Em Circe, Madeline Miller angaria todo o entusiasmo da mitologia grega e reescreve-a através de uma narrativa feminista que a torna extremamente relevante para os dias de hoje.
Em Circe, Madeline Miller angaria todo o entusiasmo da mitologia grega e reescreve-a através de uma narrativa feminista que a torna extremamente relevante para os dias de hoje.
Circe, a feiticeira da mitologia grega comummente conhecida pela sua afinidade em transformar homens em porcos (quem a pode culpar?), é alvo de uma make over às mãos de Madeline Miller. A deusa que a maioria conhece da Odisseia, aquando da chegada de Ulisses à ilha onde esta reside, transforma-se numa personagem imensamente complexa através de Circe. Neste, a escritora americana alcança um feito verdadeiramente impressionante ao humanizar o que era uma mera figurante numa fábula clássica. Neste sentido, Circe é nos apresentada como um mero produto das suas circunstâncias.
O livro segue Circe logo após o seu nascimento, filha da realeza divina, detalhando como, desde o início da sua vida, é descartada por ser uma vergonha entre deuses. Não sendo particularmente bonita, e desprovida de poderes divinos, a deusa é excomungada pela sua própria família. O fascínio de Circe por humanos acaba por ser um ponto fulcral. É devido a este que a narrativa principal se desenrola, tornando-se o catalisador para a sua afinidade com a feitiçaria. Para um geek de mitologia grega, o livro excede todas as expetativas. A história é marcada pelos encontros que Circe tem com as demais personagens da mitologia grega, desde o previsível Ulisses, até ao infame Minotauro, chegando a quase todos os residentes do Monte Olimpo. Considerada uma aberração entre deuses, Circe é essencialmente uma história de resistência e perseverança de alguém que é diferente de todos à sua volta, e que, por isso mesmo, é obrigada a encontrar o seu lugar no mundo sozinha.
Mas Miller não se contenta com uma simples releitura moderna de clássicos já conhecidos. O verdadeiro intuito por detrás do livro é entender como a personagem foi eternizada. Ao reescrever uma história conhecida e colocá-la na primeira pessoa, a escritora americana confronta o nosso próprio quadro ético-moral. É através da humanização da personagem que entendemos o ponto axial da narrativa, é por ser mulher que Circe é considerada a “bruxa má”, um mal que demasiadas mulheres na história sofreram. Circe torna a personagem da mitologia grega num novo ícone feminista, pronto a ser venerado.
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