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Semana de Moda de Milão FW25: the kids are alright

08 Mar 2025
By Pedro Vasconcelos

Gucci FW25 © Launchmetrics Spotlight

Numa indústria tão caótica, Milão dá-nos algo raro: a garantia de qualidade.

Milão, Milão, Milão. A capital da Moda italiana mantém-se como uma constante refrescante no panorama da indústria de luxo. Se Londres e Nova Iorque perdem a sua influência a cada estação que passa e Paris cresce quase para além das suas medidas, Milão encontrou um equilíbrio perfeito. Talvez seja o resultado de uma indústria bem desenvolvida, talvez de uma cidade que encontrou o seu ecossistema ideal. De qualquer forma, a Semana da Moda italiana é sempre uma boa paragem no circuito. É bom saber com o que contar numa indústria tão caótica, Milão é sempre um porto-seguro. 

Não há nada como um desfile da Prada. O prazer de entender o que duas das mentes mais brilhantes da Moda preparam para descobrirmos é um sentimento que não tem comparação. As coleções criadas por Miuccia Prada e Raf Simons não são só Moda, são comentários intelectuais sobre o estado do mundo—e Deus sabe que o que não falta é material nos dias que correm. Como uma extensão intelectual da estação anterior, outono/inverno 2025 foi um comentário sobre a forma como os algoritmos perturbam a nossa perceção da realidade. Desta vez o foco foi na beleza, uma qualidade que era concedida geneticamente, mas que agora é facilmente comprada. São feitas referências diretas ao outono/inverno 2009—como em casacos estruturados feitos de materiais pesados. A Prada não se limita a aludir a elementos estéticos; revisita as suas diretrizes intelectuais. A ideia de austeridade feminina é mais uma vez explorada desta vez como resposta à pergunta “na era em que o glamour é tão facilmente comprado, o que significa a perfeição?” Os argumentos para a tese são feitos através de malhas oversized apertadas por pequenos laços, saias de cabedal distressed e sumptuosos casacos de pelo embrulhados em capas de plástico. As silhuetas disformadas são adornadas com detalhes delicados, como o look final, um casaco grande com botões de pérola perfeitos. Costuras expostas, peças enrugadas e cabelos despenteados sugerem imperfeição — não de forma derrogatória, mas como contraproposta a uma perfeição indesejável.

Prada FW25

Na Gucci, o estúdio de design criou o desfile após a saída de Sabato De Sarno. O que alcançaram não foi fácil. Afinal, ao fim de tantas evoluções criativas, como se veste a Gucci? Depois de tantas evoluções criativas, qual é o legado que permanece enquanto todos nós esperamos impacientemente pela próxima? Não é fácil encontrar o fio condutor entre o sexo de Tom Ford e a extravagância de Alessandro Michele. Mas, mesmo que difícil, o estúdio chega a uma resposta. Modelos adornadas com minivestidos A-line reminiscentes dos anos 60 desfilaram ao lado de conjuntos com luxuosos casacos de pelo e vestidos em cetim que ecoavam a sensualidade da década de noventa. Claro que a coleção não foi apenas um esforço reflexivo—houve inovação, como na reimaginação de carteiras e cintos com ferragens elegantes. Nesta estação, o guarda-roupa da Gucci foi apresentado sem interrupções uma vez que marcou a primeira apresentação mista da marca. Tanto os looks femininos como os masculinos foram uma boa lembrança, independentemente de quem a marca escolher como sucessor de De Sarno: a Gucci será sempre Gucci. 

Gucci FW25

Outros destaques na cidade incluíram Max Mara e Marni. A primeira apresentou uma coleção baseada em literatura. Inspirado nas obras das irmãs Brontë, o diretor criativo Ian Griffiths procurou retratar uma versão romântica da insegurança do mundo de hoje. A paleta de cores da coleção revelou a disposição— encarnados profundos, castanhos acinzentados, verdes-escuros—enquanto as silhuetas aludiram ao seu inegável romance. Casacos que flutuam a milímetros do chão, saias rodadas de tweed e ombros que saltam muito para além dos seus limites naturais: a construção da Max Mara nunca se põe em questão. Numa indústria onde a qualidade se torna cada vez mais um problema (irónico quando luxo é uma das suas descrições) a marca italiana mantém-se como uma luz ao fundo do túnel. Outono/inverno 2025 não foi diferente. Cada casaco, vestido e saia é um símbolo da perfeição que só Max Mara alcança. Na Marni, Francesco Rissi alcança o mesmo que faz em todas as estações: sobe a fasquia da marca que lidera. As suas sensibilidades artísticas, sempre inclinadas para um surrealismo divertido, foram mais uma vez responsáveis por uma das melhores coleções da semana. A sua mestria de cor foi protagonista—um minivestido com uma gola oversized em pelo amarelo e uma bainha em pelo cinzento é delicioso. Mas nesta estação a mistura de texturas (muitas vezes na mesma peça) foi fora deste mundo. Vestidos que combinavam pelo, cetim, veludo e organza são verdadeiras obras de arte. Por falar nisso, os looks que fecharam a coleção, uma série de fatos, vestidos e casacos com animais pintados merecem tratamento de museu—nem que seja por serem derivados de uma colaboração com os artistas Soldier Boyfriend e Olaolu Slawn. Com só mais uma paragem antes do final do fashion month, Milão foi a preparação perfeita para o clímax que se aproxima.

Max mara FW25; Marni FW25

Max mara FW25; Marni FW25

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