Esta semana, o eleito do #VogueBookClub é o grande romance contemporâneo que parte qualquer coração.
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Quando comecei a ler A Little Life admito que me senti intimidada pelas suas 720 páginas, mas rapidamente percebi que não seria uma leitura difícil. Fui avisada inúmeras vezes dos temas do livro, retratados da forma mais gráfica e destrutiva possível, mas nada me podia ter preparado para esta história.
É, sem sombra de dúvidas, o livro de uma vida, que começa nos verdes anos da adolescência de quatro amigos em Nova Iorque - Jude, Willem, Malcom e JB - e acaba já por volta do que podemos chamar de meia idade. Em quase quatro décadas de amizade, vemos os quatro crescer e atingir as suas ambições profissionais, mas não antes de os ver passar por traumas tão perturbadores que nem imaginava. Apesar disso, cada evento trágico é mais real do que o anterior.
Mais do que as histórias de cada um dos quatro amigos, a beleza em A Little Life está na escrita, tão deliciosa e fluida e verdadeira. O ritmo de Yanagihara é tal como aquele em que vivemos - os momentos agonizantes são aqueles que parecem durar semanas, enquanto que outros, desastrosos e inesperados, acontecem num par de segundos.
Absolutamente tudo neste livro me fez querer cobrir de mantas e fingir que nada é real. O coração parte de uma forma diferente em cada capítulo, e, quando achamos que mais nada pode magoar estas personagens que queremos proteger com as nossas vidas, Yanagihara surpreende e faz tudo doer.
Como uma jovem adulta, A Little Life foi como um vislumbre de como é ser um adulto e ter amigos, nesta tentativa de gerir a vida familiar, profissional e tudo o resto, correndo sempre o risco iminente de perder o que nem sabíamos que nos faz tanta falta. Jude, Willem, Malcom e JB, cada um tão diferente do anterior, têm as suas lições para aprender, e que acabam também por nos ensinar, mostrando sempre que, apesar das tragédias que nos acontecem, temos sempre o poder de escolher o que fazer com elas.
Não posso deixar de falar nos temas pesados deste livro, como abuso, pedofilia e agressão. Quanto a questões como suicídio ou auto mutilação, nunca me considerei uma pessoa particularmente sensível, mas confesso que as palavras incrivelmente visuais de Yanagihara tiveram em mim um impacto desmedido. Durante a minha segunda e última semana de leitura, não houve uma noite em que não tivesse sonhado um pesadelo perturbador e verdadeiramente horrendo (aliás, ainda ontem um deles voltou para me manter acordada). Passaram só uns dias desde que pousei o livro, mas suspeito que depois de A Little Life, dificilmente voltarei a ter um dia descansado, em que não pense em Jude. Uma leitura comovente, desoladora e, curiosamente, aconchegante, obrigatória para os que estejam dispostos a pegar nos pedaços de um coração partido.
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O Vogue Book Club é uma rubrica semanal, neste espaço um membro da equipa Vogue Portugal propõe-se a refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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