A Vogue investiga a história por detrás de uma das tendências mais faladas em 2018.
A Vogue investiga a história por detrás de uma das tendências mais faladas em 2018.
©Getty Images; Indigital.tv; Instagram
Os dias invernosos são a altura perfeita para apostar num sobretudo volumoso - seja para um guarda-roupa cápsula pensado para destinos com climas mais frios, ou para tornar a sua localização atual mais confortável. Graças aos fãs de celebridades em puffer jackets (a página de Instagram @itsmaysmemes leva a tendência ao extremo) e ao poder que este casaco tem de afastar temperaturas agressivas, o inverno de 2018 viu it-girls e celebridades aconchegarem-se numa série de puffer jackets luxuosamente confortáveis.
Pillow Talk
Pense no outerwear aconchegante - ao ponto de se assemelhar à mais confortável das almofadas -, como uma abordagem no-nonsense ao luxo. Durante os meses de inverno, consegue aliviar o pior de qualquer ambiente frio - chuviscos, granizo, neve e ventos gelados incluídos. Neste estação, vimos acolchoados néon com assinatura Prada e puffers com proteção total nas propostas frias de Isabel Marant - mas a silhueta Swing de Balenciaga continua a ser, dois anos depois da sua estreia na passerelle (foi no outono/inverno 2016 que Demna Gvasalia trouxe o modelo ao reportório da Casa), a peça investimento.
O mood de elegância anárquica de Gvasalia foi verdadeiramente contagioso. O seu look mais triunfante? Um casaco vermelho descaído, com uma gola tão envolvente como um xaile, coordenado com stilettos e amarrações de cristais. Fast-forward para os dias de hoje, e todas as lojas têm as suas próprias versões dos casacos usados por exploradores nos Himalaias - tudo para satisfazer os nossos gostos práticos. Ao longo dos anos, temos vindo a usá-los com qualquer peça e conjunto, sejam jeans e ténis ou vestidos compridos e saltos altos. O caso dos puffer coats é verdadeiramente notável - quando pensamos naquilo que deve ser o ciclo de vida de uma tendência, hoje, as palavras "nano" e "micro" são as primeiras de que nos conseguimos lembrar. O panorama geral, contudo, mostra-nos que o love affair da indústria da Moda com o casaco "ederdão" é tudo menos recente.
Fashion History 101
Eddie Bauer, um explorador norte-americano, criou a primeira jaqueta em 1936, não por uma questão de estilo, mas antes por necessidade. "Ele esteve perto de perder a vida por causa de uma hipotermia, durante uma viagem de pesca em pleno inverno", explica Shonagh Marshall, uma curadora de Moda baseada em Nova Iorque. "Ele criou um casaco com penas, revestidas por um tecido acolchoado, e chamou-lhe o Skyliner". Um ano depois, em 1937, o designer Charles James revelou o seu "pneumatic jacket", um modelo "tão difícil de construir, que James previu que não teria qualquer importância na indústria da Moda", acrescenta Marshall. Ele estava, na verdade, muito perto de algo maior. Desde então, aquilo que temos visto são inúmeras reinterpretações do modelo tecnicamente desafiante, todas elas assinadas por criadores que olham para a jaqueta como algo luxuosamente único e potencialmente inovador.
Nos anos 50 e 60, o casaco acolchoado em seda (apenas usado dentro de casa) começou a tornar-se popular. Na sua essência, o modelo era um ederdão usável, não muito distante daquele que Phoebe Philo apresentou na coleção outono/inverno 2015 da Céline. Quando os anos 70 despertaram o desejo de peças de roupa pensadas para mulheres trabalhadoras, a designer nova-iorquina Norma Kamali apresentou o seu casaco Sleeping Bag (o modelo original de 1973 é vendido ainda hoje), marcando o nascimento da reinterpretação moderna do Skyliner. A versatilidade do puffer não se perdeu nas mãos dos seus seguidores mais recentes. Nos anos 90, os casacos criados por Moncler e Naf Naf aqueciam os ravers para que estes pudessem dançar ao ar livre durante toda a noite, e ofereciam o conforto necessário durante a viagem de regresso a casa.
Quando o outono/inverno de 1999 chegou, dois nomes com uma influência incontornável nos panoramas paralelos da indústria levaram a jaqueta até à era contemporânea da Moda. Estes nomes eram, sem surpresa, Maison Margiela - com uma interpretação literal do volumoso casaco "ederdão" -, e Alexander McQueen - que imaginou um modelo couture-like com uma aparência quase sobrenatural. Em termos de influenciar a proporção e a escala, o puffer coat original de Margiela entrou diretamente para os livros de história, transformando-se numa espécie de Santo Graal para os amantes de peças vintage. O que acharia Eddie Bauer de tudo isto? Nunca saberemos. Mas da próxima vez que puxar o fecho do casaco mais confortável deste mundo, ou der um double-tap numa imagem de Kylie Jenner a usar um puffer amarelo canário de proporções surrealistas, pense em Bauer - aquele Bauer que, acidentalmente, arriscou tudo em nome da Moda.