Antes que os motores de busca escolham estes vocábulos como os mais populares de 2020, a Vogue adianta-se e propõe um conceito mais humano, e mais unificador, para ficar na memória deste ano que ainda vai a meio: o conceito de empatia.
Entraram de rompante no nosso dia a dia e, de um momento para o outro, passaram a ser as palavras mais repetidas do nosso vocabulário. Pandemia. Vírus. Confinamento. Medo. Contágio. Distanciamento. Morte. Antes que os motores de busca escolham estes vocábulos como os mais populares de 2020, a Vogue adianta-se e propõe um conceito mais humano, e mais unificador, para ficar na memória deste ano que ainda vai a meio: o conceito de empatia. Está escrito em todas as paredes de todas as ruas por onde não temos andado. Amor com Amor se ganha.
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All you who sleep tonightFar from the ones you love,No hands to left or right,And emptiness above - Know that you aren’t alone.The whole world shares your tears,Some for two nights or one,And some for all their years.
All You Who Sleep Tonight, Vikram Seth
Nos últimos meses, enquanto metade do planeta decidiu declarar guerra à COVID-19, um pequeno país no sudoeste do Oceano Pacífico optou por uma abordagem diferente. A Nova Zelândia, isolada do resto do mundo pela sua geografia peculiar, escolheu uma estratégia onde a tónica estava no respeito, na compreensão, na empatia. Em vez de proclamar o combate contra o novo coronavírus através de metáforas bélicas, definiu uma mensagem que exortava os habitantes a unirem-se contra a COVID-19. Por mais do que uma vez, a primeira-ministra, Jacinta Ardern, referiu-se à nação como a "nossa equipa de cinco milhões". Por mais do que uma vez, sublinhou a importância de um confinamento total que iniciou muito antes de qualquer outro estado. Os resultados estão à vista: com poucas mortes per capita e um número reduzido de infetados, o país começa lentamente a voltar ao normal. E fá-lo com o sentido de missão cumprida. Porque o sofrimento, e a dor, que são sempre os maiores danos colaterais em qualquer pandemia, conseguiram ser eliminados. À custa de um sentimento muito antigo, muito old school. Essa ideia do “juntos venceremos.”
As palavras importam. Dependemos delas para comunicar, para transmitir os nossos sentimentos, para nos expressarmos. Mas as palavras não são fáceis de usar. As palavras não são fáceis de escolher - bem pelo contrário. Como tantas vezes percebemos, as palavras podem ser armas. As palavras ferem. As palavras magoam. Presos nessa tempestade de emoções que é a nossa vida diária, nem sempre temos tempo para pensar nas coisas que dizemos, como as dizemos, e qual será a consequência desse discurso - por melhor ou pior que seja. Não há atos que valham mil palavras, nem vice-versa. A nossa história é um todo, que depende de decisões contínuas, que se interligam, hoje, amanhã, depois. Não foi diferente durante esta pandemia, não será diferente depois. Talvez possamos tirar um momento e pensar em como todas essas novas palavras que agora usamos de ânimo leve podem afetar o mundo - e as outras pessoas; dar um passo atrás e ver se seria possível dar novos significados a “medo”, “contágio”, “vírus”, “quarentena”, “doença”. Será que precisamos de as repetir até à exaustão? Será que temos mesmo de insistir no lado menos bom e ignorar o lado melhor? Será que existe uma alternativa, um escape, um caminho, que possamos seguir, em vez de nos focarmos no que nos deixa cada vez mais afastados, assustados, aterrorizados?
Como seria se nos colocássemos no corpo de outra pessoa por um momento? Seria empatia. Porque, diante de “distância”, “morte”, “confinamento” e todas essas palavras que agora repetimos como algo “normal”, apenas a noção de empatia poderia fornecer uma resposta. E essa resposta é, de alguma forma, uma mensagem de amor. Muitas vezes tomamos como garantidas certas reações, quando nem o desejo, ou a vontade dele, conseguimos expressar. Muitas vezes antecipamos o “não” quando esperamos o “sim” e, por via do medo, provocamos o “nim”. Muitas vezes pomos palavras onde estão silêncios, colocamos pontos de exclamação onde deveriam estar reticências, encontramos o fim da linha onde estava apenas uma paragem, causamos distúrbios para afagar o barulho que nos assusta - e o barulho era, afinal, apenas fogo de artifício. O mundo é um lugar gigante, habitado por seres humanos, todos com experiências de vida diferentes. O sítio onde todos nos encontramos para fazer desse mundo um lugar melhor é a empatia. Que seja essa, e nenhuma outra, a palavra mais importante de 2020.
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