Stella McCartney, Gabriela Hearst e Eugenia de la Torriente, diretora da Vogue Espanha
Stella McCartney, Gabriela Hearst e Eugenia de la Torriente, diretora da Vogue Espanha
“De repente, a palavra sustentabilidade está a ser muito, muito usada”, começou por dizer Stella McCartney durante um painel com Gabriela Hearst e Eugenia de la Torriente, diretora da Vogue Espanha, nas Vogue Global Conversations de ontem, dia 14 de abril. As designers juntaram-se à diretora para discutir como é que permanecem eco-conscientes e otimistas durante a pandemia do novo coronavírus.
“Pessoalmente, a sustentabilidade é um estado de espírito… trata-se de equilíbrio no final do dia. Para mim, o mais importante é usar os recursos naturais que a Mãe Natureza nos fornece e usá-los de maneira consciente, de uma maneira que não se esgotem”, concluiu McCartney.
Hearst concordou. “A sustentabilidade é uma prática. E como em qualquer prática, precisas de começar com algo desafiador mas ao mesmo tempo fazível e, à medida que a tua confiança e segurança aumentam, passas para um próximo desafio.”
Durante uma conversa de meia hora, as duas designers compartilharam detalhes sobre as suas práticas de sustentabilidade e debateram de que modo é que a indústria, num todo, poderia implementar processos mais ecológicos. “Poderíamos voltar à norma, mas espero que não”, disse Stella McCartney. “As pessoas que não pensavam da maneira como nós pensamos estão a começar a perceber que existe outra maneira. E isso dá-me esperança. Sei que há outra maneira e espero que as outras pessoas também possam perceber isso.”
Abaixo, três tópicos abordados nesta conversa
1. Ser sustentável leva tempo
Produzir peças ambientalmente conscientes leva tempo, algo que a indústria precisa de entender. “Na Stella McCartney, mais de 60% do bem ambiental que fazemos é olhar para o material de origem e trabalhar com anos de antecedência”, afirmou McCartney. “Trabalho com as mesmas fábricas que muitas Casas de luxo trabalham, mas com bastante antecedência porque quero usar as minhas colheitas de uma forma mais eficiente, quero ter [os materiais] transportados com mais eficiência, quero ter menos pesticidas. E isso demora mais tempo.”
Hearst acrescentou que encontrar métodos alternativos de produção não é de todo um processo simples. “Até 2021, temos o objetivo de [fabricar os nosso produtos] com pelo menos 80% de materiais não virgens”, confessou. “Estamos a trabalhar há meses para ‘caçar e colectar’, como eu costumo dizer, para as nossas coleções de resort e primavera/verão. Pelo menos 60% dos nossos materiais são provenientes de matérias que já existem.” Nesta primavera a designer vai lançar “The Garment Journey”, um QR Code que vai estar presente na etiqueta de cada uma das suas peças com o processo detalhado de como cada peça foi feita.
2. O desperdício é uma falha do design
“Ser sustentável é aprender a trabalhar dentro de limitações e parâmetros, o que, na minha opinião, é ótimo para a criatividade”, confessou Hearst. “Como a Stella estava a dizer, não vivemos com recursos naturais infinitos. Temos que equilibrar a produção e o consumo… No final das contas, o desperdício é uma falha do design. Não existe na Natureza.”
“Temos que parar e considerar o desperdício. Está fora de controlo”, reiterou McCartney, apontando para números que mostram que, durante esta quarentena no mês de fevereiro, as emissões de carbono na China diminuíram 25%. “Vimos como, num período tão curto de tempo, a Natureza é incrível, como é que ela se recupera tão rapidamente quando paramos por um segundo. Isto é tão esperançoso. Seremos capazes de curar o Planeta Terra? Parece que sim. […] Temos que sair desta situação com mais esperança. Temos que perceber que estamos a consumir em excesso.”
"Temos que perceber que estamos a consumir em excesso.” Stella McCartney
Tanto Stella como Gabriela apontaram o uso de materiais reciclados e de tecidos sustentáveis como uma maneira de reduzir o desperdício. “Na Stella McCartney, o maior ponto positivo ambiental que não seja o fornecimento é que não estamos a matar animais, e isso realmente tem uma pegada positiva enorme e maciça naquilo que, ambientalmente, ganhamos e perdemos. Isto é um facto. Talvez o bom disto seja que as pessoas diminuíram a velocidade, fazem mais perguntas e são um pouco mais atenciosas”, confessou McCartney.
3. A sustentabilidade é sobre qualidade e não quantidade
“No final do dia, todos os bons valores que colocamos no nosso produto não serão suficientes para que as pessoas comprem”, afirmou Gabriela Hearst sem rodeios. “As pessoas precisam de o comprar porque é um bom produto, porque está bem projetado. […] Ninguém vai comprar o teu produto pelas boas intenções.”
A designer continuou explicando que crescer numa quinta no Uruguai a ensinou que a qualidade e sustentabilidade estão intrinsecamente ligadas. “Aprendes sobre a sustentabilidade através de uma perspetiva muito utilitária. Precisas de criar produtos que durem. Sempre vivemos e consumimos com muito pouca coisa, mas eram feitas para que pudessem suportar a força da Natureza.”
"Ninguém vai comprar o teu produto pelas tuas boas intenções.” Gabriela Hearst
“Aprendemos a crescer [o nosso negócio] com qualidade e não quantidade”, confessou Hearst, observando que optou por não vender as suas carteiras, uma oportunidade que poderia duplicar o crescimento da marca, porque isso significaria ter que duplicar os recursos consumidos. “Estamos muito atentos ao crescimento estratégico e à não superexposição e distribuição excessiva.”
“Nós ainda podemos ter aquelas peças intemporais incríveis, desejáveis, elegantes e bem feitas, como diz Gabriela, mas quando voltarmos à normalidade, com uma nova visão, temos que usar [os materiais] de uma forma mais eficiente e com respeito”, acrescentou McCartney. “Todos sabemos como é que estávamos a praticar as coisas, mas podemos fazer melhor. Acho que agora é a hora de fazer perguntas e quando voltarmos à normalidade, agir."