Numa leitura que é tão desesperante como importante, Adichie representa um cenário de guerra de forma extremamente íntima.
Numa leitura que é tão desesperante como importante, Adichie representa um cenário de guerra de forma extremamente íntima.
O livro de Adichie narra a Guerra Civil da Nigéria, retratando esta através das vidas de cinco personagens: duas filhas gémeas oriundas de uma família rica, um professor universitário, um imigrante britânico e um rapaz de uma aldeia pobre na Nigéria. À medida que a guerra se desenrola, também as suas relações pessoais se complicam e se aprofundam.
O livro na sua integridade faz um excelente trabalho de demonstrar a realidade da guerra, em toda a sua confusão, em todo o seu desespero. Conflitos deste género são muitas vez pensados de uma forma mais geral, analisando a guerra de uma forma mais objetiva, menos pessoal. Adichie concretiza uma abordagem refrescante, mais inteligente, com o objetivo de personalizar os horrores de guerra. Acompanhamos a forma como, progressivamente, as vidas quotidianas destas personagens se adaptam a uma realidade infeliz, ajustando-se ao derramar de sangue dos seus amigos e família.
A natureza da guerra civil é abordada de forma extremamente inteligente, um povo que se vira contra si próprio é um fenómeno específico. Estas peculiaridades são exploradas na primeira pessoa, sentimos empatia pelas personagens que vemos lentamente a sentir o caos totalizante de uma guerra. A despersonalização daqueles que estes pensavam que conheciam é verdadeiramente sofrida, sentimos a dor de ver vizinho a lutar contra vizinho, irmão contra irmão.
A forma como está escrito, e como acaba, contribuem para esta mensagem. Se o livro começa de uma forma mais organizada e simples, à medida que avançamos os desenvolvimentos da guerra tornam o livro cada vez mais exasperante, desesperante de se ler. O caos latente da guerra é colocado debaixo da nossa pele de forma gradual, quando chegamos às últimas páginas do livro, este sentimento é quase totalizante. Não é um livro fácil de se ler, especialmente quanto mais se avança, mas mesmo assim a sua leitura é viciante, ficamos agarrados à esperança que é característica das vítimas de guerra, vivemos no medo que esta seja uma mera futilidade. Meio Sol Amarelo é uma das obras-primas de Chimamanda Ngozi Adichie, uma das mais importantes vozes da literatura atualmente.
Pontuação:
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal. Neste espaço, um membro da equipa da Vogue Portugal propõe-se refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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