Backstage do desfile Buzina x Tous primavera/verão 2025, na ModaLisboa. Fotografia de Miguel Canhoto.
Com o Pátio da Galé como cenário principal, os criadores portugueses assumiram o controlo da passerelle da ModaLisboa para apresentar coleções que honraram o saber-fazer português e provam que a Moda nacional tem um lugar de peso na próxima estação quente.
A Moda portuguesa tomou novas proporções quando, nos passados dias 10 a 13 de outubro, os principais designers nacionais apresentaram as suas coleções para a primavera/verão 2025 na passerelle da ModaLisboa. A 63º edição do principal evento de Moda em Portugal apresentou-se sob o mote Singular e multiplicou-se pela capital numa homenagem à relação entre a cidade de Lisboa e a pluralidade criativa da Moda. Ao todo, foram mais de 20 desfiles que, durante o fim de semana, mostraram o melhor da Moda portuguesa.
Como é já habitual, esta edição da ModaLisboa contou com o Pátio da Galé como palco central; no entanto, foi pelos corredores do recém-inaugurado Mude que vimos apresentadas as propostas dos 10 designers emergentes concorrentes da iniciativa Sangue Novo – o concurso que visa estabelecer novos talentos na Moda e que, como manda a tradição, inaugurou a passerelle do evento.
Oficialmente iniciada a viagem pelas coleções portuguesas para a primavera/verão 2025, Constança Entrudo – um dos nomes que está a levar a etiqueta made in Portugal para lá das fronteiras nacionais – transportou-nos para uma realidade imersiva, pós-apocalíptica e estranhamente idílica. A coleção da designer, intitulada de S.O.S., celebra a liberdade do movimento com tecidos com elasticidade, bainhas ondulantes e padrões criados através das páginas frágeis de uma edição da revista Life dos anos 50. Com peças que evocam um fim do mundo passado à beira-mar, a coleção destacou as técnicas têxteis de assinatura da marca e propôs uma narrativa visual única e consistente dos pés à cabeça – não fosse o calçado uma colaboração com a Timberland, que viu as suas icónicas botas amarelas personalizadas com elementos alusivos ao tema da coleção.
Numa continuação da celebração do saber-fazer português, a apresentação da Portuguese Soul pela Apiccaps uniu a alma do design de calçado com o artesanato nacional. Numa missão de evidenciar a singularidade de cada par de sapatos, o evento juntou oito marcas portuguesas e contou com nomes como Carlos Santos, Sanjo, Miguel Vieira e Ambitious, que nos mostraram algumas das suas novas propostas ao som de uma performance do pianista Máximo Francisco.
Chegados finalmente ao Pátio da Galé, as propostas de Mestre Studio para a primavera/verão 2025 evocam o poder da memória através de malhas e coordenados coloridos que nos remeteu para as casas dos nossos avós. Já Arndes apostou numa paleta de cores sóbria e apresentou uma coleção inspirada na prática do colecionismo, que incluiu um top detalhado com óculos de sol e frascos de perfume.
Com uma interpretação mais eclética da estética que se teceu ao longo do evento, a coleção de Carlos Gil homenageou as raízes do criador. Com propostas que contaram uma história do topo ao fundo do mar, o designer apresentou peças numa variedade de padrões vibrantes que celebram a dualidade entre a criatividade e o legado da marca. Na mesma linha de pensamento, a coleção de Kolovrat foi uma carta de amor a Portugal, e refletiu a forma como, ao longo de 30 anos, a vida de Lidija Kolovrat em território nacional a moldou como designer. Numa coleção com peças que levavam o coração literalmente ao peito, as propostas da marca para a próxima estação quente contaram uma história assente nas notas e ideais do fado, com peças com franjas, silhuetas exageradas e padrões com motivos tradicionais.
Num desfile no qual a joalharia foi também protagonista, a colaboração entre Buzina e Tous provou que o styling pode (e deve) fazer a diferença em qualquer look. A coleção apresentou peças Tous personalizadas em exclusivo para esta parceria: como um cinto statement criado com anéis e enriquecido com pedras ónix e correntes banhadas a ouro de 18 quilates. No vestuário, Buzina brilhou numa paleta em tons terracota com apontamentos em azul e propôs peças repletas de volumes e transparências que evocam a ousadia e a sofisticação dos anos 80.
Um dos momentos mais aguardados da noite, a coleção de primavera/verão 2025 de Luís Carvalho virou a página para um novo ciclo e uma nova década na história do designer. Com um espetro cromático que se destaca pelo contraste entre o preto e o branco, pela dualidade entre o rosa e o azul e pela imensidão do amarelo, as propostas de Luís Carvalho seguem uma estética que celebra a união entre a arte e o design através de peças com silhuetas retas e oversized, padrão polka-dots e detalhes em formato de recortes e encaixes. Já Béhen, que encerrou a passerelle da ModaLisboa no sábado, voltou a provar o porquê de se ter vindo a estabelecer como um dos nomes mais marcantes na Moda em Portugal: numa reflexão de tudo o que é verdadeiramente português, as novas propostas da marca destacaram o saber-fazer nacional com elementos tradicionais e referências que entrelaçam o passado, presente e futuro. Com bordados feitos à mão no estúdio da marca e uma paleta de cores regida pelo branco e preto, a nova coleção Béhen deu uma nova vida à identidade lusitana, e deixou brilhar o amor e a ternura inerentes ao artesanato português.
No último dia da ModaLisboa, o calçado voltou a ser protagonista. O regresso de Luís Onofre à passerelle do Pátio da Galé trouxe-nos propostas de sapatos com detalhes metalizados e formatos ousados, que apelam à magnitude das emoções e espelham a admiração do criador português pelo universo feminino. De regresso ao vestuário, os visuais retro dos anos 80 voltaram a pisar o palco do evento através da nova coleção de Luís Buchinho. Com uma coleção em tons neutros e pops of colour verde wasabi, o designer apresentou peças com silhuetas fluídas, materiais acetinados e padrões geométricos inspirados no design gráfico da época.
Numa verdadeira expressão artística, a coleção de Valentim Quaresma foi uma ode à criatividade: o designer apresentou peças de metal ornamentadas, que teceram a linha entre a arte e a Moda e honraram a mestria do saber-fazer nacional. Já Gonçalo Peixoto manteve-se fiel a si próprio: como é já costume, o designer encheu a sala principal do Pátio da Galé de brilhos, e apresentou uma coleção de primavera/verão com peças reluzentes em tons de rosa, laranja e azul.
Por fim, Dino Alves encerrou a passerelle da semana da Moda de Lisboa com uma coleção que espelha a contradição entre as duas forças opostas que condicionam a vida humana. Nesta dualidade entre o bem e o mal, ou entre a luz e a escuridão, as propostas do designer exploraram as múltiplas facetas da nossa realidade através de peças com transparências e rendas criadas a laser que evocam a dicotomia entre a honestidade e a austeridade. Num autêntico jogo de cores, a coleção de Dino Alves foi a representação em desfile do espírito da 63ª edição da ModaLisboa: singular e nacional.