No quarto de pé direito infinito, teto bordado a estuque e um minimalismo entre a estética nórdica e o amor nipónico, esperava-nos Marta Gonçalves.
No quarto de pé direito infinito, teto bordado a estuque e um minimalismo entre a estética nórdica e o amor nipónico, esperava-nos Marta Gonçalves, agora o único nome por detrás da HIBU. Como se toda a suavidade da vida estivesse num look em preto total.
Primeira memória de Moda. Asminhas duas avós eram ligadas à confeção, de maneiras diferentes – uma mais direccionada para o fabrico, a outra para o desenho. Esta última, a minha avó paterna, sempre disse que eu ia ser estilista, como se dizia na altura. Eu achava que não desenhava bem, mas o que ela fazia para nos incentivar era ensinar-nos a fazer roupa em papel para as bonecas. A outra fazia o mesmo, mas em tecido. Por causa delas, e apesar de sempre ter gostado mais da parte criativa, aprendi a adorar o ambiente de estúdio, do desenvolvimento até chegar à peça final. É preciso ter paciência, e às vezes a paciência é pouca, mas essa parte fascina-me porque desde cedo via a minha avó agarrar-se à máquina e queria tocar nos tecidos e transformá-los nalguma coisa que eu pudesse usar.
O ideal de beleza. O que gosto mesmo – e isso percebe-se mais através da marca do que de mim – é de uma mulher masculina, de peças oversized que eu não posso usar muito porque sou pequenina. Quando penso em beleza, imagino uma mulher super alta, super magra, com roupas largas e andróginas.
Referências. Tenho vários pólos de referências diferentes. Na parte mais masculina, a Coco Capitán, uma fotógrafa francesa; a Leandra Medine, do Man Repeller, entra na linha do crazy que mistura tudo e fica sempre bem; a Miranda Makaroff, uma ilustradora e designer de Moda espanhola; as bad girls, como a Zoe Kravitz e a Rihanna e também a Maria Van Nguyen, pela simplicidade estética e porque tem mostrado como seguir um estilo de vida simples com o foco na importância, não nas tendências.
Peça com mais significado sentimental. Podia estar a pensar em coisas fofinhas mas, neste momento, só me vem à cabeça este vestido da Karen Millen que foi uma cliente/amiga tanto da COS como da HIBU que me ofereceu. Foi a mesma pessoa que disponibilizou o rooftop da sua casa para a nossa campanha com a Rita Gonçalves e os irmãos Cabral. Chama-se Graça e é uma querida.
Acessórios. Eu tenho um problema com sapatos, como todas as mulheres. Tenho imensos. Sejam maus, bons, tudo me magoa os pés. Tenho calcanhares de velha. Se tivesse de eleger uns especiais seriam os da HIBU, que fizemos com a Joana da Graça, e foram os únicos sapatos que desenvolvemos até agora. Há duas coisas que uso para me sentir automaticamente bonita: sapatos com plataforma e brincos grandes.
O desafio de criar. É muito fácil idealizar peças conceptuais, porque vão ser estranhas e chamar a atenção, mas o desafio é encontrar o equilíbrio entre algo que consigas usar, mas que penses que é diferente de tudo o que tu já viste.
O ato de criar. Crio melhor com caos. Sou uma mulher do caos que, de vez em quando, precisa de paz. Encontro os dois aqui em casa, que está sempre cheia de gente, a entrar e a sair. Pessoas de diferentes países com quem acabo por trocar experiências e isso é uma das coisas que me faz mais feliz neste momento, enche-me a alma.
A viagem. Tóquio. Desde pequena que tenho uma paixão pelo Japão, nem consigo explicar porquê, devo ter sido japonesa noutra vida. É uma cultura totalmente diferente, à qual nem sei se me adaptaria, mas tenho muita vontade de tentar. Têm um sentido estético incrível, com muito oversized que usam e abusam e misturam.
O restaurante. Vários. Conheci há pouco tempo o Bonsai e o Miss Jappa e fiquei fã. Mas o melhor restaurante, para mim, é a casa da minha avó, onde é impossível escolher o prato preferido. Neste momento, é a açorda de marisco que já lhe estou a pedir há imenso tempo.Ler. Eu leio muito pouco, mas estou com muita curiosidade de ler O Segundo Sexo, da Simone de Beauvoir. E, se tivesse que eleger uma revista, era a Monocle.
Concerto. Eu sou do ghetto, por isso gosto de cenas do ghetto. Adorei Azealia Banks, mas o melhor e mais inesperado foi Charles Bradley no Paredes de Coura do ano passado.
A coisa preferida. Dançar. A qualquer hora. A limpar a casa. Estou sempre a dançar e acho genuinamente que se não tivesse seguido a área do design, arriscaria na dança. Cheguei a fazer parte de um grupo de hip hop, mas deixei-o porque achei que não me trazia o que eu queria: a competição. Hoje em dia, o grupo é enorme, fazem competições e ganham tudo e mais alguma coisa.
A arte no Instagram. A seguir: @maisiecousins e @stephanie_sarley.
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