Fotografia: Paula Codoner
“Acredito no amor absoluto, que dura toda a vida, sei que existe porque o vivi, mas talvez exija uma qualidade que eu não tenho, um [tipo de] abnegação que me falta.” Fanny Ardant, uma das mais conceituadas atrizes francesas, pronunciava-se recentemente sobre a ideia de “amor absoluto”, aquele que dura uma vida inteira, que nunca acaba. Mas afinal o que é que caracteriza este tipo de amor incondicional? Mais importante ainda: será que ainda acreditamos nele?
“É uma questão de estender a nossa atenção sem julgamentos, aceitação e carinho a uma pessoa sem qualquer expectativa ou esperança de receber algo em troca, ou querer que ela mude para satisfazer as nossas necessidades”, esclarece John Amodeo, PhD, terapeuta matrimonial e familiar e autor do livro Dancing with Fire: A Mindful Way to Loving Relationships. “É quando a felicidade e a segurança do outro é tão real e significativa para nós como a nossa, [quando] amamos essa pessoa incondicionalmente”, acrescenta Stephen G. Post, PhD, presidente do Institute for Research on Unlimited Love. As explicações dos especialistas americanos, dadas ao site Oprah Daily em agosto de 2022, servem para aumentar ainda mais a confusão: será que a ideia (romântica) que temos de amor incondicional, essa ideia (romântica) de amor total, simples e eterno, é uma coisa assim tão simples? Se sempre foi difícil encontrar uma forma de amor o menos imperfeita possível — uma que abarcasse, ao mesmo tempo, conceitos como compromisso, sedução, magia, respeito, afeição e borboletas na barriga, hoje é ainda mais complicado afirmar que alguém está disponível para se curvar perante quem quer que seja em prol de um sentimento (de um ideal?) que parece em vias de extinção. Num mundo que vive a correr, onde cada um de nós luta desenfreadamente para não perder o amor-próprio, o mais importante tipo de amor que alguma vez encontrará, será sequer possível ser altruísta ao ponto de amar sem esperar nada em troca — nem que seja um abraço, uma mensagem, um like, um meme? É impossível saber. O amor nunca é igual, e a cada início de relação começa uma sinfonia a duas vozes que marca o ritmo e o compasso desse amor. Se os dois envolvidos forem emocionalmente estáveis e felizes, é provável que o final seja feliz. Não eternamente feliz, não incondicionalmente, feliz, apenas feliz. Caso contrário, se pelo menos um estiver preso a sentimentos negativos, que podem ir de coisas sérias como a amargura e a hostilidade, a menos sérias, como a insatisfação e o ciúme, o futuro será tóxico — para os dois. Na verdade, o mais provável é haver, oito em cada dez vezes, alguém menos contente e positivo, porque o ser humano não é, por natureza, cem por cento nobre de espírito. Temos defeitos, temos falhas, aprendemos com os erros. Em vez de amor incondicional, devíamos sonhar com outro tipo de amor: o amor sem condições. Aí está uma coisa para manifestar ainda antes de acabar 2023.
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