O clã Young Hollywood está cada vez mais jovem. Mas também está cada vez mais ligado - no caso de Sadie Sink, não particularmente à Internet, mas ao mundo, à solidariedade, ao que interessa. Crescer e aparecer é coisa do passado: crescer e ser maior é o mote de uma nova geração e a atriz de Stranger Things é um dos seus exemplos.
O clã Young Hollywood está cada vez mais jovem. Mas também está cada vez mais ligado - no caso de Sadie Sink, não particularmente à Internet, mas ao mundo, à solidariedade, ao que interessa. Crescer e aparecer é coisa do passado: crescer e ser maior é o mote de uma nova geração e a atriz de Stranger Things é um dos seus exemplos.
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Os 17, feitos este ano, parecem redutores para uma cabeça que vai além da sua idade. Ponderada nas respostas e pouco adolescente no que ao clichê diz respeito, Sadie Sink - que interpreta Maxine Mayfield desde a segunda temporada de Stranger Things e por lá continua, agora que chega a season 3 - não é a típica jovem estadunidense que Hollywood fez questão de nos dar a conhecer ao longo dos anos. Esqueça os exageros de uma Drew Barrymore nos anos 90, a típica girly girl que a Disney trouxe com Britney Spears e Hannah Montana, os ídolos pop demasiado cor-de-rosa regados a purpurinas: os novos - e cada vez mais precoces - jovens do grande e pequeno ecrã gostam de nomes como Nirvana e Pac-Man e são ativistas - seja a causa grande ou pequena. Preocupada com o planeta, com os animais, com a alimentação, e com uma paixão pelo métier que tem pouco ou nada a ver com a fama que isso lhe traz, Sink pode bem ser o novo arquétipo de jovem atriz que o mundo precisa.
Nascida no Texas, em 2002, tem três irmãos mais velhos e uma irmã mais nova e estas lides da representação não são conquista recente, apesar da série da Netflix ter trazido um renovado reconhecimento à jovem: começou - atipicamente para um percurso do género - no teatro, com Annie (2012), e chegou a contracenar com Helen Mirren na peça The Audience (2015). Entre a televisão e o cinema, onde acumulou desde aparições pontuais a papéis de relevo e co-protagonistas de peso - em The Glass Castle (2017), contracena com Woody Harrelson -, Sadie tem construído um CV invejável até para atores com o dobro da sua idade e tempo na indústria. Aliás, a sua agenda confirma-o: numa janela limitada pelas entrevistas e solicitações a que tenta dar resposta, a Vogue voou até Nova Iorque para fotografar a teen e voltou com as palavras de uma jovem adulta que é mais que o estereótipo que tendem a fazer da sua geração.
PS: Não, Sadie Sink não sabia andar de skate, apesar de Max ser uma ávida skateboarder - e de ter dito que sim quando, no casting, lhe perguntaram se sabia andar. Porque é que lhe estamos a contar isto? Acredite, a pergunta vai surgir na sua mente no decorrer desta entrevista.
O tema desta edição é connected. O que significa para ti o termo? Sentes que se aplica à tua geração? Em que sentido? Acho que podes estar connected - ou ligada - no sentido em que tens uma presença online forte, mas também pode significar o contrário. Podes estar ligada ao mundo e em sintonia com o que te rodeia em vez de colada ao telefone o tempo todo. Diria que sou mais connected ou ligada na medida em que gosto de viver no momento e apreciar o que está à minha volta. Sinto-me um pouco diferente da maioria da minha geração quando digo isto. A maioria das pessoas da minha idade gosta de estar nas redes sociais - e eu também, mas sou menos preocupada com a minha presença online que a média dos adolescentes. O facto de estar na série impulsionou-me a estar mais nas plataformas sociais para que possa interagir com os meus fãs através da rede, mas ainda assim, quase nunca estou online.
Se tivesses de apagar todas as apps exceto uma, qual manterias e porquê? Nunca fui muito ativa nas redes sociais. São importantes para chegar aos fãs, mas também sinto que as pessoas se deixam envolver demasiado no mundo do Instagram e do Twitter. Há uma série de coisas fantásticas em social media, mas há também um lado negativo. Se tivesse de manter apenas uma app, seria o Google Maps. É a que uso mais e diria que é a mais prática. Ajuda imenso.
A ideia do connected é muito mais que estar ligada digitalmente. É sobre conectar-se com amigos e família, mas também com os problemas do mundo, dos dias que correm, temas que nos interessam, independentemente da sua dimensão. Quais são as causas e as questões que mais te tocam? Este é um dos maiores benefícios do social media. As pessoas estão muito mais atentas e envolvidas com os eventos do quotidiano em todo o planeta. Felizmente, fui abençoada com uma plataforma que espero poder usar para inspirar outros. Se vou usar redes sociais, mais vale fazê-lo em prol do apoio a uma causa que gosto e da divulgação da mensagem. Adoro animais e faço o que posso para apoiar abrigos locais, bem como encorajar os fãs a tornarem-se vegetarianos ou até vegan.
Sim, vejo que apoias o Pet Rescue em Nova Iorque. Podes falar-nos um pouco disso? New York Pet Rescue é uma das minhas instituições favoritas em Nova Iorque. É uma organização sem fins lucrativos que funciona com a ajuda de voluntários e que se esforça por resgatar animais e encontrar a melhor casa possível para eles. É extremamente importante apoiar fundações pequenas e locais como a Pet Rescue. Estou constantemente a aceder ao website deles para ver os animais que têm para adoção. Adorava adotá-los a todos, mas a minha mãe diz que já não podemos ter mais animais de estimação.
Por falar em causas e animais, sei que és vegan. Com que idade aderiste ao veganismo e o que te fez tomar essa decisão? Tinha 14 quando me tornei vegan. Era vegetariana antes, por isso a transição não foi muito difícil. Apesar de ser já vegetariana, queria fazer tudo o que pudesse pelos animais e pelo meio ambiente.
Ainda no âmbito das causas, quais achas que são as questões com as quais a tua geração mais tem de lidar? O que achas que é mais fácil e o que achas que é mais difícil quando se cresce no mundo de hoje, comparando, por exemplo, com a geração dos teus pais? Acho que a minha geração tem uma série de novos e diferentes desafios. Com as redes sociais, alguns miúdos sofrem com o cyberbullying bem como com a comparação constante com o que veem online. Também sinto a pressão que recai sobre esta geração em relação à performance na escola, parece-me que aumentou drasticamente. Sei que os meus pais sentem que os trabalhos de casa de hoje são bem mais exigentes que os que tiveram no liceu.
Começaste neste meio da televisão e cinema muito cedo. Era algo que já querias?Representar sempre foi uma paixão. Foi totalmente uma decisão minha entrar na indústria. Uma das coisas que mais adoro nos miúdos do Stranger Things é que somos atores por vontade própria. Entrámos no negócio de forma independente, com o apoio das nossas famílias, e fomos capazes de conseguir algum sucesso na área graças à nossa paixão e foco.
O que é que a representação tem que te faz gostar tanto desta profissão? Adoro contar histórias e ser outra pessoa, por um tempo. É divertido. Pode ser desafiante por vezes, mas adoro como aprendo algo novo no set todos os dias. Consigo ver-me a crescer, enquanto atriz, de projeto em projeto nos quais me envolvo.
Entraste na segunda temporada de Stranger Things e juntaste-te ao elenco quando já era uma série de culto. O que sentiste quanto soubeste que ias integrar a série? O que te entusiasmou mais? E como foi a tua reação exata à notícia - gritaste, choraste? Não chorei, mas definitivamente fiquei em choque. Assim que recebi o telefonema, soube que a minha vida ia mudar drasticamente. Foi tão excitante, no entanto. Acho que o que mais me entusiasmou foi a personagem. Eu adoro a Max e estava entusiasmada por lhe dar vida.
E agora, olhando para trás, o que te surpreendeu mais nos bastidores da série? Nada me surpreendeu porque, na verdade, não fazia ideia do que esperar. Só me lembro de me divertir imenso naqueles primeiros dias de filmagem. Achei que ia ser mais intenso, por ser a nova miúda no set, mas o Matt [Duffer] e o Ross [Duffer] - os criadores da série -, foram tão acolhedores e trataram-me como a qualquer um dos outros miúdos.
Stranger Things tem uma estética inspirada nos anos 80, o que tem alguma graça, porque os atores dos papéis principais nem sequer eram nascidos, na época. Achas que há um interesse renovado neste tipo de “clássicos”, no vintage, etc? Gostas deste género de referências ao séc. XX? O estilo dos anos 80 é muito interessante. Eu gosto de muitas das tendências, como as calças de cintura subida. Também adoro as cores. Acho que as gerações mais jovens têm este fascínio pela moda e tecnologia do passado. Câmaras instantâneas, gira-discos e roupa vintage é agora cool e atual.
Este não é, de todo, o teu primeiro papel de relevo - já trabalhaste com diversos nomes estabelecidos. O que aprendeste com eles que levas sempre contigo para os novos papéis? A maioria das pessoas conhece-me do Stranger Things, mas eu trabalho neste meio desde os 7 anos. Trabalhei com a Helen Mirren no meu segundo show na Broadway e ela foi incrível. Não só é uma atriz fantástica como é genuinamente uma pessoa generosa. Ela tornou a experiência espetacular para toda a gente.
Em termos de futuros projetos, o que te vês a fazer daqui a 10 anos? Tens algum sonho em particular? Adorava fazer mais teatro. Comecei a sentir algumas saudades disso. Não tenho assim nenhum projeto específico em vista, sei que os trabalhos certos virão ter comigo.
Há muitas atrizes que são também modelos e cantoras e, claro, influencers… achas que há uma pressão acrescida, hoje em dia, para se fazer cada vez mais, ser mais do que uma coisa, sob pena de parecer que estás aquém do teu potencial? De todo! Acho que devíamos todos cingir-nos ao que mais nos apaixona. Ninguém devia sentir a pressão de perseguir múltiplos campos só para corresponder a essa noção desajustada de sucesso. Acho que há muita pressão nas celebridades para que tenham uma forte presença nas redes sociais, mas eu sei que há imensos atores que escolhem não ter conta em qualquer plataforma que seja. Isso não quer dizer que não estejam a usar o seu estatuto em prol de outros. Há diversos atores que fazem imenso por instituições de solidariedade e movimentos sem terem uma presença digital.
Que tipo de filmes gostas? Qual é o teu favorito? O meu preferido, neste momento, é o Booksmart. Eu vejo praticamente tudo, mas não sou grande fã de filmes de terror ou de ação.
O que tens sempre na mão - sem ser o telemóvel? Eu, na verdade, quase nunca tenho o telemóvel na mão. A maioria das vezes, está sem bateria ou não sei onde o pus. Diria que tenho sempre a minha garrafa de água, acho. Isso ou um matcha latte.
Gostas de ser reconhecida na rua e de ser abordada por fãs? Ou é algo que te incomoda? Agora, já não me importo. Ao início ficava muito ansiosa quando me abordavam, ainda fico quando há muitas pessoas à minha volta. Já estou mais habituada, mas acho que não sou assim muito reconhecida na rua, consigo passear pela cidade e andar de metro sempre que quero. Os nova-iorquinos não querem saber, na verdade.
O que gostarias que os jornalistas te perguntassem mas que nunca perguntam? Gostava que mais jornalistas me perguntassem sobre a vida fora da série. Alguns fazem-no, mas acho que às vezes a imprensa se esquece que todos os miúdos na série são adolescentes normais em vários sentidos. Ainda estamos na escola e muitos de nós pensam na Universidade. Ainda lidamos com as dificuldades de crescer, mas neste caso, crescemos com o mundo de olhos postos em nós.
E o que detestas que te perguntem (além desta questão)? Não odeio necessariamente que me perguntem o que quer que seja, mas há uma questão que tenho de responder constantemente e agora já se torna aborrecido. Perguntam-me sempre se sabia andar de skate antes da série. Ao início era uma boa pergunta, mas depois de me começarem a perguntar em todas as entrevistas tornou-se cansativo. Mas faz parte.
O editorial completo com Sadie Sink pode ser visto na íntegra, aqui.Artigo originalmente publicado na edição de julho de 2019 da Vogue Portugal.