A estreia do filme mais aguardado do ano atraiu-nos pelo seu aspeto e pela sua estética, mas mandou-nos para casa com um dilema que nos perturba a mente.
A estreia do filme mais aguardado do ano atraiu-nos pelo seu aspeto e pela sua estética, mas mandou-nos para casa com um dilema que nos perturba a mente.
© 2023 Warner Bros. Ent. All Rights Reserved
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Alerta de spoiler: cada um sabe de si, este artigo é para ser desfrutado - tenha, no entanto, atenção, que pode conter ligeiros spoilers.
Com uma das mais impressionantes estratégias de imprensa da última década, Barbie provou ser o filme da estação (talvez até do ano, ou da década). Se pensarmos bem, esta era a única grande personagem que ainda não tinha sido objeto de uma adaptação cinematográfica ao vivo. Já vimos todas as princesas da Disney, os vilões, Alice no País das Maravilhas, O Livro da Selva e até um elefante orelhudo que voa - mas a Barbie? Nunca.
Em retrospetiva, estas adaptações não passaram disso mesmo. Com a ligeira diferença de que alguns enredos foram atualizados para se adaptarem melhor aos tempos modernos, a maior parte da história manteve-se igual. A clássica princesa em desespero, o belo príncipe que a vem salvar e o final feliz muito previsível, mas de uma forma estranhamente reconfortante, repetiram-se sempre. Mas e a personagem que pode ser tudo? Que história contar quando se pode ser literalmente tudo o que se quiser - de princesa a médica, de presidente a veterinária, de estrela de rock a sereia?
Criada por Ruth Handler em 1959, a icónica boneca foi criada para representar o que as crianças “queriam ser.” Um sucesso imediato e o brinquedo mais vendido desde então, a Barbie tornou-se rapidamente uma referência de brinquedos global e continuou a acrescentar títulos à sua lista crescente de atributos. Astronauta, paleontóloga, bióloga marinha, designer - é só escolher, a Barbie já o fez. Hoje, pode-se acrescentar-se estrela de cinema à lista, uma vez que o tão esperado filme chega finalmente às salas de cinema. Mas o que é que realmente ganhamos com a terra do cor-de-rosa e do plástico?
Considerado um dos filmes mais ligados à moda desde O Diabo Veste Prada (2006), Barbie infiltrou-se nas redes sociais, aliciando uma audiência de expetadores com arquivos Chanel e looks feitos à medida para imitar as roupas da boneca original de forma perfeita. A isso juntou-se a digressão mundial para a promoção do filme, em que cada look era mais icónico do que o anterior, com designers de todas as principais marcas a darem vida aos looks da Barbie através da interpretação de Margot Robbie. Mais do que nunca, o apelo do filme baseava-se na mantra “venha pelos looks...”, mas o que existe para além deles?
Certamente o enredo (é aqui que a maior parte dos spoilers ocorrem, por isso proceda com cautela). Que história contar sobre a rapariga que pode ser tudo? Uma em que esta não sabe o que quer.
Uma vez na Barbieland, os dias de cabelo perfeito e as festas de arromba são a norma. As raridades acabam por ser os cabelos frisados e os sapatos sem salto, normais para os mortais no mundo real. Normal para nós. Tudo o que pensávamos ser importante (da aparência ao cabelo, ambos deslumbrantes) não passou de um detalhe. Não se deu importância aos looks, não se deu importância à maquilhagem e só se fez referência direta ao penteado uma vez durante todo o filme. Claro que o design dos figurinos é extraordinário e as roupas contam histórias por si só, mas esse não é o seu objetivo. O objetivo é a descoberta de quem se quer ser.
O slogan icónico da Barbie diz: “You can be anything!" (podes ser tudo!). Em espanhol, o slogan muda um pouco e, uma vez traduzido, lê-se: “Sê tudo o que quiseres ser” – e pela primeira vez, alguém pergunta a Barbie: quem é que queres ser?
Veja o filme para conhecer a história completa, mas não se esqueça da verdadeira questão, e talvez da lição por trás de tudo isto - quem somos e será que somos isso porque queremos ser ou porque achamos que é o que devemos ser? O que outra pessoa nos disse que precisávamos de ser ou o que a sociedade nos deu a entender que somos? No final, não se trata do poder que a moda e a beleza têm, mas sim de sermos o que quisermos ser - mesmo que isso signifique que a Barbie não quer ser a Barbie.
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