Um livro da categoria young adult que deveria ser lido por miúdos e graúdos.
Um livro da categoria young adult que deveria ser lido por miúdos e graúdos.
Aqui me confesso: não comprei O Ódio que Semeias com o intuito de o ler, era suposto ser um presente que viria a oferecer. Aliás, ao ler a contracapa da versão portuguesa, ressaltou de imediato a nota de que era um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura e, por esse motivo, achei (estupidamente) que já tinha ultrapassado a faixa etária a que se dirige. No entanto - e por sorte minha -, a vida meteu-se e acabei por guardar a obra na minha prateleira. E lá não ficou nem mais do que um dia.
Comecei o primeiro capítulo, num ato envolto em timidez, e logo confirmei a minha perceção: “É um livro de adolescentes, porque falam tão bem dele?” Chegada ao segundo capítulo já tinha percebido o porquê. Sim, é uma história de adolescentes no sentido em que estes protagonizam a narrativa, mas isso em nada impede que a sua mensagem se mantenha centrada numa faixa etária tão reduzida. Muito pelo contrário: esta é uma obra que deveria ser lida por miúdos e graúdos.
Racismo, violência policial, injustiça. Se tivesse de reduzir O Ódio que Semeias a três temas, estes seriam aqueles que destacaria. A obra inspira-se numa história verídica, passada nos Estados Unidos, de uma adolescente afro-americana que assiste ao assassinato do seu amigo por um polícia norte-americano. E tal como muitas das histórias que vemos noticiadas nos dias de hoje, ele estava inocente. Tudo não passou de um “mal-entendido” (nas palavras da polícia), uma confusão em que uma escova de cabelo foi confundida com uma arma - e que resultou no assassinato de um adolescente. Um adolescente inocente.
A narrativa desenvolve-se, a partir desse momento, na perspetiva da testemunha, num rodopio entre manifestações, motins e julgamentos cujos resultados parecem ser tão inúteis quanto aqueles a que assistimos na vida real. Cada página é um murro no estômago, um vale de lágrimas perdidas, choradas por um sistema que está podre desde a raiz.
O Ódio que Semeias é um livro que merece ser lido por todos e todas, independentemente de idade, género, raça ou religião. Não há fronteiras que consigam travar o poder da história contada por Angie Thomas.
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal. Neste espaço, um membro da equipa da Vogue Portugal propõe-se refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.