Adiei a leitura deste livro durante muito tempo, não porque não o quisesse ler, exatamente pelo contrário, porque entendi quão importante a sua leitura seria.
Adiei a leitura deste livro durante muito tempo, não porque não o quisesse ler, exatamente pelo contrário, porque entendi quão importante a sua leitura seria.
Comprei este livro cerca de um ano antes de o ler. Ficou na minha mesa de cabeceira como um fantasma, assim que abria os olhos, sempre que pegava em qualquer outro livro, sentia-o a fixar-me. E depois, um dia, ganhei coragem. Para perceber a relutância que senti em relação a The Velvet Rage é necessário entender o seu conteúdo. O livro, escrito por Alan Downs, um psicólogo clínico, procura entender o comportamento de homens homossexuais. A base do livro são as décadas de consultas que o autor conduziu, assim como os padrões comuns nos seus pacientes. Enquanto um homem gay, Downs interseta as suas teorizações com testemunhos pessoais, o que torna o livro menos académico, mais íntimo de certa forma.
O subtítulo do livro indica-nos perfeitamente a perspetiva de Downs: Overcoming the Pain of Growing Up Gay in a Straight Man's World. À medida que nos revela alguns dos problemas dos seus pacientes, o psicólogo documenta algumas das formas como a experiência de crescer um homem homossexual nos condiciona a vida. O inimigo comum acaba por ser sempre o mesmo: a vergonha que nos é forçada por uma cultura que ainda pensa no não heterossexual como desviante. Este sentimento é canalizado numa miríade de respostas subconscientes, desde raiva a inibição. Downs descreve os problemas comuns a muitos homens gays como uma tentativa de fuga à vergonha, acabando por inevitavelmente totalizar a sua vida, como se de uma profecia auto-realizável se tratasse.
O tom do livro não é particularmente moralista, exatamente porque Downs aborda os temas de uma forma pessoal. Não obstante, estaria a mentir se dissesse que não me senti como um macaco numa jaula a ser analisado, com todas as minhas atitudes, traços de personalidade e histórias de vida esmiuçadas pelo autor. É devido a esse desconforto omnipresente que lhe dou uma pontuação mais baixa, algo que era inevitável mas que, exatamente por desconstruir certos nós, me colocou num estado de inquietação desconcertante. Este sentimento é enaltecido pela linguagem que o autor utiliza, demasiado absoluta na minha opinião. Se acho que é um livro que todos deveriam ler? Definitivamente não. É, no entanto, uma ferramenta importante para conduzirmos análise introspectiva mas que, como tudo, deverá ser levada com uma pitada de ceticismo, para não subjugarmos a nossa realidade a teorizações alheias.
Pontuação:
O Vogue Book Club é uma rubrica semanal. Neste espaço, um membro da equipa da Vogue Portugal propõe-se refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.