Com o lançamento do seu segundo trabalho discográfico no horizonte, a Vogue conversou com Dua Lipa, uma das artistas femininas mais ouvidas do mundo, para falar sobre política, música pop e o empoderamento dos mais jovens.
Com o lançamento do seu segundo trabalho discográfico no horizonte, a Vogue conversou com Dua Lipa, uma das artistas femininas mais ouvidas do mundo, para falar sobre política, música pop e o empoderamento dos mais jovens.
A rápida ascensão de Dua Lipa ao sucesso mundial tem sido inesperada. Certamente ninguém, e muito menos a própria Dua, poderia ter previsto uma trajetória tão extraordinária desde que entrou de forma silenciosa, mas assertiva, na consciência da música pop em 2015, com o single de estreia New Love. No início de 2018, Dua tornou-se na artista feminina mais ouvida do Spotify - a música New Rules arrecadou, sozinha, mil milhões de reproduções, enquanto que o vídeo de IDGAF já conta com 500 milhões de visualizações no YouTube. Em 2018, Dua venceu dois Brit Awards, seguido de mais um este ano, e ainda levou para casa dois Grammys em 2019. Nada mau para uma miúda do norte de Londres.
O sucesso de Dua Lipa não é simplesmente prémio atrás de prémio. O seu álbum auto-intitulado foi - e continua a ser - muito bom de se ouvir. O disco entrega melodia após melodia, de baladas emocionantes a hinos de auto-empoderamento, com críticos a descreve-lo como uma “estreia fantástica” e a própria cantora como uma “verdadeira sensação pop”. Dua, que nos fala desde Los Angeles na manhã da sessão fotográfica para a Vogue, é ao mesmo tempo considerada e depreciativa sobre o seu sucesso, explicando que escreveu muitas das suas músicas quando era adolescente. “Para o meu primeiro disco, tudo o que eu pude fazer foi chorar e dançar muito”, ri-se (Dua ri muito frequentemente). “Foi muito mais fácil para mim escrever sobre as coisas que me deixavam infeliz, porque elas ficaram na minha mente por mais tempo.” Tendo completado 24 anos em agosto, a cantora promete que o seu segundo álbum será um pouco mais “conceptual” e “maduro”, antes de decidir com outra exclamação que é também uma “aula de dança. É divertido.”
Depois de se mudar de Londres para o Kosovo, de onde a sua família é originária [Dua Lipa nasceu na capital britânica], aos 12 anos, convenceu o pai, um ex-cantor de rock, e a mãe, que trabalha na indústria do turismo, a deixá-la voltar sozinha para a capital do Reino Unido aos 15 anos. Voltou e ficou na casa de um amigo da família e foi estudar para a Sylvia Young Theatre School. Para se sustentar, fez trabalhos como modelo, enquanto fazia upload de covers de Jammie XX e Mila J no YouTube. Quatro anos depois, Dua estava na periferia da fama, não apenas no Reino Unido, mas de uma maneira incomum para uma artista britânica, também nos Estados Unidos da América. Desde que se tornou bem sucedida, usa a sua plataforma para mudanças positivas, seja para criar uma academia, a Sunny Hill Acadamy, na capital do Kosovo, Pristina, seja para conversar sobre a disparidade de género na indústria da música. Dua Lipa é uma estrela pop com propósito, uma jovem determinada a desafiar e abordar questões globais, com capacidade para empoderar a sua fanbase jovem.
Aqui, a cantora conversa com a Vogue sobre o seu crescimento na indústria e sobre o que vem a seguir.
Aqui estamos nós, acredito, que a algumas semanas de lançar o segundo álbum. Como é que a Dua se sente?
Estou em Los Angeles a terminar algumas músicas e estou muito entusiasmada. Mas também estou muito nervosa (risos). Com o primeiro álbum, não havia expectativas, mas agora há muito mais pressão. Todos falam de como é difícil e louco construir um segundo álbum, mas no que diz respeito à parte de o escrever é muito mais fácil. Sinto que me conheço muito melhor agora. Sei sobre o que quero escrever e sei como expressar os meus sentimentos. Sei como é que posso falar sobre as coisas e como posso ser vulnerável.
O álbum de estreia foi um pop muito sólido. Como é que reflete sobre o Dua Lipa quatro anos depois?
Foi uma grande parte da minha vida. O que eu mais gosto no álbum é o facto de ser um disco pop muito eclético. Experimentei imensas sonoridades. O meu novo álbum continua a ser pop, e é muito divertido, mas é definitivamente mais conceptual. Tinha a faixa-título e foi a partir daí que o construí. Depois de o ouvir sinto que é uma verdadeira aula de dança (risos). Não estou a tentar levar-me muito a sério, mas enquanto álbum é muito mais maduro que o anterior. Estou muito entusiasmada por voltar. Estou pronta! Já estamos em contagem decrescente.
Anteriormente, mencionou que o Prince influencia muito este novo disco.
São, definitivamente, músicas interessantes e com um feeling nostálgico. Tenho ouvido muito Prince, Outkast, Gwen Stefani e No Doubt. Soa muito como uma mistura louca de estilos musicais, mas é assim que gosto de fazer as coisas. A justaposição é um fator comum em tudo aquilo que faço.
Estive a ler algumas reviews do primeiro álbum, e o The Guardian deu três estrelas. Fiquei surpreendida, porque acho que foi um disco muito sólido e forte. A Dua lê as reviews?
Leio às vezes, especialmente quando são concertos, porque coloco muito esforço e tempo em cada pequena parte. Por vezes, leio determinadas reviews e rio-me muito porque há uma discrepância enorme de género. Já fui a concertos - não vou dizer nomes - de homens que sobem a palco, cantam as músicas e não fazem mais nada, mas sabe-se lá como conseguem cinco estrelas! Como mulher, és criticada em tantos aspetos. Sinto que se um homem fizesse o que eu faço em palco iria ter reviews espetaculares. Enquanto mulheres, temos que trabalhar um bocadinho mais, e não é uma coisa sobre a qual sinta vergonha. Estou sempre pronta para provar o quão errados estão.
Em que mais situações já se deparou com a disparidade de géneros enquanto cantora?
Há muitas artistas novas incríveis e muita música incrível a ser feita por mulheres fortes, tornando-se impossível de ignorar. É muito bom ver que há cada vez mais mulheres a serem nomeadas em premiações e a vencer categorias importantes. As pessoas estão a começar a acordar, mas ainda há muita desigualdade no mundo. Às vezes sinto que, por ter sido criada em Londres, moro nesta pequena bolha. Quando vim para a América e viajei para outras partes do mundo, vi muito mais. Fico chocada que isso seja uma realidade. São coisas sobre as quais falo e luto constantemente. Mesmo quando entendo a desigualdade, é algo que ainda me choca.
A Dua vem de um legado de protestantes: o seu avô foi Seit Lipa, o líder do Instituto de História do Kosovo, que se certificou que as histórias das pessoas fossem ouvidas.
Sim, nasci numa família de imigrantes e numa família que sempre me disse para não me esquecer das minhas raízes e de me sentir orgulhosa disso. Com tudo o que está acontecer no mundo, é muito natural para mim falar sobre as injustiças que vou vendo. Falo muito sobre o que é realmente importante para mim.
A Dua e a sua família estão a investir imenso no Kosovo com a Academia Sunny Hill e o Festival Sunny Hill, que dá espaço a novos talentos…
O nosso objetivo desde o princípio era um dia fundar uma academia no Kosovo, o que foi possível depois da edição deste ano do festival. Queríamos construir um estúdio onde os mais novos pudessem ensaiar e gravar; no fundo, um espaço seguro para eles. É uma experiência completamente livre. Demorou alguns anos até que os presidente da Pristina nos cedesse um espaço. No ano passado, doamos as receitas do festival para ONGs que nos são muito queridas. Este ano tivemos, finalmente, a oportunidade de criar este espaço que vai estar devidamente pronto em 2020. A Quince Jones Music Academy de Los Angeles foi muito gentil ao ceder-nos três bolsas de estudo para três jovens do Kosovo da Sunny Hill para estudar em LA, uma ação que vamos conseguir fazer todos os anos. Há muito talento no Kosovo, então queremos ter a certeza de que estes jovens têm oportunidade.
A Miley Cyrus foi cabeça de cartaz do festival. Qual é o aroma dela?
Ela tem um ar de sexy glittery rock star.
Quais são os novos nomes na cena musical pelos quais está entusiasmada?
Adoro a Rosalía, a Lizzo, Billie Eilish, os Barny Fletcher, Tierra Whack, Loyle Carner, o novo álbum do J Cole, Revenge of The Dreamers III, é muito bom. Estou obcecada. Os Brockhampton têm lançado umas músicas muito cool. Megan Thee Stallion é muito bom. Ah, as novas músicas do Bon Iver são incríveis, assim como as do Jai Paul. Como podes ver é uma mistura. Eu adoro música e sou inspirada por diferentes sons e por tudo aquilo que está acontecer. DaBaby é um rapper que não conhecia muito bem, mas que fiquei fã, ele é muito divertido. O novo álbum do Skepta é amazing. O álbum dos The Dave...
Já trabalhou com um grupo muito eclético de músicos, das Blackpink ao Wizkid e Diplo. Com quem é que gostou mais de trabalhar? Com quem aprendeu mais?
É difícil responder a essa questão, porque com todas as pessoas com que já trabalhei, acabei por me tornar amiga…
Com o Sean Paul também?
Ele manda-me mensagens, então sim (risos). Somos amigos, sim, ele é muito querido. É louco para mim pensar nisso, porque me lembro de ouvir a Baby Boy e agora somos… amigos! Adoro trabalhar com o Calvin Harris, saio muito com ele. Vou até ao estúdio e mostro-lhe as minhas novas músicas, gosto do feedback dele. Há qualquer coisa de mágico na indústria musical do momento, onde sentes que os artistas estão mesmo a apoiar-se uns aos outros. Não há tanta competição porque cada um é único à sua maneira. É uma energia muito boa.
A Dua é uma das artistas femininas mais ouvidas do mundo…
Assustador.
As suas músicas somam um total de cinco mil milhões de reproduções. Como é que perceciona o seu sucesso nestes termos?
Estou muito grata pelo facto das pessoas querem ouvir as minhas músicas e por as tocarem nas festas. Os números são inacreditáveis e enquanto estive no processo de escrita deste álbum não pensei nisso, e isso é incrível. Isso faz com que trabalhe mais arduamente. Quero voltar e fazer com que as pessoas se sintam orgulhosas. O último concerto que dei foi em dezembro, isso foi há oito meses. Estou há nove meses a escrever no meu refúgio.
Isso acrescenta uma dose extra de pressão no que diz respeito ao processo de criação do novo álbum?
Claro, mas ao mesmo tempo há tanta coisa que eu consigo fazer. Quando faço música, ouço-a vezes sem conta, faço vídeos e vejo-os muitas vezes. Mas assim que lanço músicas elas pertencem aos outros. É assim que perceciono isso. Gosto que as pessoas tenham a oportunidade de acolherem as minhas músicas e que façam sentido para elas. A música tem que viver por ela. Não gosto de explicar o que é que a minha música significa para mim, não quero que isso influencie o significado que cada pessoa lhe dá.
Qual é a sua música de break-up?
A Retrogade do James Blake é a música que ouço sempre. É uma daquelas músicas que encaixa perfeitamente em todos os momentos, é uma música muito especial. Às vezes, quando Mercúrio está retrogrado, é a música perfeita.
Os seus pais parecem estar tão apaixonados. Como jovem na era das aplicações de encontros, pode a geração da Dua sentir o amor como os seus pais?
Acho que sim. Os meus pais criaram expectativas irrealistas e loucas do amor. Eles são muito apaixonados e a maneira como eu e os meus irmãos vemos esse vínculo é muito bonito. Provavelmente é por isso que amamos tanto e somos muito abertos no que diz respeito ao amor. Às vezes isso é uma benção, mas também uma maldição. Apesar disso, e acima de tudo, é uma benção. É muito melhor poder viver a vida sendo aberta ao amor, ao invés de viver constantemente com medo do amor. As pessoas podem magoar-se com o amor, mas ao mesmo tempo há muita coisa boa no mundo. Eu acredito firmemente no amor. Só precisamos de encontrar a pessoa certa para passar a nossa vida.
Já foi fotografada a vestir tudo, desde um bucket hat a um vestido Valentino Alta-Costura. Como é que descreve o seu estilo?
Confuso (risos)? Eclético? Aquilo que encontrar na minha mala naquele dia? É, sobretudo, sobre vestir aquilo que for mais confortável naquele momento. Quando estou em digressão gosto de apoiar novos designers em palco. Se se trata de uma gala, gosto de vestir um grande vestido Valentino. Gosto de me divertir com a Moda. Não tenho uma resposta para descrever o meu estilo. Um dia quero vestir coisas fofinhas, no outro quero estar de fato de treino e ténis.
Tem alguma peça-chave?
Encontrar um bom par de jeans é difícil. Mas quando tens aqueles jeans que combinam com tudo, sabes que esses são os vencedores.
Por falar em jeans, o que é que inspirou a mais recente coleção Pepe Jeans x Dua Lipa?
É tudo sobre os anos 90, Londres e festivais. Gosto muito do Glastonbury. Fui nos últimos cinco anos. Adoro. Adoro a liberdade, a jovialidade, a descontração. Todas as peças nesta coleção são uma extensão do meu estilo pessoal, que se une àquilo que acho que os meus amigos e fãs iam gostar de vestir. Tem sido muito divertido idealizar esta coleção, estou muito entusiasmada para ver o que as pessoas vão achar.
Então, a Dua Lipa é a nova Victoria Beckham?
(Risos) Eu tenho o corte de cabelo da Posh Spice - quem sabe, isto pode ser um chamamento. Mas não. Eu vou ficar pela música. Este é um projeto divertido para fazer no tempo livre, onde posso ser criativa, que é algo que eu adoro ser. Criar a minha linha de roupa é muito especial.
Enquanto estrela pop já alcançou muito, mas, por outro lado, também sentiu muita pressão. O que é que faz para tomar conta do seu bem-estar mental?
A minha família e os meus amigos mantém-me uma pessoa terra a terra. Aprendi a usar as redes sociais em pequenas doses. As redes sociais estão muito presentes na minha geração, e para mim é muito divertido publicar fotografias e estar no Twitter. Mas também recebi muita negatividade por falar sobre política e assuntos que me são muito queridos. Não sou daquelas pessoas que pede desculpa por dizer aquilo em que pensa e acredita. Às vezes apago a aplicação para não pensar muito no assunto. Os trolls podem dar-te muita ansiedade.
Aquilo que me mantém ativa nas redes sociais - e isto é mais no Twitter do que no Instagram - é o contacto que posso criar com os meus fãs. Eles são a razão pela qual voltei a instalar a aplicação, para poder comunicar com eles. Os meus fãs conhecem-me muito bem e às vezes recebo mensagens a dizer: “Nós sabemos que precisas de um tempo fora do Twitter, só queríamos dizer-te que sentimos a tua falta.” E isso é tudo na vida. É preciso saber manter o equilíbrio. Não podes estar sempre certa, mas podes sempre tentar.
A coleção Pepe Jeans x Dua Lipa vai estar disponível a partir do dia 3 de setembro, em pepejeans.com.
Ficha técnicaFotografia de Cameron McCool Styling de Max Ortega Govela @ CLM Cabelo: Sami Knight @ Starworks Maquilhagem: Lilly Keys @ Exclusive Artists Nail Artist: Kimmie Kyess @ Celestine Produtor executivo: Carolina Takagi Diretor de arte: Sandra Leko Agradecimentos especiais a Carl Fysh