Desde flores artificiais a padrões florais, nesta semana de Alta-Costura os maiores nomes da Moda contrariam o curso da natureza.
Desde flores artificiais a padrões florais, nesta semana de Alta-Costura os maiores nomes da Moda contrariam o curso da natureza.
Foi no icónico Devil Wears Prada (2006) que Miranda Priestly, proferiu as eternas palavras “Florals? For Spring? Groundbreaking.” Nesta Semana da Alta-Costura em Paris, a diretora da revista fictícia Runway ficaria certamente orgulhosa. Quebrando todas as expectativas, a simbologia floral foi uma das maiores tendências da estação. Desde Schiaparelli a Chanel, de Fendi a Giorgio Armani Privé, as flores assumiram o protagonismo, quer em padrões florais, quer em gigantes réplicas que floresciam fora de vestidos. Como que numa mensagem para o mundo, designers como Maria Grazia Chiuri e Daniel Roseberry exigem a primavera, mesmo com dias cinzentos à nossa frente.
© ImaxTree
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Ainda que o tema tenha sido comum, as abordagens foram, como seria de esperar, completamente distintas. Na Chanel, Virginie Viard optou por uma abordagem mais subtil, intercalando delicadas flores com o clássico tweed. Num look um matching set de tweed bege com o casaco aberto permite a visão de um top composto por sequentes flores intercaladas. Num casaco cor de rosa, o tweed assume a forma das flores, formando dezenas de pequenos cut-outs nos espaços onde as flores não se encontram. Seguiu-se uma miríade de vestidos com padrões florais, fluindo perfeitamente pela passerelle.
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Também Maria Grazia Chiuri utilizou flores como ponto de referência na coleção de outono/inverno 2022 da Christian Dior Alta-Costura. No que foi uma colaboração com a artista ucraniana Olesia Trofymenko, bordados tradicionais serviram como base para uma coleção repleta de referências mitológicas. A árvore da vida é assumidamente o ponto de começo da coleção, com frequentes alusões a simbolismos botânicos. Os padrões florais surgiram tanto em elaboradas rendas presentes em vestidos, como em impactantes bordados em jaquetas. O destaque da coleção foi, no entanto, os luxuosos trench coats que, em subtis bordados, criaram uma miragem de padrões florais, visível à medida que a modelo se movia.
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Em Giambattista Valli, o tule que já se tornou sinónimo da marca é manipulado em bustos de vestidos, de forma a se assemelhar a rosas. Estes verdadeiros bouquets de tecido estiveram também presentes como mangas de vestidos curtos. Em Fendi Alta-Costura, as propostas para o outono/inverno 2022 incorporaram temas florais em delicados vestidos de renda quase impercetível. No que foi uma coleção dedicada ao seu amor pela cultura japonesa, Kim Jones baseou-se em iconografia botânica para criar matching sets em vicunha. Em Giorgio Armani Privé o tema floral encarnou silhuetas, padrões e verdadeiras esculturas dinâmicas. Destaca-se um look em específico, um vestido cor de rosa com peplum feito para imitar a aparência de uma flor, complementado com um busto decorado com cristais ordenados num padrão floral.
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De todos os que aderiram à mais recente tendência, o mais surpreendente será com certeza Daniel Roseberry. Desde que entrou como diretor criativo da Schiaparelli, o designer americano alcançou um verdadeiro renascimento da marca no mundo da Moda. Nas suas mãos, a marca francesa volta às suas raízes surrealistas, honrando o importante legado de Elsa Schiaparelli. Roseberry tem-se mantido fiel à estética que trouxe consigo para a Maison, com uma paleta de cores e silhuetas idiossincráticas. Nesta estação, esta estética é intercetada pelas populares flores. Desta vez na sua iteração mais dramática, com florescimentos falsos a saírem para fora de vestidos. Utilizando flores das mais variadas espécies, Roseberry cultiva verdadeiros jardins nas suas modelos. A simbologia floral faz parte do ADN da marca, intimamente ligadas à vida de Elsa Schiaparelli que, quando era criança, colocava sementes de flores nos ouvidos, boca e nariz para que se pudesse tornar mais bonita.
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Num desfile em que o penúltimo look foi um vestido azul com uma pomba branca na mão, Schiaparelli sumariza a razão por detrás desta forte representação floral na Semana De Alta-Costura parisiense. Roseberry descreve a necessidade “retornar a uma espécie de inocência criativa, ao estado de espanto e admiração quando vemos pela primeira vez uma coleção transcendente.” As flores são o derradeiro elemento decorativo, sem nenhum tipo de função prática, o seu valor reside quase somente na sua estética. A Moda, como outras formas de arte, é um reflexo dos tempos que passamos e, nesta Semana de Alta-Costura, materializou-se o desejo de felicidade e beleza, exterior a um que se parece desmoronar. Sequiosa do que a vida tem de bonita, a Moda fez florescer as passerelles de Paris.