O futuro, com Tommy Hilfiger, é agora. Em menos de um mês, o designer americano lançou uma irreverente campanha para o outono/inverno 2022, apresentou um novo logo, surpreendeu o mundo com uma fabulosa coleção feita a quatro mãos com uma das maiores promessas da indústria, e celebrou o regresso a Nova Iorque com a sua Tommy Factory, um sítio onde se vive sob o signo da rebeldia, do otimismo e da criatividade. A vida é toda para diante.
O futuro, com Tommy Hilfiger, é agora. Em menos de um mês, o designer americano lançou uma irreverente campanha para o outono/inverno 2022, apresentou um novo logo, surpreendeu o mundo com uma fabulosa coleção feita a quatro mãos com uma das maiores promessas da indústria, e celebrou o regresso a Nova Iorque com a sua Tommy Factory, um sítio onde se vive sob o signo da rebeldia, do otimismo e da criatividade. A vida é toda para diante.
© Tommy Hilfiger
© Tommy Hilfiger
No dia em que Tommy Hilfiger regressou oficialmente a Nova Iorque — local onde “tudo começou”, como dirá mais tarde — para apresentar as propostas primavera/verão 2023 da sua marca homónima, a cidade vestia-se de gala para honrar mais um aniversário do 11 de setembro. Nas ruas, habitualmente anárquicas e barulhentas, sentia-se uma calma própria dos momentos solenes. O sol que tentava romper os céus cinzentos e carregados foi uma e outra vez renegado pelo vento e pela chuva, numa espécie de prenúncio para um final de tarde que seria uma espécie de dilúvio. Mas já lá vamos. Quando, pelas dez da manhã, entramos nos headquarters da Tommy Hilfiger, em plena Madison Avenue, o futuro já está a acontecer. Semanas antes, o anúncio de uma coleção gender-inclusive com o designer inglês Richard Quinn tomou de assalto o mundo da Moda: de edição limitada, Tommy Hilfiger X Richard Quinn era uma espécie de resumo da união perfeita entre o estilo preppy do criador americano e a cracked couture de Quinn — um mix fabuloso de duas estéticas, aparentemente opostas, e que afinal se completam na perfeição. Uma dupla novidade, já que Tommy Hilfiger X Richard Quinn mostrava, pela primeira vez, o novíssimo logo THMonogram — desenhado por Fergus Purcell, o logo reflete o espírito de inovação inerente ao ADN Tommy Hilfiger — remisturado com alguns elementos característicos de Quinn, como as flores e os acolchoados, e gravado em puffer jackets, calças, pea coats e mochilas. Em agosto saíra a campanha para o outono/inverno 2022, intitulada Tommy Factory. Fotografada por Craig McDean e com styling de Katie Grand, é protagonizada por figuras como Kate e Lila Moss, Travis Barker, Anthony Ramos ou Jon Batiste... e por Tommy himself, num piscar de olhos à fábrica de Andy Warhol — que Hilfiger conheceu, sublinhe-se —, onde a criatividade e a imaginação eram o alimento de todos os talentos que ali se reuniam. O futuro, portanto, estava em andamento. Apenas faltava desvendar as histórias por detrás desse futuro. “Fomos apresentados por alguém da minha equipa. Vi alguns dos seus looks nos British Fashion Awards, a Kylie Minogue estava no palco a usar as suas roupas, e fiquei impressionado. Pensei que ele era muito talentoso. Mas já tinha visto fotos do seu desfile, quando a Rainha estava sentada na primeira fila [em 2018, Quinn foi o vencedor do Queen Elizabeth II Award for British Design, galardão que recebeu das mãos da soberana], por isso conhecia-o. O que não sabia era que, em estudante, ele usava as minhas roupas. Sei que muita gente o fazia, mas estou feliz por o Richard o ter feito. Ainda por cima as minhas camisas tartan, que são também as minhas favoritas.” Quinn retribui a admiração. Introvertido e observador, está a anos-luz da imagem que temos de alguém que vive com a pressão de ser a next big thing. “A Tommy Hilfiger é uma das únicas marcas americanas ‘com herança’, por isso quando nos contactaram foi muito fácil decidir o que fazer. Eles são os melhores neste tipo de [estética] americana e em arquétipos como o varsity jacket, os chinos, os rugby jumpers, e tal como o Tommy dizia eram coisas que eu usava na minha adolescência. Inicialmente as pessoas podem pensar [que as nossas estéticas] são diametralmente opostas, mas na realidade elas têm muito em comum.” Queremos saber como se desenrolou o processo criativo. “Temos um estúdio em Amesterdão, que fica a uma hora de Londres, com uma grande equipa. Eles trabalhavam [diretamente] com o Richard, que não é apenas designer, é também artista. Já tínhamos colaborado com marcas e celebridades, mas nunca com um verdadeiro designer/artista. Isso deu-nos a oportunidade de fazer algo realmente especial e diferente.” O resultado final é claramente do agrado de Tommy. “É uma coleção muito forte. O Richard foi capaz de colocar a sua criatividade e pegar na nossa ‘receita’ e misturá-la com a sua. São artigos de coleção. Não são peças de moda normais.” Não são, de facto — nem no preço, ligeiramente acima do pronto-a-vestir “comum”, já que aqui falamos de um savoir-faire conjunto que pouco tem a ver com a massificação dos tempos modernos. Qual é, então, o target de Tommy Hilfiger X Richard Quinn? Palavra a Hilfiger: “Penso que os jovens que amam moda, os seus fãs [de Richard], os meus fãs, as pessoas que querem algo especial. Lançámos uma grande loja no Printemps, em Paris, e soubemos que o Rei de Marrocos esteve lá na semana passada e comprou umas doze peças. Não o conheço, mas ele deve ser uma pessoa jovem e cool!” [risos]
Tommy Hilfiger fala com o entusiasmo sensato de quem gosta de aprender — com os outros, com o mundo, consigo próprio. Tem 71 anos, mas poderia ter muito menos. O seu espírito é o de alguém que nunca envelhece, que nunca se cansa de abraçar “o novo.” Mesmo que esse “novo” sejam formas de criar e de comunicar completamente opostas às que viram nascer a sua primeira loja, People’s Place, nos anos 70, e às que o uniram à cultura street que explodiu nos anos 90, com o importante empurrão de artistas como Aaliyah ou Snoop Dogg — nem de propósito, no dia do desfile Kanye West partilhou no Instagram que as imagens do cantor de Drop it Like it's Hot com uma camisola Tommy Hilfiger tinham sido um dos maiores golpes de génio em termos de marketing. É esse o truque da longevidade da Tommy, a reinvenção constante, a procura incansável de novas formas de fazer, e pensar, moda? Talvez. “Manter uma marca relevante através de associações e através de injeções de novidade e frescura. E por vezes uma forma de injeção de novidade e frescura é fazê-lo a partir do exterior, por oposição ao interior. Os nossos designers são incrivelmente talentosos, mas estão a trabalhar de dentro, por isso, obter um ponto de vista exterior, e criatividade exterior, é energizante para toda a marca.” Mas há mais. “É preciso rodearmo-nos de jovens para compreender o que eles estão a fazer. Eles entendem a cultura [vigente]. É tudo sobre a cultura. E a cultura toca o estilo de vida, toca a psique, e é também o que move a agulha da sociedade. Vivemos num mundo onde a cultura está sempre a mudar, mas existe uma cultura que é tangível, que se pode tocar e sentir.” É essa a lição maior de Hilfiger, o homem que transformou o preppy num estilo apetecível, replicado em todo o mundo — escutar, procurar, ouvir, descobrir.
O futuro, com Tommy Hilfiger, está sempre a acontecer. Seja numa manhã pacata em que jornalistas de todo o globo visitam os escritórios para a habitual ronda de entrevistas, seja num fim de tarde pós-apocalíptico em que os deuses decidem trocar as voltas a uma gigantesca equipa que preparou o regresso à big apple num cenário de sonho — o maravilhoso cenário do Skyline Drive-In, em Brooklyn, onde a “tenda” da novíssima Tommy Factory foi montada, com direito a surpresas dignas de um parque de diversões —, transformando-o num altar encharcado com recortes de tempestade. Antigamente os membros desta “fábrica” eram nomes como Britney Spears, David Bowie, Mick Jagger, Puff Daddy, TLC ou Salt-N-Pepa. Agora é Winnie Harlow, Paloma Elsesser, Quannah Chasinghorse, Hari Nef, Julia Fox, Donna Jordan... e Bob Colacello, o icónico editor da revista Interview, de Andy Warhol. “Voltar a Nova Iorque é especial para mim porque foi aqui que a marca foi fundada, onde começámos, a quatro quarteirões daqui. Nova Iorque precisava de um impulso durante a Semana da Moda, acho que há poucos designers a apresentar [as suas coleções], e gostava de contribuir para fazer algo realmente especial para a comunidade. Algo que, ao mesmo tempo, seja perturbador, algo que nunca tenha sido feito antes”, assumia Hilfiger durante o encontro com a Vogue Portugal. “O desfile será see-now-buy-now porque pensamos que os clientes jovens querem gratificação imediata, não querem ver as coisas na passarelle em setembro e esperar até fevereiro para as ter. Por essa altura já terão visto tudo nas redes sociais, em celebridades, em revistas. Por essa altura já terão visto tudo em todo o lado.” Horas depois, os aplausos sentidos da plateia, que desesperava debaixo de uma chuva avassaladora, foram a prova que faltava: este é o caminho a seguir. Uma vez mais.
Artigo originalmente publicado na The Butterflu Effect Issue da Vogue Portugal, disponível aqui.