Aquando da adaptação televisiva, recuperamos o conto sobre o valor da amizade.
Aquando da adaptação televisiva, recuperamos o conto sobre o valor da amizade.
Conversations with Friends estava já no meu baú de leituras, esquecido, de certa forma. Foi graças à BBC, que lançou há duas semanas a adaptação da obra ao pequeno ecrã - da mesma forma que tinha feito com Normal People, a grande obra de Rooney - que a obra voltou à minha memória. Apesar de não ter ainda ganho a coragem necessária para me atirar à série, parece ser a altura ideal para recuperar este romance da autora irlandesa.
Chegou-me por uma recomendação que me fez acreditar que me apaixonaria imediatamente com as personagens (ficcionais, mas realistas). Para aqueles que preferem ficar mais presos à terra e não fantasiar com grandes ou pequenas utopias, Rooney cumpre, como já é costume, a dose recomendada de realidade. De alguma forma, Conversations with Friends conseguiu superar o que é, para mim, a realidade necessária. O resultado é um conjunto de quatro personagens, mas nenhuma delas likeable o suficiente, todas com demasiados defeitos e vícios, humanas demais. Frances e Bobbi, simultaneamente melhores amigas e ex-namoradas, conhecem um casal, Melissa e Nick, que parece apenas existir na narrativa para testar a lealdade que as une. Confesso que demorei algum tempo a conseguir gostar deste livro e culpo a minha própria moralidade - não me era possível ver como se podia romantizar os casos extraconjugais, as mentiras e os segredos. Ainda assim, não pousei o livro e comprometi-me a chegar ao fim, o que não foi difícil graças à fluidez sem igual das palavras da autora.
Nas páginas finais, fui iluminada e percebi que, afinal, era uma história pouco sobre traição e muito sobre relações e tudo o que lhes diz respeito, desde influência, dinâmicas de poder e, claro, amor. Talvez não tanto acerca do amor romântico que mais se espera deste tipo de obras, mas mais aquele sentimento duradouro e inabalável. Conversations with Friends chegou-me às mãos com hesitação e resistência, se calhar é por isso que não me consegui render totalmente, como já tinha feito anteriormente com outras obras de Rooney. Ainda assim, não desaponta no que toca à escrita leve e facilmente consumível, bem como ao imprescindível controlo da idealização.
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