Depois dos 11 do seu Zoomsday Report de há um ano, sobre as previsões para as mudanças no nosso estilo de vida para 2021, a trends forceaster regressa com um relatório para o ano que se segue.
Depois dos 11 do seu Zoomsday Report de há um ano, sobre as previsões para as mudanças no nosso estilo de vida para 2021, a especialista em Comunicação e RP, trends forecaster e vice-presidente sénior de Comunicação da Philip Morris International, regressa com um relatório para o ano que se segue.
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E o número de items sobe para o dobro - são 22 pontos numa lista que dá o pontapé de saída para o "caos". Como assim? Salzman explica tudo.
01. O caos dominante
Diz que foi o tema do seu relatório de 2020, e "agora é um fenómeno em esteróides". Caos, aqui, é apenas um vocábulo impactante para falar da complexidade que se avizinha, uma complexidade maior do que aquela que podemos antever e, como tal, vai parecer caótico tentar lidar com isso. Desde os novos formatos de trabalho à crise económica e social e às alterações climáticas, tentar ordenar o ambiente que nos rodeia será tarefa ingrata, pelo que Salzman recomenda aceitá-lo, fazendo gestão de expectativas, e arranjar formas de lidar com o inesperado, o que está fora do alcance do nosso controlo, num ano que vai exigir muito jogo de cintura da nossa saúde mental. É por isso também que deverá haver uma emergência de opções que induzem calma e clareza, como semanas de trabalho reduzidas, novas terapias e uma crescente procura por psicotrópicos.
02. A angústia é o novo normal
A nova geração, ao contrário das suas predecessoras, chega sob a égide dos problemas climáticos, da pandemia, da incerteza económica, por isso, se a angústia era uma realidade em tempos idos, agora, mais do que nunca, é uma espécie de estado de espírito em velocidade cruzeiro. Os jovens de agora não olham para um futuro recheado de promessas e prosperidade, nem esperam que a sua vida seja melhor do que a dos seus antepassados, o que pode desencadear uma atitude radical de reforma coletiva ou o abraçar de ideais que coloquem o eu no centro - seja o eu individual ou coletivo, apoiando políticas nacionalistas.
03. A saúde mental cada vez mais na ordem do dia
À medida que a discussão em torno da sanidade mental se torna um tópico cada vez mais normalizado e reconhecido, a sociedade também vai desenvolvendo ferramentas para endereçar o tema e soluções para atenuá-lo, seja através de programas, seja através de tecnologia (como apps que se conectam com acessórios que rastreiam o neurofeedback). O objetivo, que parte não só do indivíduo, mas também de entidades empregadoras, é abordar problemas de saúde mental e encorajar a manutenção da sanidade psicológica.
04. Estamos a trabalhar nisso
Os métodos de trabalho estão a mudar, essa previsão não é nova, mas ainda não definimos totalmente como serão os empregos do futuro: nem o indíviduo sabe exatamente o que quer, nem as empresas sabem qual o equilíbrio entre condições e benefícios. Não será uma novidade dizer que o teletrabalho e as opções hibridas daí decorrentes já são uma realidade e continuarão a sê-lo, mas a tendência será para fazer uma cisão cada vez maior entre o horário de expediente e o tempo off do trabalhador.
05. Esquadrão das skills
Saber fazer é maior do que apenas saber: numa altura em que tudo é pesquisável e que o acesso ao conhecimento é cada vez mais democratizado, as empresas vão procurar cada vez mais os que têm skills, nomeadamente na área da engenharia informática. O futuro ditará que os profissionais façam um upgrade do seu set de skills (upskill) ou que aprendam um set totalmente novo (reskill) para um CV mais competitivo.
06. Beleza Americana - mas não tanto
As Terras do Tio Sam têm vindo a perder o allure de outros tempos. A super-potência já não parece tão super à luz da instabilidade política, negacionismo e racismo sistémico que transparece do país para o mundo e já nem as séries e o Cinema os colocam no pódio do entretenimento, longe das outras indústrias culturais mundiais. O sonho americano tem vindo a dissipar-se nos últimos anos e parece que vai continuar num sono profundo.
07. O que acontece às cidades?
O décimo item do Zoomsday Report de Marian Salzman já falava no êxodo citadino, com muitos, uma vez que o teletrabalho se tornou uma realidade, a procurarem o campo para usufruir das vantagens do slow living fora da azáfama das capitais, mas mantendo o emprego e income habitual; ao mesmo tempo, Marian referia um repensar dos centros urbanos para se tornarem mais aprazíveis aos seus residentes, com mais zonas verdes, por exemplo. Agora, o novo relatório traz para a mesa esta última opção, focada ainda mais em trazer as vantagens do campo para a cidade, como, por exemplo, ter tudo o que um habitante precisa a uma distância de 10 a 15 minutos a pé ou de bicicleta da sua residência ou local de trabalho, não esquecendo, claro, um planeamento urbano mais interligado com a natureza, pensando ainda em infraestruturas atléticas, zonas verdes e quintas urbanas. A potencial desvantagem: uma fragmentação ainda maiior das discrepâncias socioeconómicas.
08. A emergência do hiper-localismo (uma vez mais)
Estamos cada vez mais voltados para a comunidade numa altura em que o local se tonou o novo global e 2022 não vai fazer muito para mudar isso. Pelo contrário: os custos da mobilidade cada vez mais altos e esta entreajuda na vizinhança como fator de apelo tornou ainda mais relevante este viver localmente. Mais tarde ou mais cedo, a ânsia de viajar para longe voltará com mais veemência, mas até lá - e enquanto a pandemia continuar a ditar contornos imprevisiveis -, desfrutar das redondezas é o fruto mais apetecido.
09. Os novos vilões: tecnologia de topo e redes sociais
Não é novo que o ser humano tem uma necessidade de categorização e isso é válido para o bom, o mau e o vilão. E, neste caso, numa altura em que o mundo é cada vez mais complexo, pode ser um alívio poder simplesmente identificar os maus da fita, sem zonas cinzentas. Com os escândalos de fuga de dados e a falta de confiança nos gigantes da tecnologia, como o Facebook, estamos a repensar a nossa privacidade e estamos menos disponíveis para aceitar e acreditar em companhias que parecem agir de má-fé.
10. Os loucos anos 2020: hedonismo mudo pós-covid
Se os anos 20 foram uma época de excesso e celebração, um século depois assiste-se ao oposto: homewear é o novo flapper dress, com os lares a oferecerem cada vez mais incentivos para serões caseiros, socializando digitalmente e usufruindo de serviços de streaming.
11. Os agentes de mudança e os cultivadores de coesão
As empresas como agentes de mudança - ou seja socialmente responsáveis e ambientalmente sustentáveis, dando o exemplo aos consumidores que exigiam este género de postura - continua a ser um fator relevante, mas a ele junta-se agora os que conseguem encontrar um equilíbrio no meio do caos. A incerteza dos métodos ideais, nomeadamente no trabalho, pedem um editor que retire daí algum sentido e que identifique as melhores formas de produtividade, benéficas de parte a parte e coerentes com os tempos pandémicos. São estes cultivadores de coesão que chegarão - seja internamente ou através de outsourcing - para identificar a melhor maneira de repensar o espaço, o tempo e o impacto de tal reestruturação nas métricas de satisfação dos funcionários.
12. Tudo em híbrido
O jogo das cadeiras entre o tele-tudo e o presencial continua, com as empresas a tentarem perceber a melhor forma de conciliar a vontade do remoto dos trabalhadores e a vontade dos empregadores em ter a força de trabalho no escritório. O entendimento entre as duas vertentes terá de ser continuamente afinado, numa tentativa de agradar a todos, ao mesmo tempo que os departamentos de comunicação também tentam encontrar formas de comunicar para o seu cliente que seja um hibrido entre o físico e o digital.
13. O que é uma escola?
No futuro, será algo entre um edifício imponente e a sala de casa. O remoto provou ser uma realidade e na escola, esse intermédio não será diferente: a formação também fará parte dessa palavra-chave que é o "híbrido".
14. Ciência admirada, ciência temida
O poder da ciência impressiona-nos tanto quanto nos assusta: a vacinação em tempos de Covid-19 é apenas um exemplo de uma dúvida ainda maior - a intervenção genética e manipulação de genes, cujo alcance tem tanto de esperança como de receios, nomeadamente no que diz respeito à manipulação de imperfeições que, obviamente, estarão ao alcance dos que puderem pagar, desencadeando assim uma cisão ainda maior no que diz respeito a privilégios.
15. Linguagem geek no metaverse
Não somos engenheiros informáticos (muitos de nós), mas já tratamos termos como "algoritmo" por tu. Agora que outros emergem - como o metaverse -, será que vamos ser tão versados nele como noutros com os quais nos familiarizamos? Marian Salzman parece acreditar que será inevitável que faça parte do nosso vocabulário geek.
16. Valor Virtual
A migração para o virtual é uma realidade incongruentemente cada vez mais palpável e 2022 parece vir a consolidá-la.
17. Desigualdade
A única intolerância que vamos tolerar é a intolerância para com as desigualdades - sociais, de género, raciais. E esta tomada de posição, que não é nova, mas é cada vez mais notória, mudará, seguramente, os desenvolvimentos políticos, sociais e até corporativos.
18. A preocupação com a água
Não só com a falta de água, mas tudo o que tenha a ver com a influência da água nas nossas vidas: das correntes ao degelo, H2O está no topo das prioridades para garantir um controlo e a prevenção das alterações climáticas.
19. As trincheiras
A ideia de estar na fila da frente ganha contexto civil, nomeadamente numa altura em que são os civis - como os profissionais de saúde - que combatem na linha da frente. Os trabalhadores ganham ranking militar metafórico para um termo que não é só aplicado a um quotidiano civil, mas que também chama a atenção para a remuneração destes funcionários mais expostos.
20. Fazer do não-sexy, sexy
E há pouco que seja menos sexy que a ideia de infraestruturas e logística. São vitais para a vida moderna e o futuro pretende torná-los num tópico atraente à medida que é necessário discutir cada vez mais as cadeias de distribuição, as smart-cities, a sustentabilidade citadina.
21. O meio desaparecido
Ficar no meio é ser morno - no meio, afinal, não é onde está a virtude, porque não são os que estão no centro que estão a implementar agendas ou fomentar mudanças. A polarização é uma realidade mais e mais notória e o próximo ano não fará nada para apaziguá-lo. Estaremos cada vez mais em pontos opostos, numa atitude de "se não estás comigo, estás contra mim"? E como podemos chegar ao meio-termo, se nunca conseguimos ver o que está do outro lado?
22. Batalha de palavras
Saber escolher as palavras caiu em desuso e o abuso do vocabulário está a impedir que os mais ponderados consigam intervir. O barulho de quem não mede o que diz está a entrar em conflito com aqueles que percebem que uma nova era de inclusão é cada vez mais necessária e, por isso, norteiam as suas frases com isso em mente. Mas sofrem oposição de quem está em desacordo, impedindo que aqueles que estão no meio - o meio desaparecido - preste atenção às injustiças em vigor uma vez que só ouvem o barulho da discussão gramatical.
PS: Ainda em 2021, a Vogue Portugal deste mês faz o follow up do Zoomsday Report com casos reais, num artigo para ler no The Time issue, nas bancas.