Inspiring Women  

Dia da Mulher | 5 mulheres que mudaram a história da Arte (e de Portugal)

04 Mar 2024
By Vogue Portugal

Amália Rodrigues em Paris, a 20 de junho de 1985 | © Getty Images Jean-Jacques Bernier.

A Arte é capaz de mudar o mundo, em todas as suas diversas expressões. Com a chegada do Dia Internacional da Mulher, vale a pena relembrar alguns nomes marcantes de artistas portuguesas.

Através da poesia partilham-se ideias; da pintura e arte plástica expressam-se emoções; e por intermédio da música tocam-se almas. Durante séculos mulheres portuguesas conseguiram todos esses feitos através da sua arte. O Dia Internacional da Mulher celebra-se a 8 de março e muitas das conquistas sociais, políticas e económicas foram conseguidas por meio da expressão artística. Por isso, vale a pena recordar alguns dos nomes mais importantes da nossa história - de Portugal, e das mulheres portuguesas.

Natália Correia

Nasceu nos Açores em 1923 e aos 11 anos chegou à capital. Foi durante alguns anos jornalista no Rádio Clube Português e colaborou no jornal Sol. Natália Correia foi uma mulher de vários ofícios: poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora - sendo que seu primeiro romance foi uma narrativa infantil, Grandes Aventuras de um Pequeno Herói. Fundou o icónico Bar Botequim onde durante 10 anos se reuniram, em tertúlias, grandes nomes do universo intelectual português. Teve notória intervenção política participando ativamente em movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo sido condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação do livro Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, que foi considerada ofensiva dos costumes. Faleceu a 16 de Março de 1993, e foi uma eterna indefinida a nível artístico, com algumas pessoas consideram a sua escrita surrealista, outros barroca, e alguns como romântica (a forma preferida da autora), mas a realidade é que Natália Correia não precisava de definição: foi uma escritora original e versátil, não podendo ser rotulada por nenhuma escola literária.

Natália Correia no início dos anos 80
Inácio Ludgero /Visão

Paula Rego

Paula Rego nasceu a 26 de janeiro de 1935, numa família com ligações culturais a Inglaterra e França. Bastante cedo viu o seu talento artístico ser reconhecido pelos seus pares, e após o ensino secundário decidiu prosseguir com os seus estudos fora do país (e também longe do regime), em Londres, onde estudou na Slade School of Fine Art. Regressou a Portugal e criou novas obras de arte, participando ocasionalmente em exposições inglesas. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian onde se deu a conhecer publicamente em 1961, numa exposição. Em 1975, inspirada pelos contos populares portugueses, recebeu uma nova bolsa da Fundação, tendo começado a desenvolver uma intensa pesquisa, da qual criou a série de guaches de Contos Populares Portugueses. Depois desse impulso inicial, Paula Rego continuou a criar e a expor as suas obras em alguns dos mais icónicos museus do mundo, como o Tate Museum, as Galerias Serpentine, o Museu de Serralves, o Victoria and Albert Museum e a National Gallery. Politicamente foi também bastante interventiva, tendo demonstrado o seu desagrado com o resultado do primeiro referendo ao abordo, pintando a obra Aborto, que, pelo choque, abriu novamente a discussão sobre o tema na imprensa portuguesa. Faleceu em 2022 e trata-se de um nome marcante cultural e artisticamente, tendo sido homenageada sucessivamente, tanto em Portugal como no estrangeiro, pelas mais variadas representações estatais.

Paula Rego
via @paularegostudio

Amália Rodrigues

Foi cantora, atriz e fadista. Ficou conhecida pelo título de Rainha do Fado, e devido ao impacto do género musical na nossa cultura, foi também nomeada como uma das melhores embaixadoras de Portugal no mundo. O seu trabalho foi especialmente marcante, não só por dar voz a um estilo tão próprio, mas pela novidade que introduziu ao cantar poemas de autores portugueses de renome, como é o caso de Luís de Camões. A sua carreira no mundo da atuação, começou no Teatro Real de Madrid, tendo ficado mais tarde em cartaz durante oito meses no Casino Copacabana. Estreou-se no cinema com o filme Capas Negras, que é considerado o maior marco no cinema português até hoje. Até à sua morte, que ocorreu em outubro de 1999, Amália Rodrigues tinha 10 álbuns editados com o seu nome, em 30 países, tendo vendido mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo - um número que representa só 3 vezes mais do que a população portuguesa, fazendo dela uma das artistas portuguesas mais marcantes do século XX.

Amália Rodrigues
© Getty Images / Rita Barros

Helena Almeida

Nasceu em Lisboa em 1934, tendo terminado o curso de pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1955. Helena Almeida depressa revelou alguns detalhes da sua obra futura: em 1967 expôs individualmente pela primeira vez, com pinturas tridimensionais, em que inverteu componentes físicas da pintura. A partir de 1969, a pintora expressa o seu desejo de ver a arte como auto representação,"o desejo de que a pintura e o desenho se tornem corpo, de que se anule a distância entre corpo e obra". A partir de 1975, junta a fotografia, o desenho e a pintura na sua prática artística. Em 2001, com a obra Dentro de mim, em que colou um espelho estreito, vertical, ao seu corpo a artista afirmou o seu “ desejo de que o corpo se prolongue, que saia e ultrapasse os seus limites físicos". A realidade, é que tanto a pintura como o desenho são essenciais para o entendimento do trabalho de Helena Almeida, mas nas décadas de 1970 e 1980 a escultura e a performance também são linguagens a que devemos recorrer se queremos pensar e entender algumas das suas obras posteriores, onde se foca na relação entre o corpo e o espaço. Faleceu a 25 de setembro de 2018, sendo autora de uma obra multifacetada. Em 2018 esteve em destaque no Tate Modern em Londres, num espaço focado na relação entre o indivíduo e a obra de arte.

Pintura habitada (1976), Tinta Acrílica e Fotografia, 40 x 30 cm.
Helena Almeida

Sarah Affonso

Sarah Affonso, nome artístico de Sara Afonso, nasceu em Lisboa, tendo vivido alguns anos em Viana do Castelo. Tal como Helena Almeida, estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, tendo sido aluna de Columbano Bordalo Pinheiro. Viveu em Paris durante dois períodos da sua vida, e voltou a Lisboa, onde se integrou no ambiente artístico da capital. Pertenceu à segunda geração de pintores modernistas portugueses, tendo exposto no I Salão dos Independentes, e frequentando as tertúlias de A Brasileira, que até então era um território tipicamente masculino. Em 1934 casou-se com Almada Negreiros. Nos primeiros anos de casamento desenvolve o que será a parte mais importante da sua obra pictórica. Dos retratos de meninas e mulheres e das paisagens urbanas passa para composições que incorporam motivos antes utilizados nos bordados, oriundos da cultura e imaginário populares. Evoca, a partir da memória da infância passada no Minho, costumes e mitologias populares. Abandonou a sua paixão pela pintura em 1940, por razões pessoais, mas também pela insegurança profissional e a falta de condições de trabalho Continuou a dar apoio ao seu marido e participou ainda na Exposição do Mundo Português em 1940.

Família (1937), Tela e Óleo
Sarah Affonso

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