Choker Uriel
No atelier de Cata Vassalo, cada joia reflete o empoderamento de cada noiva e a singularidade de cada paixão. Em conversa com a Vogue Portugal, a designer conhecida como joalheira das noivas, reflete sobre o seu percurso e revela como as suas criações celebram a união entre duas partes de um só.
Nem todos os contos de fadas terminam com um “e viveram felizes para sempre”; por vezes, esse é apenas o início de uma nova história. O percurso de Catarina Vassalo, fundadora da marca de joalharia portuguesa Cata Vassalo, é a prova disso mesmo: no seu atelier, cada peça transforma e eterniza meros momentos em verdadeiras histórias de amor. Após vender o seu primeiro toucado no dia do casamento real de Kate Middleton e Príncipe William, inaugurou a sua própria marca e atelier em 2015. Desde então, tem construído um legado que celebra o amor e a individualidade através de peças para noivas e convidadas de casamentos carregadas de simbolismo e confiança. Em entrevista à Vogue Portugal, a designer convida-nos a explorar a sua visão criativa singular, numa conversa que revela a conexão entre a efemeridade das tendências e a intemporalidade de um bom (e belo) casamento.
Toucado Sidera
É conhecida como a joalheira das noivas, como é que este tipo de joias entrou na sua vida?
Como tudo na minha vida, diria que foi uma sucessão de felizes acasos. Todos nós crescemos a ver as Rainhas das monarquias europeias a usarem coroas e sentimos a magia e o empowerment inerentes a isso. Quando vivi em Inglaterra e em Espanha, estive ainda mais próxima dessa realidade porque ambos eram países com monarquia e casamentos reais. Antigamente, as noivas desses países tinham o hábito de casar com uma headpiece e depois do casamento de Príncipe William e Kate, essa tendência voltou e o interesse nas minhas peças cresceu. Hoje, as headpieces já fazem parte do mindset das noivas.
Criar peças de joalharia personalizadas para noivas acaba por ser uma grande responsabilidade. Como é que garante que o design das peças reflete as particularidades de cada noiva e que as joias fazem jus a um dia tão especial?
Diria que a resposta é um misto de experiência com saber ler e ouvir as pessoas que me escolhem. Já trabalho há tantos anos com noivas que sinto que já consigo olhar para uma pessoa e perceber logo aquilo de que gosta, aliado ao que melhor lhe vai ficar. Depois, existem sempre pequenos detalhes da sua história pessoal que é importante ouvir para compreender se existem elementos personalizados que podem enaltecer a sua personalidade, ou fazer jus a um momento ou simbolismo. Também queremos sempre saber como imagina o vestido, como quer levar o cabelo, entre outros elementos.
Com a passagem do tempo, sinto muito que as noivas que me procuram também querem ouvir-me e conhecer a minha opinião. Isso é algo que me orgulha mas que também faz com que esta relação que se estabelece, entre a minha marca e as noivas, seja especial.
E de onde vem a inspiração para criar este tipo de acessórios?
De um conjunto de fatores. Por um lado, como referi antes, da própria pessoa e da leitura que faço dela, conjugada com aquilo que partilha comigo. Por outro lado, a inspiração vem também muito dos materiais, da minha curiosidade e gosto em experimentar novas formas e técnicas de trabalhar ou de os manipular, de viagens, da união com diferentes artes, das interações com a minha equipa e dos designs que crio anualmente sob um conceito umbrella. Inspiração nunca me falta em nada na Cata Vassalo.
À esquerda: brincos Saule; ao centro: argolas Mini Blume; à direita: brincos Reverie.
Qual é a principal tendência de joalharia bridal para a próxima estação?
Posso dizer que não seguimos grandes tendências. O principal motivo é que tento sempre criar peças que representem as pessoas que as usam ou que imagino que vão usar e, por isso, existe sempre uma inspiração que se sobrepõem às tendências. Por outro lado, tenho a pretensão de criar peças que sejam intemporais e que não estejam datadas de nenhuma forma, para que possam ser usadas em momentos diferentes e por pessoas diferentes – quem sabe, ao longo de gerações.
De que forma é que a joalharia contribui para criar um look de noiva de sonho? Há algum tipo de joia que se adeque mais a um determinado tipo de noiva?
No nosso desfile anual, temos sempre uma sala a que chamamos a Sala da Experimentação. Nessa sala, que é repleta de espelhos, estão disponíveis vários tipos de peças – desde coroas a tiaras, e com diferentes elementos e dimensões. O objetivo é que as pessoas as experimentem. Na primeira edição, foi muito emocionante ver que, num primeiro momento, as pessoas tendem a escolher as peças que dizem para si mesmas que “nunca usariam” ou que são “too much” e pensam que vão tirar apenas umas selfies com elas. Depois põem-nas e mudam. O olhar muda, deixam de as encarar como algo para rir ou brincar e sentem imediatamente um empowerment em si. Isto não foi programado, mas a verdade é que é algo que desde então se sucede e que nos tem deixado muito conscientes sobre o impacto na autoestima e autoconfiança que uma peça statement traz a alguém. Também é algo que as pessoas que desfilam para nós na Utopia nos referem. No fundo, é isso que oferecemos a uma noiva: algo que a representa, que a faz sentir especial, mais empoderada, uma protagonista do seu dia e capaz de tudo.
Costumamos dizer que cada Rainha tem a sua coroa e que essa coroa pode ser, de facto, uma coroa, mas também pode ser uma pulseira, uns brincões, uma ombreira, um anel statement... Há sempre uma coroa para cada noiva – e para cada pessoa.
À esquerda: choker Sors; à direita: laço Atlas.
Vivemos num mundo em constante movimento: de que forma é que as tendências da Moda se traduzem para o universo dos casamentos?
É um mundo em constante movimento e com acesso a tudo facilmente. Neste sentido, tudo o que é novo viaja à velocidade da luz e nascem tendências muito rapidamente, mas também se esgotam com celeridade. Isso afeta todas as esferas da sociedade e todas as indústrias. No entanto, os casamentos tendem a ser dos eventos mais tradicionais, no sentido de que trazem consigo muitos rituais, símbolos e tradições que vão passando e que inevitavelmente se mantêm. Assim, apesar de uma noiva aceder a tudo isto, existe um certo tradicionalismo associado aos casamentos.
Sinto que, hoje em dia, há cada vez mais noivas a optarem por joias ousadas no seu grande dia, ao invés das propostas mais minimalistas típicas do passado. Como é que olha para esta evolução de escolhas de joalharia?
Acredito que tem sido um caminho cíclico. No passado, tínhamos peças muito statement, depois houve uma altura com peças mais sóbrias e subtis, algumas mais minimalistas. No geral, ainda sinto que existe um caminho grande pela frente até às opções mais icónicas. Ainda existe a mentalidade que tentamos derrubar com ações como a Sala da Experimentação que vos falava. Ainda continuamos a sentir que existem coisas que não são para nós, que nunca vamos usar, que não temos espaço para as usar na nossa vida e que devem ficar só reservados aos outros. Não é verdade. Seja num casamento, seja numa saída à noite, numa festa de 18, de 40 ou de 80 anos, temos que usar aquilo que nos faz sentir especiais sempre.
À esquerda: toucado Apertio; à direita: coroa Adventus.
Em termos de joias, o que separa um casamento de verão de um casamento de inverno?
Pessoalmente, gosto muito de casamentos de inverno e adoro imagens desses momentos. As noivas de inverno tendem a “carregar” mais nas suas escolhas. Têm inevitavelmente vestidos mais pesados e, por isso, permitem-se arriscar mais. Adoro ver uma noiva de inverno com uma capa cheia e uma coroa como se fosse uma Rainha do Gelo. As noivas de verão tendem a ser mais leves, a olhar mais para o outdoor e, por isso, as jóias acompanham essa opção.
Entre ganchos, toucados e coroas, que histórias contam cada peça de joalharia Cata Vassalo?
Muitas histórias. As histórias das pessoas que nos escolhem, da evolução das nossas técnicas e materiais, das nossas próprias experiências, evolução e amadurecimento e também as nossas histórias pessoais. Costumamos dizer que nunca existem duas peças iguais porque de uma mesma mão nunca saem duas iguais. Por um lado, porque é realmente irreplicável tudo o que é feito manualmente, por outro, porque pomos tudo de nós nessa produção. E nós - e a nossa alma - vamos variando com os dias, as estações, os anos. Entre sentimentos, emoções, experiência e fases de vida.
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