Suor, seda e sombras: A renascença negra do cabelo em Dilara Findikoglu AW25

O aroma do cabelo, humedecido pelo tempo e pelo movimento, permanece no ar. Uma suave névoa de produtos, que se agarra às luzes dos bastidores, instala-se numa sala onde a beleza não é apenas feita, mas desconstruída, reimaginada e renascida.

Para o outono/inverno de 2025, a visão de Dilara Findikoglu situa-se entre dois mundos - um envolto em suavidade renascentista, o outro pulsando com a eletricidade crua de uma discoteca ao amanhecer. Nesta estação, a fusão torna-se tangível não só através da silhueta e do tecido, mas também através do próprio cabelo. Para isso, Eugene Souleiman, que se associou pela primeira vez à marca australiana de cuidados capilares e styling Kevin Murphy, tornou-se o arquiteto desta requintada colisão entre o passado e o presente.

Cortesia Kevin Murphy

“De forma sucinta, o look é baseado na interpretação da Vénus de Botticelli - uma visão muito romântica”, começa Eugene, com as mãos a moverem-se instintivamente através de uma cascata de ondas soltas, o seu toque é tanto alquimia como técnica. “Mas Dilara, sendo Dilara, não gosta de romance na sua forma mais pura - gosta de algo mais sombrio, algo um pouco mais distorcido.”

Cortesia Kevin Murphy

Fotografia à esquerda cortesia Kevin Murphy. Fotografias à direita Emma Rahmani

E distorcido é - não na forma, mas na intenção. O cabelo, dividido delicadamente ao centro, cai em ondas suaves e quase translúcidas, interrompidas apenas por tranças delicadas e quebradas que sugerem a história mas se recusam a ser confinadas por ela. O visual lembra a beleza leve do retrato renascentista, mas há algo mais - uma aresta, uma disrupção subtil, como uma pincelada arrastada sobre uma pintura ainda húmida.

Fotografia à esquerda Emma Rahmani. Fotografia à esquerda cortesia Kevin Murphy.

“O que fizemos foi pegar nesta suavidade renascentista e atirá-la para um mundo moderno. E o mundo que escolhemos é uma discoteca - um lugar onde o tempo se distorce, onde o suor e o movimento deixam a sua marca em tudo”, explica Eugene. “Queríamos que o cabelo parecesse ter vivido.”

Para o conseguir, Souleiman e a equipa de Kevin Murphy conceberam uma mistura personalizada - um cocktail de styling concebido para fazer a ponte entre a antiguidade e o fascínio fora de horas. O Motion Lotion, um bálsamo suavizante com um acabamento acetinado, encontrou-se com a textura arenosa do Hair Resort Spray - um spray de sal inspirado na praia -, os dois emulsionados com água e pulverizados sobre as raízes com uma precisão delicada.

Eugene Souleiman (ao centro) e a equipa

“É sujar, mas ao mesmo tempo limpar”, diz Eugène, com os olhos brilhantes pela emoção da contradição. “Quando se vai dançar durante horas, as raízes ficam húmidas, tocadas pelo calor da noite, enquanto as pontas ficam mais secas, ainda agarradas a alguma parte do dia anterior. Era isso que queríamos captar.” O processo foi instintivo - deixar o produto assentar, secar naturalmente ao ar, permitindo que os fios contassem a sua própria história. O toque final: Bedroom Hair - uma laca texturizante -, um murmúrio de textura nas pontas, dando uma sensação de naturalidade vivida. “Estamos a separar o cabelo, fazendo-o sentir-se sexy, real - como se tivesse passado por algo”.

E passou. Há uma intimidade neste tipo de beleza, a forma como imita a experiência em vez da perfeição. É a Vénus de Botticelli se tivesse saído da concha e entrado no brilho de néon de uma discoteca numa cave, os seus caracóis já não beijados pela luz divina, mas pelo peso dos corpos que se movem à sua volta.

Emma Rahmani

Mas não é apenas o estilo que esbate as linhas entre o passado e o presente, a suavidade e o limite. O próprio desfile apresentou uma manifestação física da fusão entre moda e cabelo - uma que transcendia totalmente a cabeça.

Emma Rahmani

Um casaco, esculpido inteiramente a partir de cabelo loiro, desfilou na passerelle, com as suas madeixas a ondularem com uma fluidez estranha. A peça de vestuário não era nem tecido nem puramente cabelo, mas algo intermédio - algo de outro mundo. Parecia que estava a respirar, como se tivesse vida própria. A forma como o cabelo se movia era estranha, sensual, quase senciente. A equipa trabalhou o Bedroom Hair nas madeixas, dando-lhes um pouco mais de textura, o suficiente para manter a forma e, ao mesmo tempo, permitir que mudasse e ondulasse à medida que a modelo caminhava. Era uma peça de vestuário no sentido mais lato da palavra, mas mais viva do que a maioria.

Emma Rahmani

Emma Rahmani

Talvez seja essa a tese final da beleza desta estação: controlo e caos, elegância e imprudência, romance e ruína. Uma pintura renascentista manchada nas margens, uma onda perfeitamente dividida que se desmorona sob o peso de uma longa noite. No mundo de Dilara Findikoglu, a beleza não é apenas vista - é sentida. Ela perdura, tal como a névoa do produto no ar, tal como o calor dos corpos que se movem no escuro.

Emma Rahmani

É suor, seda e sombra. É o passado desfeito, apenas para ser refeito novamente.

Emma Rahmani

Emma Rahmani