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Bela (não) adormecida

04 Apr 2020
By Joana Moreira

Andar às voltas na cama, demorar horas para adormecer ou acordar a meio da noite. Sweet dreams aren’t made of this.

Andar às voltas na cama, demorar horas para adormecer ou acordar a meio da noite. Sweet dreams aren’t made of this.

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Fotografia de Irving Penn
Fotografia de Irving Penn

Ficou a ver mais um episódio daquela série mesmo mesmo incrível e vai para a cama mais tarde do que contava. Deita-se, não sem antes fazer um scroll rápido no Instagram, ver se não tem notificações no Messenger ou alguma mensagem por responder no WhatsApp. Bem, já que está com o telemóvel na mão, mais vale ver se recebeu um e-mail importante (o que tem se são duas da manhã?). Põe o despertador, no telemóvel claro, mas apesar de ser com ele que acorda, não diz que não a pelo menos três snoozes, para mais uns minutos na cama. Bebe cinco cafés por dia, o ambiente no trabalho é uma pe- quena bolha de stress e... Não consegue dormir. Porque será? Rebecca Robins é o que se pode chamar de uma verdadeira especialista do sono. A investigadora norte-americana estuda o impacto do sono na saúde há mais de dez anos. “Um dos principais mitos é acreditar que as pessoas se conseguem ‘safar’ com menos de sete horas. Este é o maior mito”, começa por contar à Vogue. “Normalmente, esta não é aquela pessoa que conhecemos diretamente, a nossa mãe ou irmã, é alguém mais distante do género ‘este tipo consegue dormir só quatro horas e está ótimo’. Mas é um mito, e infelizmente se essa pessoa diz que só dorme essas horas, é muito provável que esteja a fazer uma sesta durante a tarde. Porque não é fisiologicamente possível. Verdade seja dita, há exceções notáveis, mas a proporção desses indivíduos que dorme apenas cinco horas e que é saudável, e está em boa forma, não chega a 1% da população”, atesta. Será o Presidente da República, a quem, em todas as biografias e perfis, é atribuída uma noite de sono de não mais de quatro a cinco horas, parte desse 1%? O que precisamos para uma boa noite de sono é, na verdade, muito mais do que isso. O ideal é entre sete a oito horas, e de forma consistente. Fugir desses valores é colocar a saúde em risco. “Temos provas extensivas de que dormir cinco horas ou menos de forma consistente, aumenta o risco de condições de saúde adversas, como doenças cardiovasculares e mesmo a nível de longevidade”, garante a investigadora. Só que, como em muitas coisas, quantidade não significa necessariamente qualidade. E no caso do sono, a qualidade é determinante para o descanso real. “Outro mito é que o sono é um processo passivo, que vamos para a cama, estamos deitados, dormimos e acordamos. Mas o sono é na verdade um processo com padrões, diferentes estados, no início da noite temos o sono mais leve, depois vem o sono profundo, que é ótimo para a nossa capacidade cognitiva, e tem este ritmo maravilhoso”, descreve Robins. Só que para chegar a esse estado (designado por sono R.E.M., rapid eye movement, em português “movimento rápido dos olhos”, porque estes movem-se e a atividade cerebral é superior) não há atalhos, é preciso seguir uma sequência de fases, criando o ambiente certo para lá chegar. “Alguém com um sono saudável consegue passar por todos estes estados e acordar naturalmente”, diz a investigadora, garantindo que adormecer de imediato também não é necessariamente um bom sinal. “Se nos privarmos de comida, depois açambarcamos um prato de comida desenfreadamente. Isso é um sinal de alimentação saudável? Ou é um sinal de demasiada fome? Por isso, pessoas saudáveis levam cerca de 15 minutos para adormecer. É um processo. Adormecer de imediato pode ser um sinal de que não estão a dormir o suficiente”, afirma. E quanto àquele copo de vinho depois de jantar? Talvez seja altura de o repensar. “Uma bebida é ok, duas já não é bom. Vai influenciar diretamente a qualidade do sono”, diz. “Pode até ajudar a adormecer, mas reduz dramaticamente a qualidade do sono e do descanso, retira-nos dos estados mais profundos do sono podendo até forçar-nos a acordar, e a não nos sentirmos cansados”, explica. Atalhos para bons sonos Não lhe chamam sono de beleza em vão. É que além de uma noite bem dormida ser capaz de fazer maravilhas pela nossa pele, a verdade é que a própria indústria da Beleza tem feito também muito pelo nosso sono. A marca This Works popularizou-se com os seus produtos para borrifar na almofada antes de ir dormir. O Deep Sleep Pillow Spray, um dos mais vendidos, é composto por lavanda, camomila e vetiver, um mix que promete induzir um estado de relaxamento que ajuda a adormecer mais rápido. Há quem não passe sem eles. Mas há outras marcas, como a L’Occitane, que também têm sprays com fragrâncias tranquilizantes para vaporizar no quarto, todas as noites, 15 minutos antes de ir dormir. Mais recentemente, a Rituals, que já possuía artigos do mesmo género, acaba de lançar uma linha totalmente dedicada ao sono. De nome Sleep Collection, a gama faz parte da coleção The Ritual of Jing – pensada para proporcionar o melhor ambiente possível antes de dormir. Todos os produtos têm um odor calmante, desde a vela de massagem ao prático sérum em formato roll-on para aplicar nas testa, têmporas e pescoço antes de ir dormir. Mas o destaque é mesmo uma pequena almofada recheada de sementes de linhaça e lavanda para colocar sobre os olhos e que, quando aquecida (pode levá-la ao microondas até um máximo de 30 segundos), ajuda no processo de relaxar e, se tudo correr bem, adormecer.   Artigo publicado originalmente na edição de abril de 2020 da Vogue Portugal.

Joana Moreira By Joana Moreira

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