De acordo com Albert Einstein, “a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.” O mesmo é dizer: o tempo é algo relativo. Mas o físico alemão vai mais longe. Para ele, o tempo de uma pessoa não é o mesmo tempo de outra. Além disso, sugere que quanto mais parados estivermos, mais depressa o tempo avança. Parece complexo, e é.
De acordo com Albert Einstein, “a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.” O mesmo é dizer: o tempo é algo relativo. Mas o físico alemão vai mais longe. Para ele, o tempo de uma pessoa não é o mesmo tempo de outra. Além disso, sugere que quanto mais parados estivermos, mais depressa o tempo avança. Parece complexo, e é.
São 17 o número de resultados apresentados no dicionário Priberam quando pesquiso a palavra “tempo.” Parecem muitos. São poucos. Como tema abstrato que é, mas tão presente, quase banal, na vida de todos nós, torna-se complexo pôr em palavras o que é que este representa. Nomeadamente o tempo do cosmos, do universo, o tempo que vai muito além daquele que nos mostra o relógio. E sobre isso o que se pode dizer é… relativo. Escreveu Einstein que a “diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.” Em 1905, o físico alemão afirmou que tempo e espaço eram relativos e que se encontravam profundamente entrelaçados. O criador da Teoria da Relatividade referia-se ao facto de o tempo ser, como o próprio nome indica, relativo. A melhor forma de entender a Teoria seria olhar para o tempo como uma espécie de caminho que somos obrigados a percorrer. Por exemplo: mesmo que esteja parado/a a ler este texto, a verdade é que continua a mover-se no tempo. Afinal, os segundos passam, como um comboio que avança para o futuro a um ritmo constante. Até aqui tudo bem. O que Einstein constatou de genial é que esse tal “comboio do tempo” passava mais rápido para uns e mais devagar para outros. E que, para fazer o tempo passar mais devagar, bastaria movimentarmo-nos. Foi nesta sua conclusão que a minha primeira dúvida se manifestou. Sempre acreditei na ideia de que quanto mais parados ou desligados estamos mais lentamente o tempo passa por nós. E que se estivermos distraídos ou a viver intensamente o tempo passa num ápice. Passei um par de dias a tentar entender a Teoria da Relatividade. O meu filho, que é um às da ciência, elucidou-me: “Mãe, não é esse tempo. É o outro tempo.” Fiquei ainda mais confusa.
“Mas qual outro tempo? Existe sequer outro tempo além deste tempo?” E seguiu-se mais outro par de dias a marinar nestes conceitos, confusos mas científicos — e, por isso, lógicos? E por isso lógicos. Começo com um exemplo retirado da minha vida pessoal. Estou numa relação amorosa há cerca de três anos e meio e, tanto eu como ele, dizemos muitas vezes que mais parece que estamos juntos há 300 anos. A verdade é que nestes míseros três anos muita coisa aconteceu. Eventos, momentos, vivências e contratempos… Digamos que tem sido uma relação cheia de “vida” e pouco ou absolutamente nada monótona. Na minha perspetiva anterior de tempo, este teria voado. No entanto, e eis a Teoria de Einstein a erguer-se, é exatamente o contrário que se passa. É preciso que o tempo esteja a passar muito lentamente para que haja “tempo” e espaço para que tanta coisa possa acontecer. Para que tantos eventos possam caber em três anos. O tempo é relativo, já percebemos isso. O meu tempo não é o tempo de quem me está a ler. A questão que podemos fazer (e que vai muito além da ciência), será então qualquer coisa como: de que forma é que poderemos aproveitar o tempo e fazê-lo render, digamos assim? Já que não o podemos parar, como é que podemos fazer para que este, pelo menos, não voe à velocidade da luz? Segundo Einstein, tudo no universo se move a uma velocidade distribuída entre as dimensões de tempo e espaço. Para um corpo parado, o tempo corre a uma velocidade máxima. Mas quando o corpo começa a movimentar-se e ganha velocidade na dimensão do espaço, a velocidade do tempo diminui para este, passando a passar (passe a redundância) mais devagar. Trocados por miúdos, poderíamos dizer que quanto mais vida couber dentro da nossa vida mais nós podemos, senão “parar o tempo”, pelo menos esticá-lo. Quando era criança tinha uma ideia de vida muito pouco clara. A vida que observava ao meu redor — da minha tão tradicional e clássica família às tão tradicionais e clássicas vidas das pessoas ao meu redor — não me fazia o maior dos sentidos. Pensava: “Mas é só isto? Crescer, casar, ter filhos, arranjar um ‘emprego’ (palavra que até hoje abomino), ser avó e eventualmente morrer?” A ideia aterrorizava-me sem sequer entender porquê, já que supostamente seguimos os modelos que temos em casa. Hoje, com 40 anos, olho para trás e é evidente que a minha vida foi tudo menos “clássica.” Consciente ou não, parece que a minha sede em querer fazer o tempo parar e em querer aproveitá-lo ao máximo fez com que tivesse uma vida “bastante intensa.” Cheia de avanços e recuos, repleta de experiências, uma mão cheia de acontecimentos que a têm feito de tudo menos monótona — e longa, muito longa.
Se quisermos desenhar um paralelismo com a Teoria de Einstein que nos diz, por outras palavras, que parar é morrer, acredito que seja um bocadinho isso que a vida nos pede. Confúcio, pensador e filósofo chinês, lançou o seguinte desafio: “Qual seria a sua idade se não soubesse quantos anos tem?” Vejo por vezes tantas mulheres na casa dos 30, 40 anos (jovens, portanto) com uma aparência tão envelhecida, como se tivessem desistido das suas vidas enquanto as entregam de bandeja à mesmice da vida. Penso: “Como o tempo avançou destemidamente para estas mulheres…” Mantenho o meu pensamento: “E logo casos de pessoas que têm vidas tão aparentemente certinhas — não deveria o tempo tê-las tratado melhor? Por que é que este se deixa refletir desta forma tão abrupta nos seus rostos, como se as tivesse atropelado, qual comboio enfurecido?” A resposta, mesmo se não definitiva, pode estar na afirmação do famoso filósofo alemão Arthur Schopenhauer: “As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo.” Vejamos: não é que tenhamos todos de viver a uma velocidade furiosa, como se não houvesse amanhã. Até porque se chega a determinadas alturas da vida em que a ideia de se ficar impávido e limitado a ver-se o tempo passar, não se assemelha, de todo, a uma má ideia. O que não significa uma vida inteira de marasmo. Há ainda uma outra forma de se transcender os portões do tempo e do espaço. Em Interstellar (2014), filme de ficção científica que (também) aborda a questão da teoria espaço-temporal, Amelia Brand (interpretada por Anne Hathaway), expõe este pensamento: “O amor é a única coisa que transcende o tempo e o espaço. Talvez devêssemos confiar mais nisto, mesmo que não o entendamos.” O realizador do filme, Christopher Nolan, tentou mostrar que, quando algo abstrato como o tempo pode ser fisicamente representado num buraco negro, também pode o amor. Para os entendidos, aquele filme é muito mais acerca desse amor que transcende até os limites do tempo do que de ficção científica. O mesmo se passa com este texto, porque uma coisa é a ciência, outra é a vida. E a vida não vem nos livros, e não se sequer provada e comprovada por teorias meio loucas de homens de bigode branco e olhar alucinado — com todo o respeito, Einstein. A vida é esta coisa delicada que não perde tempo nem espera por nós. E o tempo é esse conceito abstrato que tanto nos empurra para a ilusão do passado como do presente. Ambos caminham para a frente, para o futuro. Mesmo que não lhes acompanhemos o ritmo.
Artigo parte da Time Issue da Vogue Portugal, publicada em novembro 2021.For the english version, click here.
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