“Se há 20 anos soubesse o que sei hoje, faria tudo igual.” Costuma-se dizer que a vida é o que acontece enquanto estamos distraídos a fazer planos. Não se tratando de uma verdade absoluta, é mais que certo que a vida raramente se desenrola como nós a idealizamos. Claro que só percebemos isso “mais tarde”, quando olhamos para a adolescência com a ternura de quem já aceitou os sobressaltos do destino. E está tudo bem.
“Se há 20 anos soubesse o que sei hoje, faria tudo igual.” Costuma-se dizer que a vida é o que acontece enquanto estamos distraídos a fazer planos. Não se tratando de uma verdade absoluta, é mais que certo que a vida raramente se desenrola como nós a idealizamos. Claro que só percebemos isso “mais tarde”, quando olhamos para a adolescência com a ternura de quem já aceitou os sobressaltos do destino. E está tudo bem.
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Vinte anos são muitos dias e em duas décadas cabe muita vida: inúmeros sonhos interrompidos, copiosos planos que não chegaram nunca a ser, mas também uma data de surpresas, resmas de reviravoltas e espanto até dizer basta. Em suma, a vida a acontecer. É curioso refletirmos acerca dos sonhos que desenhámos para nós na adolescência porque, no final das contas, estes ficam onde devem ficar, que é na adolescência. Não sendo esta uma regra absoluta, a verdade é que na idade da puberdade e toda a fase que esta abraça, sabemos muito pouco — seja sobre nós mesmos, seja acerca da vida. E, por não sabermos, nem tudo o que pensamos que é, é. E nem tudo o que julgamos ansiar é aquilo que realmente almejamos. Isto, porque a vida é o que é suposto ser; e porque muito do que achamos que vai ser — ou como vai ser — não o é. Parecendo confuso e complexo, até é (mas a vida é assim mesmo, messy e confusa). Tenho no meu braço direito uma frase tatuada que, fazendo alusão à canção de Édith Piaf, diz “Je Ne Regrette Rien” (não me arrependo de nada). Tatuei-a numa altura em que me fui apercebendo — ou antes, realizando —, de que todos os episódios, entre peripécias, casualidades e/ou sucessos, que me foram sucedendo ao longo da vida, tiveram um intuito.
Tiveram, na grande maioria das vezes, o seu propósito e conduziram-me, arrisco dizer que quase sempre, a um lugar de maior entendimento — sobre mim, a respeito da vida e do que é que estamos “aqui” a fazer. Cada pessoa tem a sua conceção acerca de qual será o desígnio final da vida, mas no meu entendimento o objetivo de “aqui” estarmos é conhecermo-nos e evoluirmos enquanto pessoas e seres humanos. De certa maneira, não estamos cá para cumprir aquilo que achamos que deveremos ser, mas antes aquilo que a vida considera ser mais acertado para nós, aquilo de que mais precisamos, independentemente de ser ou não agradável. Como diriam os Rolling Stones: “You can't always get what you want / But if you try sometime you'll find / You get what you need”. Não obstante todas estas suposições, o sonho comanda a vida. Ser-se um adolescente cheio de desejos, metas e objetivos faz parte da existência humana, e ainda bem que assim é. Os sonhos outorgam sentido à vida. Está comprovado que aqueles que não sonham sentem a vida como sendo algo meaningless: ficam desanimados, deprimidos e não têm uma motivação por aí além.
Os sonhos — ou propósitos — concedem a força necessária quando é preciso seguir em frente, encarar os desafios da vida e não desistir diante das dificuldades e dos inúmeros “nãos” que esta nos oferece de bandeja. Digamos que sonhar faz bem e recomenda-se. E na adolescência, sendo uma etapa tão desafiante, é crucial que se sonhe, que se sonhe muito. Entre os meus teenage dreams, que foram mais que muitos, vejo hoje, e com orgulho, que alguns se realizaram. Nomeadamente, escrever. Particularmente, escrever para a Vogue. Porque os sonhos são também a gasolina da nossa vida — eles conduzem-nos, dão-nos sentido de direção. Outros sonhos ficaram pelo caminho. Contudo, de muitos desses sonhos já nem me recordo com precisão, talvez porque não fizessem parte do meu destino. Em simultâneo, outros há que podem ser recuperados mais tarde, porque enquanto há vida há esperança — e se esta for acompanhada por uma boa dose de vontade, melhor ainda.
No início de 2022, após uma série de anos repletos de desafios e adversidades, resolvi começar a fazer ballet. Tinha andado no ballet com seis anos — todas as meninas da minha aula o faziam —, mas na altura aquela atividade não me fez sentido, por isso desisti. Com o passar dos anos dei por mim uma apaixonada por bailados e uma ávida seguidora desta atividade. Quando, já com 40 anos, resolvi entrar num estúdio de ballet, apaixonei-me perdidamente por esta prática. Tornou-se parte de mim e da minha vida, danço quatro a seis dias por semana e noto em mim um talento que eu mesma sinto ter desperdiçado no dia em que, sem fazer a menor ideia de que no futuro iria sentir tal paixão assolapada, desisti. De cada vez que olho para o meu braço e leio a frase “não me arrependo de nada”, penso que talvez me arrependa, sim. Talvez me arrependa de não ter dado continuidade ao ballet, porque se o tivesse feito talvez fosse hoje uma principal dancer na Royal Ballet School ou na Vaganova Ballet Academy.
Talvez. Ou talvez não. Mas é precisamente este talvez que nos trama. É este talvez que nos contorce o pescoço colocando-nos frente a frente com o passado enquanto cismamos no “e se…”. Acontece que nem o “talvez” nem o “e se…” nos levam a lugar algum, porque o passado já lá vai e tudo o que temos é o hoje e o agora. “Vale mais tarde do que nunca”, assevera o dito popular, então por que não recomeçar o ballet aos 40 anos? Respondendo à questão “Where is my teenage dream?”, diria que está onde deve estar: no passado. Nos sonhos que não chegaram a ver a luz do dia, nos diários atolados de fantasias, nos instantes que foram, passaram e por lá ficaram. E lá ficaram porque lá pertenciam, ao passado, há vinte anos atrás. Como diria o filósofo e escritor Allan Watts: “Dei-me conta de que o passado e o futuro são ilusões reais.” Já o presente, fazendo jus ao seu nome, esse consegue ser a maior dádiva que existe.
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