Livros de ficção histórica sempre me deixaram um pouco de pé atras. Talvez por me ver confrontada com momentos trágicos e, muitas vezes, fatídicos da nossa sociedade, relembrando-me assim quão cru e injusto o mundo às vezes consegue realmente ser.
Livros de ficção histórica sempre me deixaram um pouco de pé atras. Talvez por me ver confrontada com momentos trágicos e, muitas vezes, fatídicos da nossa sociedade, relembrando-me assim quão cru e injusto o mundo às vezes consegue realmente ser.
Não consigo simplesmente fechar um livro e dizer: “É só uma história”, pois muito dela é baseada em acontecimentos reais. No entanto “arrisquei” e li Pachinko, de Min Jin Lee, e devo dizer que não me arrependi um único segundo. Min Jin Lee ao longo das mais de 500 páginas surpreende-nos com uma história de sacrifício, resiliência, mas sobretudo de amor e unidade familiar.
Resumindo Pachinko numa simples frase: a história acompanha a vida e peripécias de uma família coreana que imigra para o Japão, mas de simples a história não tem nada sendo um turbilhão de emoções e injustiças ao longo de todo o enredo.
O livro, rico em detalhes históricos, baseia-se no ambiente político vivido entre a Coreia e o Japão no decorrer do século XX, desde a ocupação nipónica da península coreana à descolonização e, consequentemente, divisão da Coreia em duas nações distintas. É, no entanto, na parte ficcional que realmente compreendemos o impacto que estes acontecimentos históricos tiveram na vida das pessoas, nomeadamente o xenofobismo a que os emigrantes coreanos tiveram sujeitos durante anos a fio, e como cada geração teve de lidar com as diversas situações com que ia sendo confrontada. O racismo é, sem dúvida alguma, um dos grandes tópicos abordados nesta obra, tendo a autora sido exímia na forma como demonstrou o impacto e consequências que o racismo pode ter na vida de cada personagem, como o questionamento da identidade pessoal e cultural do indivíduo.
Um dos problemas, digamos assim, que encontrei durante a leitura foi a ligação emocional com muitas das personagens, e isto deve-se ao facto da forma como a autora trabalhou o espaço temporal da história. O livro começa de uma forma lenta dando-nos tempo para criar a tal ligação com as personagens que iam sendo apresentadas, mas à medida que a história se ia desenrolando, e mais personagens iam sendo apresentadas, notava-se que o ritmo dos acontecimentos também acelerava, passando-se, inclusivamente, vários anos entre capítulos sem se dar conta, o que tornava cada vez mais difícil criar uma ligação com cada personagem que surgiria.No final do livro temos a sensação de não ter tempo para digerir cada acontecimento que ia ocorrendo - e acreditem, há muita coisa para digerir.
Pachinko tem tanto de ficcional como de real. É a história e realidade de muitas famílias emigrantes, não só coreanas, mas também de outras nacionalidades por este mundo fora. É um livro fascinante que me ensinou muito mais do que estaria à espera.
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