“Smoke and mirrors”, uma técnica de magia que faz com que algo pareça estar a pairar num espaço vazio - e que, por razões óbvias, também se adequa aos meandros da vida real.
Nem tudo é o que parece, diz o ditado. Nós acrescentamos: há coisas que claramente não são o que parecem e que, além disso, aparentam ser mais, ou menos, do que aquilo que são. Nesses casos, estamos perante aquilo a que os ingleses chamam de “smoke and mirrors”, uma técnica de magia que faz com que algo pareça estar a pairar num espaço vazio - e que, por razões óbvias, também se adequa aos meandros da vida real.
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É uma das expressões mais conhecidas da língua inglesa. Uma espécie de “aqui há gato.” O Collins Dictionary define-a como sendo um conjunto de “informações irrelevantes ou enganosas que servem para obscurecer a verdade de uma situação”, e aponta a sua origem para os espetáculos de fantasmagoria, onde a ilusão e a realidade se misturavam, criando dúvidas na mente do espectador. Poderíamos dizer que “smoke and mirrors” é a suma de tudo o que está errado no mundo moderno, tantas são as fake news e as meias verdades em que tropeçamos diariamente, mas o termo vai muito além disso.
Documentada pela primeira vez em 1770, é uma técnica de magia que usa, tradicionalmente, uma lanterna mágica ou um projetor de imagem e uma fonte de luz para lançar sobre uma nuvem de fumo conjurada no ar para retratar ilusões de flutuação, existência e desaparecimento de objetos. Amplamente difundida pelo charlatão Johann Georg Schröpfer, que afirmou que as aparições eram espíritos conjurados, foi usada nos espetáculos de fantasmagoria do século XIX, ainda que o ato de criação e projeção de imagens remonte aos tempos primitivos dos teatros de fantoches, nomeadamente na China e na Índia, como uma forma de contar histórias e de entretenimento. Este conceito acabaria por dar origem, por exemplo, à filosofia presente na obra A Alegoria Da Caverna, de Platão.
Com raízes etimológicas na palavra alemã smēocan (“emitir fumo”) e na palavra latina mirare (“olhar para”), o primeiro uso conhecido do termo surgiu na biografia How The Good Guys Finally Won: Notes From An Impeachment Summer, publicada em 1975 e escrita pelo jornalista político James Breslin, que contou o escândalo Watergate em primeira mão. Breslin alude várias vezes ao impeachment e à esfera política através de metáforas como “blue smoke and mirrors”, em que os mágicos usam fumo e espelhos para realizar ilusões como fazer desaparecer objetos enganosamente.
No final do século XX, o termo tornou-se comumente usado para descrever o complexo sistema de cultura política e assuntos de media e publicações em todo o mundo. Tal como acontece agora. O que nos leva a uma questão essencial, colocada por um internauta no site Quora: Será que grande parte do universo é apenas um monte de fumo e espelhos? “Não, o mundo inteiro é fisicamente muito real. [...] O que é smoke and mirrors representa 95% do que as pessoas fazem.” Por outras palavras, o planeta até existe, mas o resto, quase a totalidade, não passa de uma gigantesca ilusão, levada a cabo por nós próprios, os seus habitantes. É tudo uma questão de sabermos distinguir o fumo do seu reflexo no espelho.
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