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To be continued: Dress for excess

08 May 2023
By Ana Murcho

Há quem lhe chame “hedonismo pós-pandémico”, outros preferem referir-se a ele como um movimento, uma espécie de roaring twenties do século XXI. Seja qual for o caso, a verdade é que a Moda está a pas- sar por uma fase de euforia que se espelha nas tendências que agora vemos um pouco por todo o lado. Depois de anos de athleisure e dis- crição, é hora de escolher as peças que gritem “main character energy.”

Há quem lhe chame “hedonismo pós-pandémico”, outros preferem referir-se a ele como um movimento, uma espécie de roaring twenties do século XXI. Seja qual for o caso, a verdade é que a Moda está a passar por uma fase de euforia que se espelha nas tendências que agora vemos um pouco por todo o lado. Depois de anos de athleisure e discrição, é hora de escolher as peças que gritem “main character energy.” Em março de 2021, exatamente um ano depois do início da pandemia, Jonathan Anderson apresentou a coleção outono/inverno da Loewe de uma forma (muito) peculiar: através da publicação de um jornal Loewe, onde se lia, na primeira página, “O desfile da Loewe foi cancelado.” As 900 pessoas que normalmente assistiriam ao show, e que estavam confinadas, receberam a publicação, que chegou às edições de fim-de-semana de títulos como o Le Figaro ou o The New York Times. O que também estava nesse jornal era um excerto no último livro de Danielle Steel, The Affair. A justificação, segundo Anderson, era a “oportunidade” que aquele momento proporcionava. A coleção, repleta de padrões geométricos e cores eletrizantes, seguia a mesma linha de pensamento do designer inglês: “O hedonismo está ativado”, disse à Another Magazine. “As pessoas estão desesperadas por voltar a ter uma relação tátil com o mundo. [...] Estou a ver que vai haver um renascimento da discoteca. Se eu estou desesperado para ir a uma discoteca, nem quero imaginar o que um jovem de dezasseis anos está a sentir.” Era este sentimento, esta excitação, que anunciava as próximas temporadas das Semanas de Moda. “Não tenhas medo de ser vulgar, só aborrecido”, costumava dizer Diana Vreeland, para quem o excesso era sempre melhor do que a simplicidade. O seu olho crítico ficaria desanimado com o recato e a modéstia que, durante muitos anos, pautaram as coleções de muitos criadores. O gosto pelo minimalismo, que começou por ser uma forma de por em prática a máxima “menos é mais”, transformou-se numa espécie de seita, que aniquilava qualquer tentativa de humor e diversão - a Moda levou-se demasiado a sério, durante demasiado tempo. Até que veio um vírus estranho e alienígena, que nos empurrou para casa e nos obrigou a usar calças de fato de treino vinte e quatro horas por dia. Não tínhamos para onde ir, não tínhamos porque nos arranjar. Aquela alegria infantil de escolher o que vestir de manhã perdeu-se, e durante quase dois anos fomos reféns de um uniforme cujo único propósito era ser prático e confortável. Claro que, depois disso, a bolha tinha de rebentar. As pessoas estavam cansadas de se olhar ao espelho e verem sweatshirts de algodão com borbotos. Onde estava o glamour, a extravagância, o va-va-voom? Do outro lado da esquina. Fast forward para a primavera/verão de 2023, onde quase todas as coleções gritam euforia e entusiasmo. De Coperni a Blumarine, passando por Moschino, Altuzarra, Roksanda, Gucci, Molly Goddard, Simone Rocha ou Loewe (não esquecendo Giambattista Valli, que apesar de ser mais couture que pronto-a-vestir, surpreendeu com tons candy e cortes playful), quase todas as marcas apostaram em looks fora da caixa, que celebram o começo de uma nova fase, em que os constrangimentos da pandemia ficam definitivamente para trás. Longe vão os dias em que apenas podíamos ir à rua por escassos minutos. Agora é altura de festejar o regresso à vida, com folhos, cetins, rendas, latex, e todos os materiais que evitámos durante demasiado tempo. Os vestidos demasiado curtos, as leggings de padrão tigresse, os casacos com lantejoulas, os óculos de sol XXL, as blusas em lamé que gritam anos 80... tudo isso é válido, porque tudo isso grita felicidade e magia. Como dizia Iris Apfel no documentário em que narra as suas memórias, “o estilo é curiosidade e sentido de humor.” Esta é a altura para escolher as peças com mais personalidade do nosso guarda-roupa. São essas que têm “main character energy.”

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