No mundo digital, Sandra Baldé é mais conhecida como Uma Africana. Uma Africana que fala abertamente sobre questões raciais, privilégios sociais, representatividade e inclusividade. Uma Africana que prova que a voz não tem idade.
No mundo digital, do Instagram ao YouTube, Sandra Baldé é mais conhecida como Uma Africana. Uma Africana que fala abertamente sobre questões raciais, privilégios sociais, representatividade e inclusividade. Uma Africana que abre o jogo e põe as cartas em cima da mesa. Uma Africana que prova que a voz não tem idade.
Sandra Baldé ©Alex Todosko
Eram 16h18 quando a voz de Sandra Baldé, também conhecida como Uma Africana, nos diz "Estou? Olá!" do outro lado da linha. Alguns minutos de conversa depois, uma mulher de 21 anos (Sandra) e outra de 24 (esta jornalista) já partilham, naturalmente, algumas ideias em comum. Acreditamos que o conhecimento é a base de tudo. Acreditamos que o feminismo é uma forma de libertação. Acreditamos que, em pleno século XXI, é injustificável viver num país onde, desde o início do ano, doze mulheres já foram vítimas de uma violência demasiado brutal para ser verdade. Estas questões podem não ser novidade para quem nos lê - mas, como diz Sandra, "ainda não existe muita discussão sobre esses temas". E é por isso mesmo que estamos aqui.
Sentes que as redes sociais vieram contribuir para diversificar as vozes do hoje e do agora?
Sim, sem dúvida. As redes sociais são uma forma de conseguirmos projetar melhor a nossa voz para o mundo. Pelo menos é isso que eu sinto. Através da Internet, sinto que acabo por chegar a mais pessoas do que aquelas a que provavelmente chegaria na vida real. Quando são usadas para o bem, as redes sociais são uma ferramenta muito boa.
Qual é a principal mensagem que queres passar às pessoas que te seguem?
Acho que aquilo que eu quero passar às pessoas é que elas, acima de tudo, acreditem nelas próprias. Eu sei que isto é um cliché, mas aquilo que eu quero é que as pessoas acreditem em si mesmas, que tenham noção de que nós somos seres que temos a possibilidade de evoluir, todos os dias, que nós não nascemos a saber tudo e que temos a oportunidade de ser melhores pessoas, todos os dias.
O que fazes para te sentires confiante na tua própria pele?
Eu gosto de interiorizar e lembrar-me a mim mesma que não preciso de me comparar com os outros. Eu sou eu, eu sou como sou e está tudo bem [risos]. Quando penso desta forma, acabo por me sentir melhor e as coisas fluem melhor.
O que é que o feminismo significa para ti?
Para mim, o feminismo é uma forma de dizermos às mulheres que elas são livres de serem aquilo que elas quiserem ser, da forma que elas quiserem ser, seja dentro de casa, fora de casa, com um emprego, ou como domésticas. É dizermos que as mulheres são livres de fazer aquilo que elas bem entenderem, sem julgamentos. Acho que o feminismo existe precisamente para isso, para nos relembrar que podemos ser aquilo que quisermos ser. É nisso que eu acredito, que o feminismo acaba por nos dar essa liberdade enquanto mulheres.
Sentes que a sociedade hoje está mais "desperta" para questões como a inclusividade e a representatividade?
Eu acho que sim. Felizmente, as coisas já não são como eram há dez ou há vinte anos atrás, e já não estamos nesse patamar. Acho que existe uma certa evolução quanto a essas questões. No entanto, pelo menos aqui [em Portugal], penso que ainda não existe muita discussão sobre esses temas. Não é que não veja a evolução - existem cada vez mais marcas, por exemplo, a envolverem-se neste tipo de causas e a incluirem mais diversidade -, mas acho que ainda é preciso trabalhar um pouco mais esse aspeto. Acho que é preciso mais informação. Acho que é preciso discutir mais. Se não tivermos informação, se não conhecermos o problema, nunca vamos conseguir chegar a lado nenhum, nunca vamos conseguir resolver, de facto, aquilo que está mal. Acho que o conhecimento é mesmo a base de tudo.