Claire Mathon, diretora de fotografia do filme Spencer, fala sobre como foi registar a história perturbadora da Princesa Diana e a magia inexplicável de Kristen Stewart.
Claire Mathon, diretora de fotografia do filme Spencer, conta-nos como foi registar a história perturbadora da Princesa Diana e sobre a magia inexplicável de Kristen Stewart.
© Pablo Larraín
© Pablo Larraín
Diz-se que a Princesa Diana foi uma das mulheres mais fotografadas do mundo. Era, constantemente, perseguida por paparazzi e o brilho das câmaras pontilhavam o seu horizonte - a surgirem de arbustos, na berma da estrada, pendurados nas janelas dos carros. Quando o elenco e a equipa do filme Spencer, de Pablo Larraín, se viram rodeados por paparazzi, com fotógrafos aninhados para conseguirem pequenos vislumbres de Kristen Stewart no papel de Diana Spencer, a equipa teve uma experiência estranha.
Mas, se perguntarem à cineasta Claire Mathon, que filmou a longa-metragem, a presença transformou-se na atmosfera cinematográfica do projeto. Stewart, uma das atrizes mais famosas da sua geração, não é uma estranha ao olhar cruel dos paparazzi - um elemento que a ajudou a desfocar a linha entre o ator e o ícone que interpretou. "Foi estranho o facto de o processo de filmagem ter confundido Diana e Kristen", contou Mathon numa recente chamada Zoom, traduzida do seu francês nativo para o inglês por Daniella Shreir. "Mas pode ter acrescentado algo ao filme.”
Na interpretação livre de Larraín, que decorre durante um fim de semana de Natal, quando Diana decide deixar Príncipe Charles, a falecida princesa deambula desesperada pelos salões do palácio, la fora o nevoeiro é denso e os vestidos de baile conjugam-se com botas. Kristen Stewart não é tanto uma recriação, mas sim uma ideia de Diana, com Spencer a servir de retrato da princesa como um fantasma vivo. E é Mathon, uma cineasta prolífica que trabalhou em Portrait of a Lady on Fire e Atlantics, ambos de 2019, a responsável pela estética sombriamente divina do filme.
© Claire Mathon
© Claire Mathon
Filmar com uma lente de 16mm permitiu a amplificação assombrada de Diana. “Evoca, ao nível da imagem, uma aura fantasmagórica,” diz Mathon, notando o grão e a intemporalidade do filme. O cariz fantasmagórico foi intensificado pela luz que Mathon utilizou. Embora o filme tenha como pano de fundo o mês de dezembro, Mathon manteve as luzes quentes acesas e lareiras ligadas no maior número de cenas possível.
Mathon foi parcialmente inspirada pelas relações da Princesa Diana com o seus filhos, o jovem Príncipe Harry e Príncipe William. Embora Spencer tome várias liberdades com a narrativa de Diana, Larraín teve o cuidado de retratar Diana como uma mãe amorosa, com uma relação muito próxima e protetora com os seus filhos. (Príncipe Charles é largamente atirado para segundo plano, uma presença nociva que Diana tem de suportar durante ocasiões formais). Enquanto se estava a preparar, Mathon pesquisou várias fotografias de Di entre os anos de 1980 e 1991, e viu-se constantemente atraída pelas imagens da Princesa com os seus dois filhos, o que ajudou a inspirar o aspeto “mais tocante” de Spencer.
Ao contrário de Larraín, que afirmou que Diana foi uma figura presente em grande parte da sua infância devido à obsessão da sua mãe pela realeza, Mathon estava pouco familiarizada com a monarca enquanto crescia. "Para ser honesta, não era grande admiradora. Eu era talvez demasiado jovem", diz. “A Diana era um assunto não muito falado na minha família”.
Spencer foi o seu mergulho profundo na vida desta mulher, com Stewart a servir como um avatar inteiramente entregue à personagem. Mathon conheceu Stewart pela primeira vez durante um screen test, quando estava maquilhada e com uma peruca. Durante as filmagens, Mathon e a sua câmara estavam, frequentemente, a poucos centímetros do rosto da atriz, capturando close-ups vulneráveis. "Tive muitas vezes a sensação de que estava quase a tocar-lhe", diz Mathon. "Conseguia sentir a sua respiração e observava cada pequeno momento, o que ela estava a sentir e a forma como se movia”.
Tal como Larraín, Mathon não consegue explicar por que razão Stewart é uma atriz tão fascinante, mas ela é uma natural diante das câmaras: "A forma como ela age é tão natural e quase ingénua.”
© Claire Mathon
© Claire Mathon
Stewart tem trabalhado como atriz desde a sua infância, tornando-se explosivamente famosa após ter participado na saga Twilight, há mais de uma década. Desde então, tem vindo a gravitar em direção a uma carreira indie, com grandes êxitos em filmes como o Personal Shopper, de Olivier Assayas, e Clouds of Sils Maria. Spencer marca também um novo ponto alto, gerando um buzz de Melhor Atriz para a próxima edição dos Óscares pelo seu retrato de Diana. Talvez tenha ajudado o facto de Stewart ter uma compreensão inata dos efeitos esmagadores da fama, levando paparazzi para todos os lugares por onde passa, desde as ruas de Los Angeles até ao longínquo set de Spencer, em grande parte filmado no castelo Schlosshotel Kronberg, na Alemanha.
"Penso que nos sentimos protetores da Kristen", diz Mathon. "É algo que está incrivelmente presente na sua vida. Mas sinto que o filme foi muito mais forte… o filme conseguiu dominar o facto de eles estarem lá".
Artigo originalmente publicado na Vanity Fair.