Arts Issue
“We always project into the future or reflect in the past, but we are so little in the present.” - Marina Abramović
Quando a poeira dos séculos assenta, o que resta de cada civilização não são os seus dogmas e as suas ideologias, nem as suas razões para ir à guerra, mas as suas artes – os símbolos e a expressão da busca de significado e de um sentido na vida, são provavelmente os registos históricos mais fiéis e mais profundos, do ponto de vista humano. Um artista também é uma espécie de historiador emocional ou espiritual. A Arte vive continuamente; os seus nomes, as suas formas, os seus usos e os seus significados.
Marina Abramović
Branislav Simoncik
O seu testemunho sobrevive inalterado, em tudo o que importa, através dos tempos. Mesmo em tempos de crise, de violência, de caos generalizado como os que vivemos. Sobrevive a governos, a credos e a sociedades, até mesmo à própria civilização onde surgiu. E nunca pode ser totalmente destruída – é o que se encontra novamente, quando as ruínas forem removidas. A vida humana pode ser puro caos, mas um dos poderes da Arte é pegar nesses pedaços de coisas díspares, coisas que parecem inconciliáveis, e colocá- las juntas numa “moldura” para lhes dar algum tipo de forma e significado. Por vezes, entendemos muito pouco do que está a acontecer connosco num determinado momento e só passado algum tempo conseguimos olhar para trás, viver as consequências, e finalmente entender o que um acontecimento realmente significou, e o que estava a tentar ensinar-nos.
Giulia
Branislav Simoncik
A rotina diária da maioria dos adultos é tão pesada, e artificial, que eles acabam por ficar fechados para grande parte do mundo. A Arte é uma das mais poderosas formas de resgate. Quando ouvimos música, poesia ou histórias, quando contemplamos uma pintura ou nos perdemos nos movimentos de uma coreografia, o mundo abre-se novamente. “Somos atraídos para dentro – ou para fora – e as janelas da nossa perceção são limpas", como disse William Blake.
Avery Richardson
Alessandro Esposito
A verdadeira Arte perturba-nos, acorda-nos das nossas rotinas, cria novas reservas de esperança e novas perspetivas, recupera a nossa capacidade de descobrir beleza onde não já não a reconhecíamos. A criatividade artística é pessoal, apaixonada e apaixonante. E a verdadeira Arte ressoa no espectador, não apenas no criador. Pintura e poesia, música e dança, design e moda... todas as formas de Arte definem o que somos como sociedade e fornecem um relato, negro ou luminoso, da nossa história, para a próxima geração. Sem cultura, e sem a liberdade de expressão que ela implica, a sociedade, transforma-se numa selva autodestrutiva dominada pela censura. A Arte genuína tem uma alma corajosa, que ousa e desafia, procura a verdade e não pode ser silenciada, nem cancelada. É por isso que qualquer criação autêntica é um presente para o futuro.
Kirsi Pyrhönen
Élio Nogueira
E o futuro é uma tela em branco, com possibilidades ilimitadas... pintada por todos nós.
Originalmente publicado no Arts Issue, de novembro 2023. For the English Version, click here.