Nestas nove casas, os telhados estão colados ao alcatrão — e estão muito bem assim. Mudemos de perspetiva e entremos.
Nestas nove casas, os telhados estão colados ao alcatrão — e estão muito bem assim. Mudemos de perspetiva e entremos.
São instalações, obras de arte ou museus que quase nos fazem acreditar que aquela situação toda da casa voadora no Up! é possível. Não é, mas estas casas são. E dão significado a Dancing On The Ceiling, de Lionel Richie, mesmo que não deem significado a mais nada. Não sabe onde pôs as chaves? Experimente procurar no teto.
Casa Invertida, Furnas, São Miguel, Açores.
O posto de transformação da EDA, Empresa de Eletricidade dos Açores, é uma travagem brusca no carro para quem vai ou vem das Furnas. Quis ser um piscar de olho ao constante movimento vulcânico dos Açores e tornou-se um dos monumentos mais fotografados da ilha de São Miguel. Não é para visitar. É mesmo só para fotografar e para passar um bom par de horas a rodar o pescoço e tentar entender como raio é que aquilo foi feito.
Dom do Góry Nogami em Zakopane, Polónia.
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Foi por causa desta casa que Zakopane se inscreveu no radar turístico da Polónia e agora é um dos destinos montanhosos mais procurados do país. Como todas as outras upside‐down houses, costuma causar uma sensação de desequilíbrio e até tonturas quando lá se entra — afinal, sempre nos custou mudar radicalmente de perspetiva —, mas, depois da desorientação inicial, os pormenores começam a poder ser vividos como deve ser. A casa foi construída não para ser só gira, mas para funcionar como um retrato crítico das condições políticas, sociais e culturais da Polónia durante o domínio da União Soviética, porque o país inteiro parecia estar de pernas para o ar. Soa familiar?
Upside‐Down House em Omsk, Rússia.
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Tem dois andares, loiça nos armários, comida no frigorífico e frango no forno. É a quinta Upside‐Down House construída por Igor Konchik e demorou apenas três meses a ser feita — o que nos leva a desconfiar da eternidade que os empreiteiros demoram a fazer obras nas nossas casas normais. Como está mesmo ao pé do bosque, tem uma cabana com utensílios de caça e um SUV estacionado no alpendre — porque não?
Café The Toppers’ House em Wertheim, Baden-Wuerttemberg, Alemanha.
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Pior café de sempre para quem não lida bem com manhãs. Ou melhor, depende da perspetiva (literalmente), porque finalmente há um lugar que materializa aquele sentimento de inadequação que tantos de nós sentimos nas primeiras horas de segunda-feira. É claro que todo este café está ao contrário, portanto todas as refeições são consumidas no teto – eu sei, isto soa estranho. Para além disso, todos os objetos – copos, canecas – foram desenhados para que pareçam de pernas para o ar, até porque, claro, precisávamos mesmo de mais pormenores que nos virassem o cérebro do avesso.
Upside-down House nas Cataratas do Niágara, Canadá.
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É muito difícil não dar por ela. Fica mesmo à beira da estrada que se passeia por Clifton Hill e quase parece que foi virada pelo tumulto das cascatas, mas afinal foi construída por Marek Cyran. O interior também está de pernas para o ar.
Wonderworks em Orlando, Flórida, Estados Unidos da América.
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Para quê casas ao contrário quando podemos ter mansões, não é? Pensemos em grande. Quando se entra na Wonderworks — por uma porta ao contrário, óbvio —, atravessa-se um túnel de inversão que nos leva para um universo paralelo. Não, lá dentro as coisas não estão ao contrário, mas conseguimos controlar objetos com as nossas ondas cerebrais, jogar laser tag ou soprar bolhas de sabão tão grandes como a mansão que acabou de nos baralhar os sentidos.
Pier 2 Art Center em Kaohsiung, Taiwan.
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Um armazém abandonado à beira do cais que agora é um centro de artes? A vida dá muitas voltas. Esta casa deu-as com ela.
Miner on the Moon em Londres, Reino Unido.
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Alex Chinneck gosta de fazer arte pública, arte que o espectador não pediu para ver, arte que lhe salta das paredes durante a rotina de um dia normal de trabalho e lhe muda a perceção do caminho que percorre todas as manhãs. Então, na fachada de um edifício originalmente construído em 1780, trabalhou a materialidade e a perspetiva e, com esta escultura pública, com esta instalação, mudou a vida de quem por ali passa e se deu ao trabalho de olhar e de ver — que são duas coisas completamente diferentes.
Tombée du Ciel, de Jean-François Fourtou.
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O artista francês já confessou que leu demasiadas vezes Alice no País das Maravilhas e As Viagens de Gulliver quando era criança. Também já confessou que queria ser arquiteto. E é por causa de tudo isto que a sua obra gravita em volta da distorção da dimensão e da proporção. Faz inúmeras experiências no seu ateliê em Madrid e na sua propriedade em Marrocos e esta casa Caída do Céu é uma ode ao lar dos seus avós em França, que levou ao Festival Fantastic Lille 3000, em 2012.
Artigo originalmente publicado na edição de junho 2019 da Vogue Portugal.