Em janeiro chega a frescura do Resort - até porque já nos esquecemos do outono e ainda é cedo demais para pensar no verão.
Em janeiro chega a frescura do Resort - até porque já nos esquecemos do outono e ainda é cedo demais para pensar no verão.
Colégio interno
Da esquerda para a direira: Miu Miu, Marni e Chanel ©D.R.
Daqui a três meses, vamos estar a elaborar logos e profundos discursos sobre a tendência colegial, que nos chegará mais em fetiche do que em realidade, mais em menina marota de banda desenhada do século passado – com direito a tudo, de saias plissadas a meias subidas – do que em jovem que, de facto, vai à escola. Mas Resort, numa espécie de transição para que este tipo de preppy não nos caia a seco no estômago, conta a mesma história com um tom diferente. Mais masculina, mais austera, mas britânica do que americana também, a pré-estação inclina-se para os blazers, as boinas, os cardigans. Há branco, vermelho e azul, claro, mas também há a severidade do tempo frio, a austeridade das regras, que alivia, claro, porque os uniformes sempre nos fizeram lembrar uma juventude onde as únicas rédeas eram as do vestuário.
Tinge-me que eu gosto
Da esquerda para a direita: Pringle of Scotland, Balenciaga e Prabal Gurung ©D.R.
O tie-dye voltou [pausa para sirenes de bombeiros, gritos de pânico, helicópteros furiosos, um T-rex gigante que cospe fogo numa metrópole, um buraco aberto no chão e Satanás, lá em baixo, a dizer-nos “Bem-vindos, o mundo acabou”]. Já está? Ok, ainda não [outra pausa para pôr as contas em dia, escrever o testamento, dizer na cara de toda a gente o que sempre achou inadequado – e se calhar é]. Pronto, avancemos. O tie-dye voltou e não há nada a fazer, porque o tie-dye sempre foi tão in your face que não vai resultar assobiar para o lado ou desejar com muita força que o tal T-rex seja real. Mas calma, isto é bom. É bom porque o tie-dye só está de regresso porque estamos preparados para ele. O mundo precisa de uma dose de doçura psicadélica, que nos mexa com o comodismo, que nos levante o traseiro da cadeira, que atire as riscas para 2007 que é onde elas pertencem. O tie-dye até teve respeito pelo nosso estado frágil e vem mais manso, vagaroso, mais suave. Deixou o arco-íris nos anos 60 e, no máximo, brinca com três tonalidades. Assim, docemente, para não ferir suscetibilidades, mas trazendo com ele a dose de terapia de alegria de que tão desesperadamente precisamos.
Elementar, minha cara Jessica
Da esquerda para a direita: Fendi, Gucci e Balenciaga ©D.R.
Não minta: cada vez que está a fazer zapping e passa por Crime, Disse Ela, fica a ver. “É só um episódio”, pensa, sabendo que se está a mentir. Cinco horas depois já se esqueceu que o mundo não tem um crime em cada esquina e está a indagar-se por que raio não tem o armário de Angela Lansbury. Bom, a Moda ouviu. O Resort está pejado de saias plissadas que chegam até ao fim dos joelhos, de blusas com laçadas que emolduram o rosto perspicaz, de sapatos em pele elegantes mas feitos para perseguir malfeitores, carteiras para pôr ao ombro mas que, haja necessidade, também funcionam como arma de arremesso. É o melhor dos anos 80, esta elegância contida, que vai na volta ainda rouba aos 50s um lenço em seda para tapar o cabelo e umas luvas de condução para aquelas perseguições perigosas. O crime só compensa quando estamos bem vestidas – não vá aparecer agora a Fashion Police.
Resort de quatro estrelas
Da esquerda para a direita: N.21, Miu Miu e Coach 1941 ©D.R.
Para além de significar a pré-estação que antecede a primavera, todos sabemos o que quer dizer resort. Aqueles lugares paradisíacos onde o mundo exterior desaparece e o único problema é decidir entre a piscina, o spa ou o buffet. Mas o que também existe em muitos dos resorts – e não estamos aqui a incluir os de luxo supremo – é uma ostentação desmedida, onde os dourados e os rosas‑plásticos e as palmeiras se sucedem sem dar descanso nem fôlego. É mais ou menos o que se passa nesta tendência, cheia de Miami e Palm Springs, numa homenagem aos sunsets de tons adocicados. Fazem-no ironicamente, sarcasticamente, e o resultado é uma injeção de leveza neste inverno que serve como dress code para as aves migratórias que partem agora para poisos mais quentes.
English breakfast
Da esquerda para a direita: Stella McCartney, Fendi e Alexander McQueen ©D.R.
No século XIX, usar bordado inglês no Reino Unido era muito como usar lantejoulas hoje em dia: obrigatório. Pensa-se que tenha nascido na República Checa, perto do século XVI, mas os vitorianos britânicos tomaram-lhe tanto o gosto que se apropriaram da técnica e até lhe deram o nome. Percebe-se. O bordado inglês é extremamente belo, mas não é portentoso, não é demasiado vistoso. É comedido, diga-se, bem-comportado. Foi por isso que não cansou e foi por isso que desceu na história até ao nosso resort, todo em branco puro e casto, em vestidos longos e blusas curtas, em decotes largos e mangas em balão. É como aquelas frases inspiracionais muito cliché que dizem para se começar o ano a olhar para o futuro como uma página em branco. Ou algo assim.
Realização: Cláudia Barros e Larissa Marinho
*Artigo originalmente publicado na edição de janeiro de 2019 da Vogue Portugal.