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Na semana de Moda de Milão, os opostos atraem-se

02 Mar 2023
By Pedro Vasconcelos

Para as coleções de outono/inverno 2023, marcas como Prada e Diesel provam a dualidade do design italiano, simultaneamente clássico e divertido.

 Para as coleções de outono/inverno 2023, marcas como Prada e Diesel provam a dualidade do design italiano, simultaneamente clássico e divertido.

© ImaxTree
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A imparcialidade é esperada de um jornalista de Moda. Os nossos gostos devem encontrar-se distantes das nossas críticas. Mas, num momento de rara insolência confesso: a semana de Moda de Milão é a mais entusiasmante da estação. A razão de ser deste sentimento não são apenas as marcas que nos relembram da qualidade do design italiano, como Prada, ou Bottega Veneta. Uma nova geração de designers encontra-se ao elmo de marcas como Diesel, Roberto Cavalli e Ferragamo. Este “novo sangue” traz consigo o entusiasmo do novo, um contraste perfeito à clássica elegância italiana.

© Getty Images
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Designers jovens entendem a importância das redes sociais. Criam-se momentos virais sem necessitar de malabarismos cringe. No desfile da Sunnei, a teatralidade foi aceite de braços abertos, literalmente. Os convidados desempenharam o papel de audiência fanática. Numa estreita sala foi posicionada uma passerelle com uma altura incomum, como se de um palco de tratasse. Assim que chegavam ao fim da passerelle, os modelos (que neste caso eram todos parte do staff da marca) atiravam-se para a multidão aos seus pés. A Sunnei tornou crowd surfing uma experiência de luxo.

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Também a Diesel recorreu a táticas virais, ainda que substancialmente menos teatrais. Em parceria com a Durex, a marca italiana posicionou uma gigante torre de caixas de preservativos no centro da labiríntica passerelle. Glenn Martens, diretor criativo da Diesel, joga mais uma vez com a identidade sexy da marca. Surpreendentemente, o cenário não foi a parte mais entusiasmante do desfile. Centrando-se no tema da sexualidade, o designer focou-se em calças de ganga low rise e camisolas transparentes. A translucidez de certos materiais, particularmente da ganga, prova o potencial de Martens. Através de devoré, uma técnica que utiliza químicos para “devorar” as fibras de um tecido de forma controlada, calças e vestidos adquirem um aspeto molhado. 

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Para a sua segunda coleção na Ferragamo, Maximilian Davis voltou a reinventar os códigos da marca. Se na sua estreia os elementos característicos da Ferragamo foram hiperbolizados, na coleção de outono/inverno 2023 estes tornaram-se mais discretos. O vermelho icónico foi escondido em peças focadas na alfaiataria. Ao contrário de Davis, Fausto Puglisi, diretor criativo de Roberto Cavalli, mergulhou de cabeça no hedonismo associado à marca. Os padrões animais, tão próximos do nome Cavalli, são reinterpretados através de meios ostentosos. Ganga, cristais e pele são cuidadosamente organizados para replicar o caos do mundo natural.

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Se alguns optam pela sensualidade dramática, os titãs da Moda italiana enveredaram por um caminho diferente. A simplicidade e a ausência de teatralidade marcaram desfiles como o de Max Mara, inspirado na filósofa Émilie du Châtelet. A estética do século XVIII é transformada através da elegância minimalista da marca italiana. Na Fendi, o diretor criativo Kim Jones inspirou-se em Delfina Delettrez Fendi, designer da linha de joalharia e herdeira do império da marca. O resultado foi surpreendentemente sóbrio. Vestidos elegantes, saias compridas e macacões são reinterpretados com uma estética utilitária.

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Se é utilitarismo que se quer, não há nada como a coleção de outono/inverno 2023 da Prada. Nesta estação, Miuccia Prada e Raf Simons inspiraram-se no objetivo prático da Moda. Num comunicado de imprensa, os designers reportaram que "a roupa é a representação da beleza do carinho, do amor, da realidade.” O quotidiano foi interpretado através da lente da marca italiana. Batas brancas, fatos e até vestidos de casamento estiveram presentes no desfile.

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Após a saída de Alessandro Michele da Gucci, a equipa de design da marca encontrou-se responsável pela coleção apresentada nesta semana de Moda. O seu sucessor, Sabato de Sarno, só se estreará em setembro. As propostas para o outono/inverno 2023 fundiram as estéticas dos diretores criativos do passado. A opulência de Michele foi intercetada com a sensualidade da Gucci de Tom Ford.

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No desfile da Bottega Veneta, Matthieu Blazy não dececiona. O luxo quotidiano tornou-se parte do ethos da marca italiana e o designer francês perdura este legado. Ao longo de 81 looks, Blazy alcançou algo raro, uma coleção coesa repleta de peças bastante diferentes entre si. Num comunicado de imprensa, o designer revela, “queria comunicar uma odisseia de personagens. A ideia foi que nos podemos transformar em quem quisermos através da nossa roupa.” O conceito foi executado na perfeição, com a atenção ao detalhe característica de Blazy.

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