Desfile: Louis Vuitton primavera/verão 2024. Fotografia: Launchmetrics Spotlight. Artwork: João Oliveira.
Parece roupa desportiva, mas não é. O “athleisure” é muito mais que isso. É aquilo que usamos quando queremos estar apresentáveis, confortáveis e aparentemente descontraídos — quando, na verdade, estivemos 45 minutos à procura das “leggings” certas.
Vamos diretos ao assunto: isto não tem nada a ver com os trapos que usámos por casa durante a pandemia de COVID-19. Aquelas camisolas de algodão, com dois ou três “buraquinhos”, aquelas calças de fato de treino dos tempos do liceu, aqueles hoodies que já foram à máquina de lavar demasiadas vezes. Tudo isso faz parte da nossa “roupa de guerra”, peças que guardamos indefinidamente não vá acontecer uma catástrofe — como aconteceu — e ser preciso ter reservas e mantimentos. Jamais nos apanhariam no Príncipe Real, ao domingo à tarde, com uma dessas relíquias vestidas. Contudo, se o tema for outro — parecido — , mas outro, aí já nos entendemos.
Aqueles calções que comprámos nos saldos de verão do ano passado, da nova marca de lifestyle americana (caríssima!), têm um propósito: brunch de fim de semana, fotografias para redes sociais, e eventualmente alguma saída à noite, combinados com uma camisa larga e uns saltos altos. Os ténis que mandámos vir do Japão (ninguém pode sonhar que pagámos tanto por portes...) não são para o ginásio, mas para conjugar com vestidos de flores, saias compridas de cetim e jeans de cintura descaída. As leggings de lycra modeladoras de padrão animal não têm como destino (apenas) as aulas de yoga, aliás, o suposto é irem diretas para a viagem que estamos a planear a Bali, só que como ainda faltam alguns meses vamos usá-las no dia a dia, são um básico. Podíamos continuar com um sem fim de exemplos (até os sacos onde se guarda “a roupa de treino” parecem ter-ser elevado à categoria de “carteiras de rua”), que no final chegaríamos à mesma conclusão: a roupa desportiva, ou aparentemente desportiva, está para ficar. Dos campos de ténis e dos ringues de boxe para as cidades, transformou-se em uniforme du jour, e deixou de ser aquilo que se usa “algumas vezes ao dia” para ser aquilo que se veste “durante o dia” — independentemente desse dia incluir, ou não, desporto.
Aprendemos a chamar-lhe sportswear, depois tomámos-lhe o gosto e agora damos-lhe um nome mais pomposo: athleisure. Parecidíssima com a roupa que usamos para treinar, é, na verdade, aquilo que vestimos quando queremos estar apresentáveis, confortáveis e aparentemente descontraídos — aquele cool muito blasé, a roçar “Isto? Estava mesmo em cima do armário, nem vi!”. Tal como afirmou Robert Williams, jornalista e editor de luxo da Business of Fashion, “o athleisure faz parte da casualização do luxo” — é um símbolo de status, uma nova forma de nos diferenciarmos de outra parte da população, que tem de usar um uniforme, ou roupas formais, para trabalhar; é também uma forma de dizer “eu tenho tempo para mim”, “eu cuido de mim”, porque mesmo se não envolver um pingo de suor, o athleisure indica que o bem-estar (ainda que milimetricamente pensado) é a primeira preocupação de quem o enverga. Até porque, hoje em dia, luxo significa poder aproveitar ao máximo o tempo, e decidir o que se faz com ele — incluindo fazer ou não fazer desporto. É um estilo que comunica a importância dada ao relaxamento, aos prazeres da vida, às coisas simples... aos pequenos luxos. Se isso implica ou não exercício... Depois logo se vê.
Publicado originalmente na edição "The Sports Issue" da Vogue Portugal, de junho/agosto 2024, disponível aqui.