Rica em rotas por explorar, a Galiza tem ainda mais para oferecer do que apenas a sua natureza deslumbrante. Acompanhe o nosso repórter itinerante nesta descoberta com a ajuda de criativos locais.
Quer se trate de comida, música ou florestas exuberantes, a Galiza é uma região que abraça o seu passado, enriquecendo-o respeitosamente com pormenores contemporâneos. Por exemplo, a alcunha de "paraíso dos caminhantes" tem origem em tradições do século IX, mas continua a ser adequada hoje em dia, com pessoas de todas as religiões e origens a percorrer os numerosos percursos da Galiza. Mas quem são as pessoas que estão a mudar esta região para o futuro? Vestido da cabeça aos pés com o meu look de turista e entusiasta de moda contemporânea, aventurei-me nesta região noroeste da Península Ibérica para me encontrar com alguns dos criativos locais da região.
Caminhos antigos, percursos novos
Há muitas lendas que ecoam na Galiza. Já tinha ouvido falar do melhor marisco e do melhor peixe, que só lá se encontram. Depois de provar várias versões do famoso "polvo à feira" e dos emblemáticos percebes, posso confirmar que essa lenda é verdadeira. Da mesma forma, o famoso vinho branco da região, o Albariño - um tipo frutado reconhecido por ser suave no paladar - também fez jus ao seu estatuto lendário.
Felizmente, os numerosos percursos pedestres responsáveis pelo cognome da região estão presentes quando é necessário fazer uma refeição. Para o meu primeiro momento de lazer galego, dirigi-me ao parque natural Fragas do Eume para me encontrar com Aida Tarrío e Olaia Maneiro, dois membros da banda galega Tanxugueiras (@tanxugueiras). O trio é conhecido por trazer o folclore tradicional galego (também chamado de Muiñeira) para os dias de hoje através de influências pop contemporâneas. A sua música apresenta narrativas de empoderamento feminino, preservando ao mesmo tempo a identidade cultural. "Acreditamos que quando se evolui [o património], torna-se mais fácil chegar aos jovens que podem ter mais dificuldade em abordar a tradição", explicou Tarrío. "É uma janela pela qual se entra e, de repente, pode-se chegar a ela com mais gosto." Os bosques verdejantes das Fragas do Eume pareciam ser o local perfeito para ouvir as suas inspirações, nesta mistura do antigo e do novo. O nosso passeio culminou no pitoresco Mosteiro de São João de Caaveiro, um local que remonta ao século X.
Onde termina o Camiño
A verdadeira razão pela qual a caminhada desempenha um papel tão importante na identidade galega vai para além da indulgência culinária. A Galiza é o centro de uma das mais antigas peregrinações existentes: O Caminho de Santiago. Uma extensa rede de rotas é percorrida ao longo do ano por pessoas de todo o mundo, que se encontram na capital da região, Santiago de Compostela. Quer se tenham percorrido centenas de quilómetros a pé ou chegado em transportes modernos, a cidade é um local que merece ser explorado. Cada esquina parece familiar, como se a tivesse visto num filme ou num programa de televisão - e provavelmente viu. Basta deambular pela cidade velha e espreitar para qualquer um dos seus edifícios históricos, como a emblemática Catedral, e surgem cenas absolutamente cinematográficas.
Plenamente à vista
De facto, é impossível passar mais do que alguns minutos na Galiza sem invocar a chamada "síndrome da personagem principal" (main character syndrome). Se ficar alojado num dos muitos mosteiros ou Paradores convertidos, como o Parador de Santo Estevo, no coração da região, sentir-se-á o protagonista de um romance, percorrendo as suas arcadas. As emoções tornam-se cada vez mais surreais na Ribeira Sacra, a encantadora parte do interior da Galiza reconhecida como biosfera natural. Serei o típico herói explorador corajoso? O impressionante cenário, cortesia do Miradoiro de Vilouxe, contempla um desfiladeiro em forma de V. É o local perfeito para refletir sobre a vida, começar a pintar ou talvez simplesmente posar para a câmara.
A Torre de Hércules, situada na orla da cidade costeira da Corunha, traz mais uma oportunidade para parar, olhar e pensar. Ao chegarmos de bicicleta às suas muralhas, quando já começava a anoitecer, a stylist Cloe Franco (@cloefranco) conta-me a lenda do inimigo de Hércules, que por ele foi morto e a sua cabeça ali enterrada - a inspiração para a bandeira da região. Para ela, a arquitetura da Torre, construída no século I, com vistas deslumbrantes, parece ser o início de algo novo. Franco é uma das muitas criativas do mundo da moda que faz carreira na Corunha, já que a cidade serve de centro para vários nomes populares da indústria, como o Grupo Inditex. "Aqui podemos encontrar muitas pessoas de diferentes sítios, com diferentes experiências e diferentes interesses. Mas penso que o que têm em comum é o facto de todos quererem criar algo", partilha Franco.
O artesanato revisitado
Escondida nos arredores rurais de Lugo, uma cidade no interior da região, está a oficina da artesã moderna Idoia Cuesta (@idoia_cuesta). Utilizando uma gama diversificada de têxteis naturais, incluindo lã, couro, cânhamo e até varas de vime cultivadas no seu jardim, Cuesta explora a rica herança da cestaria espanhola. Colaborou com muitas marcas de moda, criando malas e objetos de arte para marcas de luxo, e imprime sempre nas suas peças o espírito da região. "Vivo rodeada pela natureza, em plena reserva da biosfera. Gosto de caminhar e ver como a hera se entrelaça ou como os pássaros fazem os seus ninhos. E tudo isso ajuda-me a criar aqui no atelier", explica a artesã.
Depois de experimentar - e falhar redondamente - algumas das técnicas de Cuesta, mergulhei verdadeiramente nas alegrias que a Galiza tem para oferecer. Independentemente do meio que escolhem, os criativos da região são a representação máxima do quão inspirador é o seu ambiente. Com esforços constantes para fazer evoluir a tradição da região, pessoas como Idoia, Aida, Olaia e Cloe representam uma visão moderna das lendas e tradições que vieram antes delas. Um lugar para descobrir o passado e fazer parte do futuro, a Galiza é o lugar certo para estar
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