Artista em todos os sentidos da palavra, é por meio de uma história de amor que Smith pinta um retrato do panorama musical das décadas de 60 e 70.
Artista em todos os sentidos da palavra, é por meio de uma história de amor que Smith pinta um retrato do panorama musical das décadas de 60 e 70.
Antes de iniciar uma pequena dissertação acerca da grande obra literária de Patti Smith, há um disclaimer que sinto que devo fazer: nunca fui fã da música dos anos 70. Julguem-me já à partida, mas tinha de dizer a minha verdade. Não sou e nunca fui apaixonada pelos Jimi Hendrix e Jim Morrison’s desta vida. Ainda assim, sabia no que me estava a meter quando peguei em Apenas Miúdos, que já me tinha sido avidamente recomendado por fontes fiáveis de boa literatura. Nesta que é uma viagem autobiográfica pela juventude da artista, talvez esse cenário musical que pinta tão cuidadosamente foi o que menos prazer me deu (atrevo-me a dizer que, pelo contrário, chegou a proporcionar-me alguns momentos de agonia em que tive de fazer um esforço para ultrapassar fases do livro).
Apenas Miúdos começa nos finais da década de 1960, em que uma jovem Patti Smith sai de casa e se muda para Nova Iorque, onde vive alguns dos anos mais difíceis da sua vida, financeiramente falando. Mesmo sendo uma autobiografia, não é a autora a personagem principal desta obra - é Robert Mapplethorpe. Quando se conheceram, a relação que floresceu foi mais do que um romance, foi companheirismo e amor, que mais tarde se veio a provar ser incondicional. São contos de superação e de uma enorme determinação que Smith nos conta, desde as lutas que ambos passaram para se sustentar às dificuldades no percurso até se tornarem artistas de renome. E, no meio da miséria que a autora consegue colocar nas palavras mais bonitas, há os momentos que, mesmo sem os viver, o leitor consegue ver e sentir, como a temporada que o casal passou a viver no Hotel Chelsea - este que foi o ponto de referência para grandes nomes da música. Porque, em Apenas Miúdos, o que são artistas mundialmente conhecidos são, no livro, meros figurantes de uma história de vida ainda maior.
Desde aquela noite em 1967, em que Robert Mapplethorpe pegou na mão de Patti Smith e ambos correram por East Village, o amor que ambos partilharam persistiu. Apesar dos altos e baixos, das separações e dos reencontros, o carinho descrito pela autora é, esse sim, o que soa ao objetivo de vida a que aspiramos. E como não nos deixar apaixonar pelos contos da juventude de um casal de artistas?
Talvez por ser uma autobiografia, o final trágico faz mais sentido nesta narrativa do que qualquer outro desfecho possível. Terminado o livro e ultrapassado o custoso cenário musical, faço uma retrospetiva da grande história de vida que Smith nos conta e há apenas uma sensação que fica bem marcada: dificilmente haverá um tributo mais carinhoso do que as bonitas memórias de Patti Smith.
Pontuação:
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal. Neste espaço, um membro da equipa da Vogue Portugal propõe-se refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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