É com cerca de 300 páginas se diz adeus à estabilidade emocional. Mas é uma despedida que aquece o coração.
É com cerca de 300 páginas se diz adeus à estabilidade emocional. Mas é uma despedida que aquece o coração.
É um clássico. Um livro obrigatório. Especialmente para aqueles que lêem para sentir. Não sabia exatamente o que me esperava, apenas que me foi recomendado por todos os que já o tiveram nas mãos. Olhando para trás, reconheço o meu timing ideal - se não tivesse estado de férias, não sei como conseguiria lidar com os dias seguintes a ter terminado a leitura. Sim, porque A Insustentável Leveza do Ser é uma daquelas obras que dá ressaca literária.
Descrever o enredo desta história é uma tarefa difícil. Penso nela como uma manta de retalhos, as vidas de quatro pessoas contada aos pedaços, numa série de analepses e prolepses que facilmente confundem mesmo os mais concentrados. Mas não é a história que interessa em A Insustentável Leveza do Ser, são os pensamentos de cada um, que, através das palavras de Kundera, nos fazem a nós próprios questionar se há qualquer peso em ser, se há qualquer valor na vida. E está tudo nas entrelinhas: nas palavras que distinguem o que é fazer sexo e dormir com alguém, nas que avaliam o peso da compaixão e nas que descrevem Karenin como o anjo que mantém a fé nas personagens. A obra de Kundera é o verdadeiro romance. É o elogio do amor puro e incondicional que sentimos pelos cães, e do que partilhamos entre nós, que nos mantém vivos e nos mata ao mesmo tempo.
A Insustentável Leveza do Ser é uma das obras que deve, incontestavelmente, estar na lista de todos. Até porque as palavras suaves do ator checo derretem na boca e fluem pelos dedos com uma facilidade que, quando damos por nós, passámos já por quase todas as suas páginas. Mas não saímos impunes: da mesma forma que as personagens de Kundera põem em causa o que verdadeiramente importa, também nós - o leitor - chegamos ao fim também à procura das pequeninas coisas de onde podemos extrair vestígios de felicidade. Isto é, não antes da tal ressaca literária, em que vamos, garantidamente, ser esmagados pela insustentável leveza do ser (e abstenho-me de explicar, deixo essa função para as páginas deste romance).
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal, neste espaço um membro da equipa Vogue Portugal propõe-se a refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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