Ocean Vuong parte-nos o coração da melhor forma possível, através de uma narrativa complexa e linguagem poética.
Ocean Vuong parte-nos o coração da melhor forma possível, através de uma narrativa complexa e linguagem poética.
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“Somedays I feel like a human being, while others I feel like a sound. I touch the world not as myself but as an echo of who I was.” (Há dias em que me sinto como um ser humano, enquanto que noutros sinto-me como um som. Toco o mundo não como eu próprio, mas como um eco de quem já fui.)
Na Terra Somos Brevemente Magníficos é uma delicada carta de um filho para uma mãe que não sabe ler. A narrativa segue uma complicada história de imigração, violência e trauma geracional, acompanhando a família de uma mãe solteira e filho que, refugiando-se do caos de guerra no Vietname, se mudam para o lado do inimigo. O livro, que é narrado na primeira pessoa, explora uma dinâmica muito específica, explorando a reversão da responsabilidade no seio familiar. Ao conjurar a violência da guerra, exploram-se as consequências quotidianas e geracionais de tais horrores. Vuong complementa a profundidade da narrativa com uma honestidade que, na ignorância, se assume ser autobiográfica.
O facto de Na Terra Somos Brevemente Magníficos ser a primeira obra de prosa de Vuong é simultaneamente surpreendente e calculável. A cadência do livro é extremamente poética e a sua linguagem é de uma estética que, sem conhecer o autor, entende-se que é completamente proficiente em escrita poética. No entanto, o autor evita o expectável pecado de deixar que a beleza da linguagem afete o ritmo narrativo, tecendo a história com poesia de forma fluida.
O livro tem uma intimidade extremamente delicada, o autor abre uma pequena janela numa relação mãe e filho. Esta relação de parentesco sobre a qual se debruça é apenas um pretexto para a ponderação de Vuong sobre a humanidade, debatendo traumas, guerras, amor e masculinidade. Habilmente sobrepondo amor a guerra, violência a sensibilidade, o autor toma posse do nosso fôlego, separarmo-nos dos livros não é impossível, mas impensável, tal é a forma como a narrativa nos agarra.
“Because freedom I am told, is nothing but the distance between the hunter and its prey.” (Porque a liberdade, segundo me dizem, não é mais que a distância entre o predador e a presa.)
Pontuação:
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal. Neste espaço, um membro da equipa da Vogue Portugal propõe-se refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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