Define-se como um sonhador e acaba de lançar Playground, o seu primeiro livro de fotografia. A Vogue conversou com o fotógrafo Ricardo Gomes sobre as suas inspirações, os seus projetos e a influência que Portugal tem no seu trabalho.
Define-se como um sonhador e acaba de lançar Playground, o seu primeiro livro de fotografia. A Vogue conversou com o fotógrafo Ricardo Gomes sobre as suas inspirações, os seus projetos e a influência que Portugal tem no seu trabalho.
"A arte é um jogo entre todos os homens de todas as eras". A frase, da autoria do artista francês Marcel Duchamp, parece servir que nem uma luva a Playgrond, o primeiro livro de fotografia de Ricardo Gomes. Com uma seleção de 800 imagens pela objetiva do português, e editado por Benjamin Blanck, o novo projeto é uma visão apaixonada e melancólica da juventude, com instantes contemporâneos e intemporais, e retratos de artistas, celebridades e modelos.
A propósito do lançamento de Playground, a Vogue conversou com o fotógrafo, que nasceu na Madeira e reside em Paris, sobre a influência da terra natal no seu trabalho, as suas diversas inspirações e os seus projetos mais especiais.
Quem é Ricardo Gomes?
Ricardo Gomes é um sonhador. Sempre pensei que os sonhos se podem tornar realidade. Desde criança queria mais e mais, até que cheguei ao ponto de assumir que é maravilhoso estar vivo e fazer o que gostamos, e quis estabelecer-me num sítio onde me sentisse em casa, onde pudesse fazer as coisas a meu tempo, e dar o meu melhor.
Em três palavras, como defines o teu trabalho fotográfico?
Eu diria luz, espelho e sonho.
Onde encontras inspiração para as tuas imagens?
Música, é a minha maior inspiração - faz-me viajar, não importa onde esteja. Também adoro filmes dos anos 50, e as cidades de Londres, Nova Iorque e Los Angeles nos anos 60, 70, 80 e 90, que me inspiram imenso. Andar na rua e observar as pessoas, o movimento e a atitude, a vida em geral. Com ou sem a câmara, os meus olhos fotografam tanto, tornou-se um vício. Às vezes pergunto-me se tive outra vida à frente das câmaras, onde morri novo como o River Phoenix, e voltei para me expressar através da objetiva, e deixar as coisas bem claras.
Playground é o teu primeiro livro. O que nos podes contar sobre este projeto?
É um projeto que sempre quis concretizar, mais do que fotografar uma campanha de moda, ou fotografar para uma grande revista. Para mim, este livro é um espelho do que eu gosto, e daquilo em que acredito enquanto fotográfo. É um mistura de retratos e viagens, pessoas com quem trabalhei e que me inspiram. Adorava que todas as pessoas que tiverem oportunidade de abrir Playground possam viajar, cada uma à sua maneira, sem estarem presentes fisicamente, mas sim psicologicamente.
Este livro é uma compilação de 800 fotografias. De todas as imagens que foram selecionadas, tens uma favorita?
Tenho uma ligação especial com todas as fotografias, desde os retratos, que são um momento que passei com cada pessoa, às viagens e momentos de "espera" para que a fotografia que desejo aconteça. Tenho que admitir que adoro o retrato do Francisco Lachawski, ou do Noé Elmaleh. O surfista de costas no início do livro também é interessante. Passei horas na praia de Hossegor, em França, a fotografá-lo. Mesmo estando de costas, sinto que está presente.
Já fotografaste nomes de peso como Sex Pistols ou Pete Doherty, e colaboraste com Zadig & Voltaire, GQ ou L'Officiel Hommes. De todas as tuas experiências, podes contar-nos aquela que te foi mais especial?
São definitivamente experiências e magias diferentes, fotografar o Glen dos Sex Pistols em Londres, na área onde ele vive e sempre viveu, é magnífico. Pete Doherty é muito especial, tem um caráter magnífico, muito humano. Das experiências mais marcantes que tive até hoje, foi fotografar Yohji Yamamoto. É uma das pessoas com um dos percursos de vida mais interessantes que tive o prazer de conhecer, e ouvi-lo falar é tocante. Quando fotografas alguém como Yohji, a maneira como ele se senta, acende um cigarro e olha para ti enquanto fotografas, é uma energia tão forte, adorava conseguir explicar. Por outro lado, a fotografia de Moda é um mundo completamente diferente, interessante, mas muito mais específico - é menos espontâneo e mais calculado. Eu gosto de todas as experiências e oportunidades que me são dadas em cada trabalho que faço, porque o mais importante é sentir que as pessoas confiam em ti, é estimulante.
Nasceste na Madeira, e agora vives e trabalhas em Paris. Sentes que Portugal é uma influência no teu trabalho?
Eu adoro Portugal, e os franceses também. Nasci e cresci numa ilha saudável, cheia de sol e amor, e não guardo nenhuma má memória de Portugal. Adoro descobrir o mundo e por isso decidi sair e mudar-me para uma cidade maior, com mais oportunidades em todos os níveis que procurava. Mudei-me da Madeira para Lisboa quando tinha 17 anos, e foi aí que acabei os estudos e comecei a fotografar. As memórias que tenho de Portugal inspiram-me e tornam-me mais forte. Há pessoas que dizem que o meu trabalho tem um lado melancólico... será isso do fado? Nunca me questionei, mas volto a Portugal frequentemente e adoro cada vez que vou. A energia dos portugueses é única, e é minha também, por isso sinto-me em casa.