O título não engana. No fim de uma leitura dolorosa e demorada, o que fica é uma sensação de mágoa que me faz questionar se deveria sequer ter lido estes contos.
O título não engana. No fim de uma leitura dolorosa e demorada, o que fica é uma sensação de mágoa que me faz questionar se deveria sequer ter lido estes contos.
Não sabia o que ler, estava a vaguear perdida na livraria sem que nada me captasse a atenção. O Livro da Piedade e da Morte estava em destaque no topo de uma pilha de outros romances e dramas, mas foi a capa que me captou o olhar, com a pintura de um gato malhado a dormitar. Para além de ser uma obra pequena, percebi que era composta por uma série de contos no estilo de relato de memórias de alguém que havia vivido entre os séculos XIX e XX.
Se há um aviso que sinto que devo fazer é que o título não engana. Cada um dos contos de Pierre Loti (pseudónimo utilizado por Louis Marie-Julien Viaud, um oficial da marinha francesa) retrata a sua vida melancólica, assombrada pelas memórias dos que cá já não estão. Apesar de serem narrativas separadas, as personagens são recorrentes e vamos assistindo de longe a alguns dos momentos que mais marcaram a vida do autor.
Admito, tenho um fraquinho por histórias tristes, mas O Livro da Piedade e da Morte superou qualquer resistência que tenho. Pierre Loti escreve como se pensa, e rapidamente estamos no seu lugar, a ver a doença de tia Claire a avançar ou a resgatar uma gata abandonada. Mas não é o tipo de dor ambivalente, que nos agarra e aconchega. Não, é o tipo de dor que faz o peito apertar e os olhos encherem-se de lágrimas.
Houve uma altura em que não conseguia voltar a pegar no livro, mesmo tendo deixado um conto por terminar. Tinha medo de como pudesse acabar e das imagens que me colocasse na mente. Foi preciso ganhar coragem para chegar ao fim e, quando finalmente consegui, foi uma conquista. Sim, gosto de histórias tristes, de ler os pensamentos melancólicos e angustiados de outros, mas há algo discretamente destrutivo em O Livro da Piedade e da Morte. Talvez possa apontar o dedo à aura cinzenta da época, ou mesmo a todo o desgosto e luto que retrata, mas estou mais tentada a culpar a subtileza das palavras de Loti, que não precisa de acusar os sentimentos para nos fazer sentir. No fim, percebo que a luta que foi para mim terminar este livro talvez não tenha valido a pena. Afinal, qual é o propósito de tanto desgosto em tão poucas páginas?
Pontuação:
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal, neste espaço um membro da equipa Vogue Portugal propõe-se a refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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