De Julia Ducournau a tornar-se a primeira mulher galardoada com uma Palme d’Or a título único, até ao domínio da passadeira vermelha por Tilda Swinton e Bella Hadid, estes são os melhores momentos do regresso triunfante ao festival.
De Julia Ducournau a tornar-se a primeira mulher galardoada com uma Palme d’Or a título único, até ao domínio da passadeira vermelha por Tilda Swinton e Bella Hadid, estes são os melhores momentos do regresso triunfante ao festival.
Memoria © Kick The Machine Films
Memoria © Kick The Machine Films
Em maio de 2019, a 72ª edição do Festival de Cinema de Cannes terminou com a atribuição da Palme d’Or ao realizador e argumentista sul-coreano Bong Joon-ho por Parasite, uma obra-prima cinematográfica que recebeu fortes elogios por todo o mundo. (Mais tarde, este viria a ganhar quatro Óscares pelo filme, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Realizador, na cerimónia de 2020.)
Após o seu ansiado regresso à Riviera a 6 de julho - o festival foi adiado o ano passado devido à pandemia - Cannes esteve, da mesma forma, nas primeiras páginas dos jornais de todo o mundo, e a sua 74ª edição ficará para a história como uma das mais memoráveis.
Das presenças icónicas na passadeira vermelha aos filmes que darão que falar no próximo ano, estes são os melhores momentos do Festival de Cinema de Cannes de 2021.
Tilda Swinton esteve em todo o lado
É comum as estrelas chegarem à Riviera francesa com mais de um projeto associado ao seu nome. Em 2021, dominaram duas atrizes em particular: Léa Seydoux, com quatro filmes na seleção do festival, e Tilda Swinton, com três. Contudo, após Seydoux ter desistido do evento principal por ter testado positivo à Covid-19, foi Swinton quem assumiu o papel de destaque.
Ao aparecer em The Souvenir Part II (no papel de mãe de Honor Swinton Byrne, a sua filha na vida real), em The French Dispatch, ao lado deTimothée Chalamet, e em Memoria, um filme supernatural, difícil de digerir, Swinton marcou presença no festival quase desde a noite de abertura até à cerimónia de fecho, vestindo sempre Haider Ackermann ou Loewe na red carpet.
Os filmes asiáticos tiveram o seu momento
Depois da grande vitória de Parasite, em 2019, diversos realizadores da Ásia ou de descendência asiática encontravam-se presentes na seleção para 2021, e o seu trabalho não desapontou. Um dos filmes de destaque foi After Yang do realizador coreano-americano Kogonada, uma fascinante longa-metragem de ficção científica leve, que contou com a participação de Colin Farrell e Jodie Turner-Smith. Também Justin Chon, em em Blue Bayou, apresentou a história de uma criança coreana adotada acidentalmente sem documentação, tendo sido deportada dos Estados Unidos já enquanto adulta.
Na competição principal do festival, tanto o filme previamente mencionado, Memoria, do realizador tailandês Apichatpong Weerasethakul, como o Drive My Car, do japonês Ryûsuke Hamaguchi, venceram grandes prémios; o Prémio do Júri e o de Melhor Argumento, respetivamente. No fundo, foi um ano importante para o cinema asiático, comprovando a crença há muito presente de que o poder de contar uma boa história é universal.
Jodie Turner-Smith e Kogonada © Getty Images
Jodie Turner-Smith e Kogonada © Getty Images
Nem a Covid-19 estragou o momento
Como muitos outros eventos, a edição de 2020 do Festival de Cinema de Cannes foi cancelada devido à pandemia. Em 2021, o festival tomou medidas extremas com o intuito de manter o número de casos baixo, tendo requerido junto de cada cidadão não europeu presente no festival um teste a cada 48 horas. No final, nenhuma cerimónia teve de ser cancelada devido à Covid-19 e, durante os dez dias do evento, com milhares de visitantes e centenas de sessões, apenas 70 casos foram identificados - estatísticas que podem servir como medida base para eventos culturais de larga-escala no futuro.
Os looks de Bella Hadid destacaram-se
É óbvio que, mesmo com a pandemia, certas celebridades não podiam deixar de marcar presença em Cannes - Bella Hadid foi uma delas. Ao participar na primeira semana do festival enquanto convidada da Chopard, a supermodelo destacou-se pelos seus looks escolhidos para as diversas estreias e festas, com a assinatura do stylist Carlos Nazario.
Hadid usou um vestido de marabu da Lanvin para o jantar da Chopard, vestiu John Galliano nas ruas da cidade, e optou pela recriação de um vestido monocromático de Alta-Costura de Jean Paul Gaultier para a noite de abertura do festival. Mas foi o look escolhido para a estreia de Tre Piani, de Nanni Moretti, que ficou marcado na nossa memória: um vestido preto, justo, com um espantoso colar de pulmões dourados com pedras incrustadas, desenhado por Daniel Roseberry para Schiaparelli. No ano em que uma grande parte das celebridades optou por ficar em casa, Hadid apareceu com tudo.
Novas estrelas nasceram
Diversos atores emergentes veem o lançamento da sua carreira em Cannes e seguem para construir percursos notáveis. Em 1976, Jodie Foster, então com 13 anos, tornou-se numa estrela em ascensão com Taxi Driver, quando este venceu a Palme d’Or. Este ano, na cerimónia de abertura, Foster recebeu uma Palma honorária pelas contribuição feitas à sétima arte.
Entre o talento emergente presente no festival está a vencedora do prémio de Melhor Atriz, a norueguesa Renate Reinsve, que fez dos críticos fãs com o seu papel na comédia romântica de humor negro, The Worst Person in the World. Anos antes, Reinsve tinha planeado desistir da sua carreira cinematográfica até ao realizador Joachim Trier a ter escolhido para o seu novo filme. Hoje, aos 33 anos, Reinsve é celebrada enquanto personagem principal da bizarra comédia de que todos falam.
Também outros nomes emergentes saíram de La Croisette. No filme de Wes Anderson, The French Dispatch, a atriz franco-argelina Lyna Khoudri deixou a sua marca ao contracenar com Chalamet, a novata Agathe Rouselle protagonizou o controverso filme Titane, enquanto que, em Paris, 13th District - o novo romance gentil do vencedor da Palma de 2015, Jacques Audiard - Lucie Zhang desempenhou na perfeição o papel de uma jovem mulher que experiencia as complexidades do amor moderno.
The French Dispatch © Searchlight
The French Dispatch © Searchlight
Uma mulher ganhou a prestigiada Palme d’Or
Desde que o Festival de Cinema de Cannes foi fundado, em 1946, apenas uma outra realizadora tinha ganho o prémio de destaque. Foi Jane Campion, em 1993, com The Piano - embora o elogio tenha sido partilhado com o realizador chinês Chen Kaige.
Em 2021, foi feita história com a jovem autora francesa, Julia Ducournau, a tornar-se a primeira mulher a vencer a Palme d’Or a título único, com o provocante filme de horror corporal Titane. A obra cinematográfica conta a história de um bailarino erótico que se envolve num crime violento e num desaparecimento, abordando ainda de forma bizarra e sexual o mundo dos muscle cars. É apenas o segundo filme de Ducournau, após o sucesso de 2016, Raw.
Foi uma escolha surpreendente, já que Cannes tem a reputação de premiar filmes conservadores, maioritariamente realizados por homens com carreiras marcantes - mas não completamente inesperado tendo em conta o presidente do júri, o realizador do filme Do The Right Thing, Spike Lee. Lee acidentalmente revelou que Titane tinha vencido a Palme d’Or poucos minutos após a cerimónia ter começado, mas Ducournau não pareceu importar-se. “Esta noite foi perfeita porque tem sido imperfeita”, gracejou a realizadora enquanto subia ao palco para receber o prémio das mãos da atriz e apresentadora convidada Sharon Stone, não tendo conseguido conter a emoção durante a merecida ovação feita pelo público.
Titane © Carole Bethuel
Titane © Carole Bethuel