Com 26 letrinhas apenas se escreve “salvar o mundo”. Por isso, de A a Z, empregue-se ativamente o vocabulário que pode garantir nunca virmos a precisar de um planeta B.
Com 26 letrinhas apenas se escreve “salvar o mundo”: há termos e conceitos que são incontornáveis para fazer valer uma vida que impacte o menos possível a Terra. Por isso, de A a Z, empregue-se ativamente o vocabulário que pode garantir nunca virmos a precisar de um planeta B.
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Aquecimento Global Foi um mito durante muitos anos, ainda há quem o tente negar (olá, Donald Trump), mas hoje é impossível escapar-lhe. O aquecimento global é o aumento, a longo prazo, da temperatura média do planeta. A sua causa mais direta são as emissões massivas de gases (dióxido de carbono, metano) que intensificam o efeito de estufa, provocados, por sua vez, por atividades tão diferentes como a queima de combustíveis fósseis. Vários fatores, interligados, contribuem para o agravamento do aquecimento global, do crescimento populacional ao uso de fontes de energia poluidoras mas, no fundo, tudo se resume a uma coisa: o estilo de vida insustentável do mundo moderno.
Biofilia A hashtag #ILoveNature tem um sentido que vai muito além do cliché fotográfico. Mesmo que o seu utilizador não saiba que o amor à natureza, ou biofilia (junção de natureza, bio, e amor, philia) é um termo científico popularizado pelo biólogo americano Edward Osborne Wilson num livro lançado em 1984. A ideia sugere que o contacto com a natureza, em todas as suas variantes, é uma forma de reencontrar o equilíbrio físico e mental do ser humano. O conceito tem cada vez mais adeptos, e estende-se, hoje, a áreas tão distintas como a arquitetura.
Consumo Eu consumo, tu consomes, nós destruímos. Ao princípio era apenas uma forma de suprimir uma, ou várias, necessidades - de um indivíduo ou de um grupo. No entanto, as transformações operadas pela industrialização e, depois, pelo boom da tecnologia, revelaram uma outra face do consumo, a que representa sérios riscos para o planeta. Será sempre uma das principais atividades económicas da sociedade (baseia-se na aquisição, utilização e destruição de bens ou serviços), mas pretende-se cada vez mais consciente e responsável.
Degelo Seria impensável, há uma década, imaginar a Gronelândia como um enorme lago azul onde podemos chapinhar. Porém, é exatamente essa a imagem que temos, pelo menos quando acordamos para uma dura realidade: em junho de 2019, 712.000 km2 da superfície da ilha derreteu. Da próxima vez que se perguntar o que é o degelo, é isso: é a consequência mais direta do aquecimento global (ver letra A), que provoca uma diminuição do gelo na Terra.
Economia Circular É um modelo cíclico antidesperdício sustentado pela ideia de dar um novo valor a materiais e produtos já usados. Segundo a economia circular, que contraria o modelo linear de produção-uso-descarte, os produtos de hoje apresentam-se como os recursos do amanhã.
Fibras Chamam-se fibras às matérias-primas a partir das quais se criam os tecidos têxteis. Pense-se, por exemplo, no algodão, a mais popular fibra natural de origem vegetal. O linho e a ráfia (ambas de origem vegetal) e a lã e a seda (de origem animal) são outros exemplos de fibras naturais, que apresentam, regra geral, uma durabilidade superior às fibras sintéticas, como o poliéster e a poliamida (vulgo nylon). Já materiais como a viscose e o elastano pertencem à categoria das fibras artificiais.
[A] Granel Diz-nos o dicionário Priberam da Língua Portuguesa que “granel” é um montão de cereais. Imagine agora esse mesmo montão e imagine-se a dele retirar somente a quantidade de que necessita, pagando por essa porção e acondicionando os cereais num qualquer frasco de vidro ou num saco de pano. Comprar a granel é isto. É, no fundo, comprar produtos avulso, atendendo às necessidades individuais e com recurso a embalagens e a sacos não descartáveis que pertencem ao próprio cliente. Em Portugal, este método de compra ganhou um novo fôlego com o surgimento de lojas como a mercearia Maçaroca, no Porto, e a Maria Granel, em Lisboa.
H2O A água é um recurso precioso e saber poupar água já não é só uma sugestão, é um dever cívico. Reduzir o seu consumo, seja a fechar a torneira enquanto lava os dentes, seja a evitar os banhos de imersão ou a fazer máquinas de roupa com uma quantidade de peças considerável são apenas pequenos passos que não só reduzem a fatura mensal como - adivinhou - ajudam o ambiente.
Iceberg O gelo na Gronelândia está a derreter numa rapidez sem precedentes, a Islândia já perdeu o seu primeiro glaciar e se ainda houvesse dúvidas sobre o impacto do aquecimento global no degelo (e consequente extinção de icebergs), basta saber que julho passado foi o mês mais quente de sempre - sim, de sempre. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, exprimiu a sua preocupação da seguinte forma: “Sempre vivemos Verões quentes. Mas este não é o Verão da nossa juventude. Este não é o Verão dos vossos avós (…) Se não fizermos nada em relação às alterações climáticas, estes fenómenos meteorológicos extremos são apenas a ponta do icebergue”. Ou a ponta dos que restarem.
Juntos Não é à toa que existe a velha expressão "a união faz a força". A pressão em coletivo é uma das maiores forças impulsionadoras da mudança e, no caso do nosso planeta, não há motivos para não nos unirmos em prol de um mundo - e um futuro - melhor.
Kyoto Absolutamente histórico, o protocolo de Quioto foi o primeiro tratado internacional de ambiente. Proposto em 1997 (em Quioto, no Japão, e daí o nome), entrou em vigor em 2005 e foi assinado pelos 196 membros da CQNUMC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), como compromisso para reduzir a emissão de gases que agravam o efeito de estufa. O protocolo terminou em 2012, e a ele sucedeu-se o Acordo de Paris, assinado em 2015.
Lixo O lixo pode definir-se de várias formas em vários casos mas, na sua essência, é tudo aquilo que se deita fora, seja por não ter utilidade, por ter passado do seu prazo, por estar danificado, por ser um resíduo desnecessário. Em 2018, a ONU avançou que a Humanidade produz mais de 2 milhões de toneladas de lixo por ano, e que 99% dos produtos que compramos são deitados fora no espaço de seis meses.
Microplásticos São fragmentos de plástico minúsculos, menores que 5 milímetros, e dividem-se em duas categorias: os microplásticos primários definem-se como grânulos de resinas para o fabrico de plástico, enquanto os secundários resultam da fragmentação de plásticos com dimensões maiores, por degradação fotoquímica e abrasão. São uma das maiores ameaças para os nossos oceanos e para a vida marinha.
Natureza Provém da palavra latina “natura”, que significa “qualidade essencial, disposição inata, o curso das coisas e o próprio universo.” É tudo aquilo que nos rodeia e que não foi construído por nós, seres humanos. É tudo aquilo que devemos proteger e conservar, com todas as ações do nosso dia a dia, porque não é inesgotável.
Orgânico O mesmo que biológico. Tudo aquilo que evita pesticidas, fertilizantes sintéticos e processos de modificação genética.
Poluição Um estudo recentemente publicado na revista científica Atmospheric Pollution Research alerta para a elevada concentração de partículas ultrafinas na cidade de Lisboa, provocada pela intensa circulação aérea na cidade. As partículas ultrafinas são um fenómeno poluente, apenas detetado neste século graças à nanociência. Este é apenas um exemplo de poluição, mas há mais. Em sentido lato, poluir é introduzir, direta ou indiretamente, substâncias ou energia no ambiente, provocando um desequilíbrio com consequências negativas graves para a saúde de pessoas, animais e ecossistemas vitais para a sobrevivência do planeta.
Quintas Ou” farm to table”. Significa cortar intermediários, adquirindo os produtos de consumo rápido diretamente dos pequenos produtores. As vantagens económicas são óbvias, mas o verdadeiro ganho está em desperdiçar menos, poluir menos e consumir com mais qualidade e melhor.
Reduzir/Reutilizar/Reciclar São, como o próprio nome indica, um conjunto de medidas que visam evitar ao máximo a produção de resíduos. As medidas, que devem seguir esta ordem – reduzir, reutilizar e reciclar – foram lançadas pela primeira vez na Conferência da Terra, em 1992, realizada no Rio de Janeiro, no Brasil e, um ano depois, durante o 5º Programa Europeu para o Ambiente e Desenvolvimento. Mais recentemente, aos três R’s juntaram-se outros dois: repensar e recusar. A mensagem é, mais uma vez, reduzir os impactos de atividade humana no meio ambiente através da redução do consumo supérfluo e recusando meios de produção poluentes.
Sustentabilidade Significa que devemos usar de forma racional os recursos naturais, de forma a não comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. Mas o conceito não se esgota aqui. A partir da relação com o mundo que nos rodeia, a sustentabilidade exige que sejamos capazes de preservar não só o meio ambiente, como respeitar um conjunto de variáveis que estão ligadas às questões sociais, energéticas, económicas e ecológicas.
Temperatura Ainda que certos e determinados líderes mundiais não acreditem no aquecimento global, ele existe e já está a dar sinais de vida. A ONU no próximo dia 25 de setembro, no Mónaco, vai apresentar um relatório que alerta para alterações nos oceanos e na alimentação. E tudo isto acontece porque até agora nunca olhamos para o Planeta Terra como um recurso finito. Esta é hora de cuidar, mais do que nunca, do nosso Planeta.
Utilização única Dizer não é tão fácil como contar até três. Por isso, da próxima vez que lhe perguntarem se quer uma palhinha de plástico ou um saco de plástico, diga “não”. A mesma regra deve ser aplicada a todas as embalagens de utilização única. Reutilizar é tão bom e sabe bem.
Vegan Os gases nocivos libertados pela indústria animal são muito piores para o ambiente que o dióxido de carbono dos carros e o uso de recursos do planeta que este sector exige vão muito além das possibilidades do Planeta Terra. E não, ter uma alimentação vegan é tudo menos aborrecido, temos um roteiro que o comprova.
Waste Em português, desperdício. Empregue numa frase: é um desperdício o que estamos a fazer ao planeta. E é um desperdício porque fazemos demasiado desperdício: de comida, de embalagens, têxtil. Em tudo o que consumimos e que depois descartamos - porque nos fartamos, porque se sujou, porque é de uso único (ver letra U), descartamos porque sim, descartamos... porque não? -, há um impacto no planeta, cujos recursos renováveis perdem capacidade de renovação, consequência de testarmos os seus limites e os utrapassarmos. Mesmo que seja biodegradável. Mesmo que seja reciclável. Tudo tem um impacto - ainda que haja impactos melhores, como os orgânicos, e os piores, como os indestrutíveis. O ideal será, mais do que consumir melhor, consumir menos. Reduzir, Recusar, Reutilizar, como diz na letra R.
Xeriscape É o processo de paisagismo ou jardinagem que reduz ou elimina a necessidade de água suplementar da irrigação, muito utilizado em zonas com acesso diminuto a H2O, mas que agora está a tornar-se cada vez mais popular em áreas onde a água começa a escassear. Chegar a todo o mundo, independentemente desta condicionante, é prioritário numa altura em que a redução do consumo de recursos está na ordem do dia. A técnica difere da jardinagem normal pela seleção de plantas que precisam de menos água para sobreviver em oposição aos métodos normais, que se prendem com as melhores plantas, independentemente da sua necessidade de água, para determinado clima (ainda que o clima seja tido em conta no xeriscaping, também). O termo foi cunhado pela Denver Water em 1981, combinando a ideia de landscaping (jardinar) com o prefixo grego xeros, que significa seco.
Yes, we can Há muitas visões fatalistas sobre o assunto: a ida para Marte, a sexta Grande extinção (a da Humanidade) e a noção de que cada vez mais cedo no ano esgotamos a capacidade da Terra de renovar os recursos que (ab)usamos sem consciência. Mas as visões fatalistas abrem os olhos, mas não salvam a espécie. Pensar que o pior pode acontecer é um bom aha moment, mas acreditar que ainda é possível é a melhor força motora. Quem já faz um estilo de vida zero waste é o primeiro a garantir - e a mostrar - que Obama tinha razão.
Zero Emissões, desperdício, tolerância com quem trata o planeta como se as alterações climáticas fossem fake news. O termo zero é um termo utópico, ainda que não deixe de ser uma meta: a nossa passagem pela Terra tem sempre algum impacto, porque seremos sempre seu consumidores. O objetivo é reduzi-lo ao essencial para minorar esse impacto. Ou tentar compensá-lo devolvendo ao planeta: plantando árvores, compostando, tornando o impacto uma nocçao circular e não piramidal. Ecossistema em vez de Egossistema.
*Há muito mais sobre sustentabilidade na edição de setembro 2019 da Vogue Portugal - nas bancas.
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