bairro catita no Poço dos Negros. Lá dentro, o mundo da joalheira é como um Pavilhão Chinês de coisas bonitas que vão das suas peças estrategicamente dispostas em cima de revistas Vogue e I-D, a sapatos Manolo Blahnik, robes em seda e casacos de pelo, bolas de espelhos, vinho da Madeira e um sorriso maior.
A primeira joia. Dois anéis pequeninos que a minha tia me deu. Quando és miúda tens sempre aquela coisa de não usar ouro, achas sempre um bocado foleiro, mas há uma determinada altura em que começas a querer imenso. Eu lembro-me de ela mos dar e para mim ser a melhor coisa do mundo. São de ouro, lindos. Eu vou colecionando tudo, as escravas que a minha avó me deu, esta cruz que era da minha bisavó, estou com a família toda aqui.
A peça mais antiga. Tenho imensas T-shirts, que agora me ficam todas justinhas, são da Benetton e da Morgan, que voltei a usar muito. Aquele roupão às bolinhas era da minha bisavó. Mas a mais antiga deve ser mesmo o meu porta-moedas. Era da minha mãe. Já tentei ter outros, como aqueles da Comme des Garçons que toda a gente usava, mas acabava por perder e volto sempre a este.
O que mais veste. São superpeças XL. A minha roupa vai sempre bater ao armário do meu irmão, os meus pulloverseram todos do meu avô, as camisas eram do meu pai ou de ex-namorados, tudo de homem. E sou capaz de usar isto tudo com uns saltões, só um pullover de lã e uns saltos.
A peça com maior valor sentimental. A cruz de ouro oferecida pela minha madrinha que pertencia à minha bisavó.
O produto de beleza. BB Cream da Estée Lauder. Todos os dias. É impensável, hoje em dia, não o usar. Percebi isso quando fiz 30 anos: já não é maquilhar para ficar melhor, é essencial. À noite, sombra castanha e lápis castanho nos olhos. Nunca usei rímel na vida.
A música. O meu gosto musical é altamente datado no sentido em que é tudo anos 70 e até anos 80, rock, Patti Smith. Depois há músicas soltas, da M.I.A. adoro a Sunshowers, mas nas bases vou sempre parar ao mesmo sítio. A preferida? God only knows dos Beach Boys, Brian Wilson.
O lugar preferido para jantar. Tapadinha da Ajuda comer um bife tártaro e beber um Bloody Mary. Ponto. É um sítio certo, vou lá uma vez por mês há 12 anos, e nunca falha.
A melhor história. Não sei, mas lembro-me de uma. Trata-se de um episódio triste e feliz, ligado a uma peça de roupa que adorava. Refiro-me a um suposto pijama Marks&Spencer que comprei por 50 cêntimos numa feira, com padrão escocês azul e verde, que usava de todas as maneiras possíveis. Era a peça que eu podia pôr sempre que não soubesse o que vestir, era um vestido, era uma camisa e até uma saia, era o que eu quisesse. Ao tentar aquecer-me num aquecedor a gás que tinha no atelier (e que ainda tenho), encostei-me demasiado fazendo com que a chama apanhasse o tecido e no final não restasse mais que uma amostra rasgada do meu traje de eleição. A parte boa da história é eu ter saído viva e sem mais que uma queimadura insignificante no braço. Isto graças a um amigo meu que salvou-me a vida em prol da camisa, sorte a minha. O carimbo que falta no passaporte. Nova Iorque.
A definição de sexy. É uma conjugação de diversos fatores, tem de haver equilíbrio e tem de ser puro. Entre o feminino e o masculino.
O maior elogio. Não sei, às vezes são aqueles que nem sequer são ditos. Na verdade, o sentir-me "gostada" por alguém ou uma aprovação qualquer acabam por ter mais impacto que um elogio.
Musas. Pois, o que é que isso quer dizer, não é? Se pensar em mulheres que admiro… uma Vivienne Westwood, uma Phoebe Philo, sei lá, milhares. Uma Kate Moss. Uma Patti Smith, óbvio.Referências basilares. Fotografia - Jurgen Teller, Nan Goldin, Helmut Newton. Desgin de Moda - Jean Paul Gaultier, Yves Saint Laurent. Design de Acessórios/Joalharia - Elsa Peretti, Elsa Schiaparelli. Cinema - Pedro Almodóvar.
A peça que tenhas criado que tem melhor historia. Está ligada ao acaso. Não se trata de uma peça em particular, é uma coleção de colares que criei e que continuo a criar para a CEAGAGÊ, que nascem a partir de correntes emaranhadas, e que surgiram precisamente de um lote de correntes que comprei de tal forma emaranhadas que optei por assumir.
Um talento. Adoro Marques’Almeida, acho maravilhoso e, na minha cabeça, é novo, assim como Vetements que é assim uma coisa de morrer.
Guilty pleasure. Ai meu deus, não sei, quais são as respostas normais a uma pergunta destas? Às vezes passa uma música da Rihanna, a Love on the Brain, que eu digo a brincar: "Não aguento! É o meu guilty pleasure!" Além de que tenho umas Crocs. Comprei para um Inter-Rail, e comprei-as grandes para poder usar com meias e sem meias e com tudo. Entretanto o meu pai já as usa, o meu irmão também já as usou, e tornaram-se umas Crocs de família. Já estão cheias de dentadas dos gatos mas são sempre usadas por alguém. Mas o guilty pleasure mesmo… eu tenho. Tenho de pensar. Tenho umas coisas assim meio bimbas de vez em quando – não passa pelos vernizes de purpurinas, porque esses, acho fixes. Se calhar pelos e peles é que são o guilty pleasure. É incorreto, eu sei, mas adoro. E café e cigarros.
O melhor sítio para fazer compras. Na Kiliwatch, em Paris. Ou online, na American Apparel que fechou. Tenho imensas coisas de lá. Estas calças são de lá. Já me incendiei nelas e ainda estão aqui.
Os sapatos de sempre. As minhas texanas, que já foram ao sapateiro milhares de vezes para serem salvas, mas qualquer dia já estão para além da salvação. É que foi mesmo difícil encontrá-las. Umas texanas com atacadores em que eu não pareça o gato das botas foram uma autêntica busca.
O filme para ver vezes sem conta. Trainspotting. E Pulp Fiction. Mas depois há filmes em que esteticamente me passo, como uma Christiane F., em que ela anda com um saquinho de plástico. Porque é que eu não ando com um saquinho de plástico? Como é que eu não me lembrei de andar com um saquinho de plástico, em vez de uma carteira? Quer dizer, às vezes ando com os sacos dos capacetes como carteira, porque não consigo escolher uma carteira. Sabes quando está tudo OK e a carteira faz parecer que está tudo forçado?
Desenho. O que mais gosto de desenhar são caras, corpos. Desenho muito cego, para não me dar stress. Eu antes estava constantemente a desenhar e a julgar o meu desenho e corria sempre mal alguma coisa. Mas agora podia estar a falar contigo e a desenhar-te assim sem olhar para o papel. Depois saem assim uns macacos meio doidos.
Peça que devia ser socialmente aceitável. Uma burka. Imagina que vais a um casamento e tens aquela borbulha chata, ou que estás de ressaca… queria ter uma coisa que me tapasse a cara, assim uma burka toda incrível. Mas continua a ser um tabuzão.
Coleções. Eu coleciono tudo. Pedrinhas, tenho tudo legendado, onde e quando as encontrei, tudo. Às vezes deitar fora é uma catarse porque acabas por editar mas, na base, adoro coisas e coisinhas. A minha tia vai deitar fora uns napperons e eu grito: "Não!"
Livro que mais a marcou. Servidão Humana, Somerset Maughm.
Motas. Sou obcecada. Em Lisboa não dá para andar de outra maneira. E o meu avô também tinha, lá na Madeira, ando de mota desde os 18 anos.
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