Da cabeça de Rob Woodcox saem algumas das imagens mais sublimes e inesperadas que temos visto nos últimos tempos. Os seus corpos de luz simbolizam a esperança de uma humanidade que, apesar de confrontada com inúmeras batalhas, nunca desiste perante a possibilidade de se reinventar.
Da cabeça de Rob Woodcox saem algumas das imagens mais sublimes e inesperadas que temos visto nos últimos tempos. Os seus corpos de luz simbolizam a esperança de uma humanidade que, apesar de confrontada com inúmeras batalhas, nunca desiste perante a possibilidade de se reinventar.
No final do ano passado, Rob Woodcox lançou Bodies Of Light, um coffee table book de 172 páginas que é, na verdade, uma compilação dos seus primeiros dez anos como fotógrafo profissional – e onde se encontram, além de dezenas de imagens inesquecíveis que entram pelos olhos dentro sem pedir licença, várias colaborações com outros artistas, algo que tem marcado a carreira deste criativo cuja imaginação não conhece limites. Atualmente a viver entre Nova Iorque, Los Angeles e a Cidade do México, Woodcox conversou com a Vogue sobre o fascínio pelas formas humanas e geológicas, algo transversal a todo o seu percurso, e sobre a importância de marcar a diferença num mundo onde, garante, todas as nossas escolhas, até as mais simples, são decisões políticas.
O que é que, numa primeira instância, o atraiu na fotografia? A capacidade de transcrever as ideias surreais que tenho na minha cabeça de maneira realista foi o que originalmente me atraiu para a fotografia. Sempre tive uma imaginação ativa; nunca deixei isso morrer quando fiquei mais velho e fiquei fascinado com a possibilidade de materializar ideias usando uma câmara e compondo cenas. A fotografia é onde ativo a minha criança interior e onde permito que a criatividade fale através de mim como uma linguagem natural.
A nudez é uma constante no seu trabalho. Existe algum motivo especial para isso acontecer? Por outro lado, como é o processo de composição destas imagens? A nudez é a expressão humana mais vulnerável; num momento em que as conversas sobre identidade estão a mudar, de género, raça, sexualidade, habilidades físicas variadas, e muito mais, acredito que trazer de volta para a arte a forma humana natural é importante e impressionante. Não devemos ter medo de amar e abraçar os nossos corpos como são, deixando de lado todos os estereótipos e padrões. Trabalho em estreita colaboração com modelos e dançarinos, promovendo um espaço seguro para criar composições únicas e enviar uma mensagem ao público. Normalmente, tenho a composição em mente semanas ou meses antes das filmagens e colaboro com instrutores de dança para escolher os indivíduos com base na suas capacidades e aptidões. A coreografia final é alcançada através de um esforço comunitário que transcende a expressão individual para criar uma conexão mais universal. Todas as minhas fotos são tiradas em tempo real no local e algumas envolvem a combinação de várias fotografias para criar a obra-prima final.
Que tipo de reação pretende provocar com as suas fotografias? As pessoas expressaram um sentimento de choque, admiração, emoção e alegria quando viram as minhas fotos. Aprecio a grande variedade de emoções que a minha arte é capaz de evocar; como as pessoas respondem às minhas fotografias geralmente depende do que elas já estão a experimentar. Muitas pessoas expressam paz ou contemplação, outras dizem que é como se eu estivesse a ler as suas mentes e a dizer algo que elas estavam a pensar, e uma vez alguém comentou que as minhas fotos o ajudaram a permanecer vivo por causa de uma depressão profunda. Provocar uma reação é inevitável na maioria das artes, mas quando o meu trabalho leva as pessoas a pensar profundamente, esse é o efeito final.
Tem uma estética bastante diferente da maioria dos fotógrafos. O que o inspira? Como descreveria o seu trabalho? Descreveria o meu trabalho como sendo um surrealismo realista, inspirado pelos famosos artistas surrealistas do século XX, pela natureza, e impulsionado pelas minhas próprias experiências pessoais e devaneios. Algumas inspirações principais são René Magritte, Leonora Carrington, Salvador Dalí, Frida Kahlo, Richard Avedon e Tim Walker.
O seu site oficial menciona uma série de preocupações com minorias e com a importância de “fazer ouvir certas vozes.” Considera-se um ativista? Acredito que qualquer estilo de vida que vá contra a norma seja político e, se forem tomadas medidas específicas para promover mudanças políticas ou sociais, poderás ser considerado um ativista; nesse sentido, sim, considerar-me-ia um ativista. Sinto que a maneira como expressamos os nossos corpos, identidades e crenças deve ser completamente livre, de acordo com os nossos próprios critérios, e ditada por mais ninguém. Mesmo escolhas simples da vida, como apoiar o local em vez do corporativo, ou ser um artista e trabalhar para si mesmo, ou optar vestir de maneira diferente, apesar das normas sociais, são decisões políticas que contribuem para o ativismo e a progressão da sociedade. Crio ativamente grupos de traba- lho que falam sobre assuntos pelos quais sou apaixonado, como uma tentativa de contribuir para os movimentos que apoio.
Um dos temas-chave desta edição é o conceito de união. Quão importante é estarmos unidos? A comunidade é o pilar da minha existência, não estaria a fazer o meu trabalho sem o apoio de uma enorme rede familiar de colegas criativos. Só quando descobri outras pessoas como eu é que fui capaz de abraçar a minha identidade como indivíduo queer, artista, ativista. Existe realmente uma força nos números, e acredito que as gerações mais jovens anseiam por uma sociedade mais inclusiva e educada. Acredito que agora é a hora de reavaliar o que achamos que sabemos sobre o mundo e ouvir pessoas de diferentes origens. Somos todos uma parte importante da equação que cria um mundo bonito e sus- tentável. Com todas as nossas experiências combinadas, podemos construir o futuro mais brilhante que a raça humana já viveu.
Texto original na edição Happy Together da Vogue Portugal, publicada em maio 2020.